Volatilidade na gôndola #EURUSD

 



No início da minha carreira eu me envolvi no mercado imobiliário. Uma situação bizarra aconteceu comigo quando fui ao lançamento de um prédio da Construtora Rossi – nem sei se ainda existe. Naquela época, eu acompanhava de perto e investia com a Construtora Tecnisa, cujo principal executivo, Meyer Nigri, eu era muito próximo. Por indicação dele, fui ver o porquê de tanto sucesso daquele lançamento.

Minha intenção inicial era entender melhor a razão de tamanha demanda. Ao entrar no estande, havia um enorme painel com os apartamentos e muita gente em volta. Em questão de segundos, os corretores gritavam: "Apartamento 202 vendido!" e outro: "Apartamento 801 vendido!". Um funcionário ia marcando no painel o que restava. Peguei o primeiro corretor à minha frente, olhei o painel para selecionar uma unidade e disse: "Pode bloquear o apartamento 1102". Só depois fui ver a planta, o projeto e o preço. Alguns meses depois, fui negociar a devolução, pois achei que não seria um bom negócio.

Uma boa definição de preço justo me foi dada por um colega: o melhor preço de venda é o preço máximo que o comprador está disposto a pagar, e vice-versa, o melhor preço de compra é o mínimo que o vendedor está disposto a aceitar. Como ninguém sabe a priori quais são esses preços, é na negociação que se pode ter uma pista.

No Brasil, vivemos um período de congelamento de preços durante o governo do presidente Sarney, para evitar a alta de preços. Ficou conhecido o termo “fiscal do Sarney”, um título popular incentivado pelo presidente para que as pessoas monitorassem os preços e denunciassem os estabelecimentos que não cumprissem as novas regulamentações. Uma cena memorável foi transmitida pela Rede Globo, quando um cliente, ao entrar num supermercado e observar que os preços não estavam de acordo com a tabela, dirigiu-se à porta do estabelecimento e disse: “Em nome do presidente Sarney, declaro fechado este supermercado”. Nem preciso dizer que, depois de alguns meses, faltava de tudo nos supermercados, e só se conseguia comprar carne, por exemplo, no mercado paralelo.

Hoje em dia, os preços dos produtos são visíveis nas prateleiras, e as alterações acontecem geralmente na reposição de estoque. Mas e se, usando a IA (inteligência artificial), os preços fossem ajustados de acordo com seu perfil? Pois é, Amanda Mull comenta na Bloomberg que esse momento já chegou.

No início dos anos 2000, quando eu era funcionário de uma grande loja de eletrônicos, às vezes eu era responsável por alterar os preços. A posição não era tão poderosa quanto parece — eu era uma universitária que ocasionalmente trabalhava no turno de abertura aos domingos, quando a matriz enviava uma série de novas etiquetas de preços para as promoções da semana para uma impressora no depósito. Eu, de ressaca do sábado, pegava as etiquetas, as deslizava nos suportes plásticos à frente dos preços normais, onde ficavam por uma semana até que alguém as trocasse novamente. Os clientes vinham atrás desses descontos porque eram anunciados no jornal de domingo.

As mudanças recentes nos modelos de precificação de muitas empresas, que, entre outras coisas, ajustam os preços em tempo real com base no seu perfil de dados pessoais, podem fazer com que os descontos semanais e os encartes de jornal de domingo pareçam totalmente ultrapassados. Conforme argumenta o American Prospect em uma edição especial, as empresas estão em uma era de recuperação. Marcas e varejistas, sem mais formas de realizar grandes cortes de custos, estão buscando aumentar os lucros elevando os preços. Alguns de seus métodos são tradicionais, como acrescentar taxas extras no momento do pagamento ou manter os preços rotulados estáveis, mas reduzindo o volume das embalagens.

O que é mais inquietante, no entanto, são as novas táticas: grandes vendedores acumularam enormes quantidades de dados sobre o comportamento dos clientes e concorrentes a partir de suas operações de e-commerce e programas de fidelidade, e muitos trouxeram empresas terceirizadas que utilizam inteligência artificial ou modelos algorítmicos para determinar quando, onde e para quem mudar os preços. Alguns varejistas estão começando a experimentar esses modelos de precificação não apenas online, mas também em lojas físicas, com etiquetas digitais de preço, que podem ser alteradas ao longo do dia, sem as incômodas etiquetas de papel. E se tudo o que você comprasse fosse precificado como passagens aéreas.

