Tamo Junto! #USDBRL
Eu comentei inúmeras vezes meu ceticismo em relação ao
indicador mais usado no mercado de ações: o P/L. Não existe analista ou
investidor que não cite esse indicador ao fazer algum comentário sobre a bolsa
de valores, como se fosse uma verdade absoluta: P/L acima de X é caro e abaixo
de Y é barato — pode substituir o X e o Y de acordo com suas ideias. De cara,
surge uma questão: o L deve ser baseado nos lucros atuais ou futuros? Depende
do interesse; se você quer mostrar que a bolsa está cara, usa o atual; caso
contrário, se quer sugerir que está barata, usa o futuro. Quando a empresa é
classificada como "Growth", ainda entram considerações subjetivas.
Mas por qual razão o Mosca é tão cético se todo mundo usa?
Vamos a um exemplo simples: qual era o P/L da Nvidia em 2014? Perguntei ao
ChatGPT:
Em 2014, a Nvidia Corporation (NVDA) ainda estava em uma
fase de crescimento significativo, mas sua posição no mercado e seus dados
financeiros não eram tão expressivos quanto nos anos seguintes, com a expansão
acelerada das tecnologias de inteligência artificial e computação gráfica.
Abaixo estão os principais detalhes financeiros da Nvidia em 2014:
- Receita (Revenue): A receita total da Nvidia em 2014 foi
de US$ 4,68 bilhões.
- Lucro Líquido (Net Income): O lucro líquido anual foi de
US$ 631 milhões.
- EPS ajustado: O lucro por ação foi de US$ 1,12 por ação.
- Em 2014, o preço das ações da Nvidia variou de cerca de
US$ 161 a US$ 20 durante o ano. No final de 2014, o preço das ações
estava em torno de US$ 20.
1Após o desdobramento de 10 por 1,
esse valor corresponde aos preços atuais de US$ 1,6 a US$ 2,0.
- Seu P/L variou entre 14,69 e 17,86.
Dado o que aconteceu nesses últimos 10 anos, para que serviu
analisar o P/L da "queridinha"? E quanto às ações que definharam nesses
últimos 10 anos? Muito bem, vejam a lista das que foram expulsas do top 10:
Exxon, General Electric, AT&T, Procter & Gamble e Chevron, e a evolução
do seu Market Cap.
Nem preciso continuar!
O Mosca recebeu o apoio de ninguém menos que o CEO do
JPMorgan, Jamie Dimon, que durante a divulgação dos resultados na última
sexta-feira deixou escapar (ou propositadamente disse): parem de se preocupar
com besteiras dessas projeções! Veja o artigo de Jonathan Levin na Bloomberg –
que também concorda.
As principais teleconferências corporativas são acompanhadas
por dezenas de analistas de Wall Street, cujo trabalho é manter modelos
detalhados de ganhos e avaliações, cheios de minúcias. Trimestre após
trimestre, eles preenchem suas planilhas com suposições de receita e custos
para prever exatamente qual será o lucro por ação, meses e anos no futuro. Mas,
às vezes, essa busca pelo modelo ideal pode fazê-los perder o todo em meio aos
detalhes. Pelo menos é assim que o CEO do JPMorgan Chase & Co., Jamie Dimon,
parece pensar sobre isso.
Na teleconferência do banco na sexta-feira, os executivos
foram bombardeados com perguntas direcionadas a prever a receita líquida de
juros, uma medida de quanto os bancos ganham com seus ativos que geram juros,
descontando o quanto pagam sobre seus passivos. É difícil prever, em parte
porque depende da trajetória da economia, da política monetária, de quanto os
consumidores poupam e tomam emprestado, e da forma muito volátil da curva de
juros, que mede as taxas de curto prazo em relação às de longo prazo no
mercado.
Em um dado momento, Dimon deu uma resposta direta. Aqui está
o trecho-chave:
"Posso dizer algo? Antes de mais nada, da próxima vez,
eles deveriam me dar o número que eles acham. Não quero passar todo o tempo
nessas chamadas discutindo o que acham que a receita líquida de juros vai ser
no próximo ano. E também, será que eu preciso ressaltar que a receita líquida
de juros, com todas as coisas permanecendo iguais, é apenas um número? — mas as
coisas nunca permanecem iguais (destaque meu). E a curva de juros, você
sabe, se houver uma recessão, o efeito na curva seria muito diferente do que se
houver crescimento contínuo... Acho que passamos muito tempo com essas
irrelevâncias, então você acaba tendo um modelo — pega o número do seu modelo."
Tenho a maior simpatia por essa visão.
Nos mercados financeiros, os melhores investidores não são
aqueles que conseguem prever o futuro, porque ninguém tem uma bola de cristal.