Os varejistas tendem a eufemizar essas táticas como “precificação dinâmica” ou “personalizada” — que energizante isso soa, e como todos nós devemos nos sentir especiais! Os defensores geralmente argumentam que esses métodos não são usados apenas para cobrar mais; também podem baixar os preços para algumas pessoas, e os indivíduos podem ajustar seu comportamento aos preços que desejam ver, por exemplo, almoçando após a correria do meio-dia, quando os hambúrgueres são mais baratos. E, como Dayen argumenta no Prospect, empresas com perfis de dados robustos sobre indivíduos não se limitarão a ajustar os preços para fazer coisas entediantes, como equilibrar a demanda ao longo do tempo. Elas também podem ajustar os números com base no desejo projetado do indivíduo. “Alguém que realmente quer aquela bolsa chique pagará $300, e alguém que a quer menos a verá sendo oferecida por $200 ou até mesmo $150”, ele escreve. “No final, mais pessoas acabam com uma bolsa.” Mas mesmo que essas táticas às vezes gerem preços mais baixos para algumas pessoas em algumas situações, isso não deve ser confundido com uma boa negociação para os consumidores em geral.

Fundamentalmente, o que esses modelos de precificação fornecem é uma fonte conveniente de abstração. Entender o que um preço significa sempre foi mais complicado do que somar o custo de produção de um determinado bem e um percentual de margem desejado, mas a história do consumo moderno é construída sobre o conceito de preço público — empresas têm o poder de precificar seus produtos, e o público deriva seu poder da capacidade de comparar preços entre os vendedores e alocar seus dólares de acordo. Se dois compradores não veem o mesmo preço ao mesmo tempo, a realidade de consenso que sustenta o sistema — ou, pelo menos, o único poder teórico que os indivíduos podem ter dentro dele — se torna totalmente irrelevante. Se não for mais útil, os vendedores têm você completamente isolado como indivíduo, com pouca oportunidade de entender as forças de precificação que agem sobre você ou como podem estar agindo de forma diferente sobre os outros.

Até agora, a implementação silenciosa dessas táticas parece ter sido amplamente positiva para os vendedores. Nas chamadas de resultados nos últimos anos, não foi difícil encontrar CEOs elogiando os resultados de aumentar os preços cada vez mais — em uma chamada de resultados em outubro, por exemplo, o chefe do McDonald’s admitiu estar “pressionando” os clientes nos preços, mas relatou que eles estavam “lidando bem” com isso. Mesmo assim, os preços não podem subir para sempre — a certa altura, muitas pessoas param de comprar para que a matemática faça sentido, e os preços precisam voltar a cair. Recentemente, muitos grandes varejistas, incluindo Amazon Fresh, Target e Walmart, têm feito exatamente isso, enfatizando que os cortes são em itens básicos de uso doméstico que todos precisam — e obtendo muita atenção da mídia por sua “amizade com o cliente”. Em algum lugar, um vendedor ainda pode estar inserindo um preço promocional em um expositor.

À primeira vista, achei que seria muito difícil ter dois preços para o mesmo produto em um supermercado, mas, logo, achei viável, afinal, você não olha no carrinho do vizinho para comparar os preços. A ideia está muito de acordo com a definição que coloquei no início do post, a de “saber” o preço máximo que você está disposto a pagar. Com a IA, me parece que fica mais fácil intuir esse valor. Assim, pode esperar que duas compras idênticas em um supermercado tenham valores totais diferentes.

Ficou desanimado? Não fique, pois, da mesma forma que as cadeias de supermercados estão buscando maximizar seus lucros, daqui a pouco, nós, como consumidores, e usando a IA, saberemos qual é o preço mínimo que eles estarão dispostos a aceitar. Acho que estou divagando. Melhor tentar “enganar” seus dados disponíveis ao supermercado – que tal usar uma roupa rasgada? Hahaha...

No post nem-tudo-é-maravilha fiz os seguintes comentários sobre o euro: “Em relação à minha ideia de que o euro deve cair ao nível aproximado de €1,033, houve um alento desde a última publicação. Embora não seja visível no gráfico abaixo, indiquei com o símbolo em vermelho 5 ondas. Sendo assim, vou aguardar uma correção que deve ocorrer e sugerir um trade de venda. Esse intervalo (de queda) deve estar contido na região destacada abaixo”.




Desde a última publicação, não houve nenhum respiro para que se pudesse realizar um trade de venda; a moeda única caiu de forma sistemática. Se existe um consolo, é que a visão de queda do Mosca estava correta.

Mas posso afirmar que, em algum momento, essa oportunidade deve surgir. Observado em janelas menores, é possível que a sequência de queda tenha chegado aos níveis atuais: €1,0864. Sendo assim, uma correção deveria levar o euro ao seguinte intervalo: €1,098 / €1,102 / €1,107. O gráfico a seguir é de janela semanal, com o intuito de proporcionar uma visão mais ampla.




Os mercados de moeda diferem significativamente em relação aos de ações. Enquanto os primeiros têm raros momentos de movimento direcional, ficando às vezes em correções prolongadas, o último apresenta essas oportunidades com maior frequência. Essa é a razão pela qual o Mosca foca mais nas ações.

O SP500 fechou a 5.841, sem variação; o USDBRL a R$ 5,6602, com queda de 0,11%; o EURUSD a € 1,0827, com queda de 0,31%; e o ouro a U$ 2.692, com alta de 0,70%.

Fique ligado!

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