Na verdade, os mais bem-sucedidos são aqueles que avaliam o panorama dos riscos
e se posicionam de acordo. Como regra geral, muitos observadores de ações
gastam muito tempo estimando ganhos com precisão decimal e pouco tempo
explorando as maneiras pelas quais sua tese pode estar errada. Cada ação é uma
história que está sendo escrita em tempo real, não um problema matemático com
um conjunto de entradas estáticas e conhecidas.
Em um cenário ideal, os analistas de ações de Wall Street
nos ajudariam a apreciar o panorama de riscos e resultados. Eles pensariam de
forma independente e elaborariam projeções diferenciadas, que serviriam como
uma espécie de ilustração dos vários cenários de risco que os investidores
devem considerar. No entanto, os analistas tendem a seguir a
"orientação" dos executivos corporativos, porque essa é a maneira
mais segura de evitar parecer tolo ou perder acesso à gestão. As estimativas de
ganhos e os preços-alvo tendem a estar tão próximos uns dos outros que um
investidor não familiarizado poderia ter a falsa impressão de que a gama de
resultados é, na verdade, bastante pequena. Na medida em que a
"orientação" contribui para esse comportamento de manada, Dimon está
certo ao afirmar que gastamos muito tempo focados nisso.
É claro que os analistas seguirem a orientação corporativa
não é novidade. Em uma pesquisa realizada originalmente no início dos anos
2000, Julie Cotter, Irem Tuna e Peter D. Wysocki mostraram que os analistas
respondem rapidamente às orientações da administração.
E os gestores corporativos muitas vezes relatam que um dos principais motivos pelos quais fornecem orientações é que analistas e investidores continuam pedindo por elas. Em uma pesquisa recente com 357 gestores corporativos, publicada no Journal of Accounting and Economics, cerca de 41% dos gestores que emitem orientações estavam "muito preocupados" com o "curtoprazismo" associado a elas, e apenas 11% não estavam "nem um pouco preocupados". No artigo *Perspectivas dos gestores corporativos sobre orientações prospectivas: evidências de pesquisa*, os pesquisadores também descobriram que os gestores corporativos tinham uma confiança equivocada em suas próprias orientações. Eles relataram que uma esmagadora maioria dos entrevistados estava pelo menos 70% confiante de que os ganhos estariam dentro da faixa de orientação inicial. Na realidade, a orientação inicial estava correta em menos de um terço das vezes.
Reconheço que sinto uma certa pena dos analistas que foram
usados como exemplo na sexta-feira; eles estão apenas fazendo seus trabalhos, e
não é culpa deles que o jogo tenha se desenrolado dessa forma. Mas Dimon está
certo ao dizer que existem maneiras mais interessantes e úteis de passar uma
hora com o líder do maior banco do país.
Jaime Dimon (e Jonathan Levin) Tamo Junto!
No post pelo-ótimo-motivo fiz os seguintes comentários
sobre o dólar: "Com essa possibilidade de queda, é necessário que eu
apresente uma contagem de ondas que estava 'congelada' até segunda ordem. No
gráfico a seguir, com janela de 1 semana, fica mais claro quais seriam os
passos no curto e médio prazo" ... "O dólar deveria atingir a mínima
de R$ 5,2027 destacada no retângulo e negociar abaixo de R$ 5,2202 — a razão é
que a *onda 5 laranja* tem uma formação diagonal."
Meu amigo resolveu me cutucar e perguntou: David, por que não vende já? Minha resposta foi lacônica: por mais que tudo indique que vai romper para baixo, ainda não rompeu.
Até parece que o Mosca antevia essa reação, mas podem estar
certos de que não. O que venho insistindo ad nauseam é que o movimento
de alta seria muito tortuoso, e os leitores estão assistindo, ao vivo e em
cores, como se enfatiza. Mas acham que está tudo resolvido? Nem a pau! O dólar
precisa romper a área denominada como resistência no gráfico abaixo, pois ainda
pode dar meia volta e acionar a opção citada no post acima.
Se eu sugerisse operações de curto prazo aos leitores, talvez eu me envolveria mais. Por outro lado, o canal de comunicação seria outro para mudanças rápidas de posições. Como não é o caso, não vou me meter a dar sugestões sem que eu tenha mais confiança no movimento — deixaria os leitores doidos. Espero que compreendam essa opção, pois, embora seja um ativo de muito interesse aos leitores, para o Mosca é apenas mais um. Sendo assim, fica o lema maior: compromisso com o bolso!
O SP500 fechou a 5.859, com alta de 0,77%; o USDBRL a R$ 5,5803,
com queda de 0,56%; o EURUSD a € 1,0903, com queda de 0,31%; e o ouro a U$
2.652, com queda de 0,14%.
Fique ligado!
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