China: Apagão do estímulo #IBOVESPA
Antes de entrar no assunto de hoje, gostaria de divulgar
que, a partir de hoje, o post publicado todas as quartas-feiras estará
disponível para os assinantes do Investidor em Valor, que recentemente
publicou uma entrevista comigo entrevista-david-gotlib . Espero que esses novos
leitores gostem do conteúdo. O objetivo do Investidor em Valor é educar pequenos investidores.
A cidade de São Paulo está novamente sem luz em milhares de
residências devido às fortes chuvas da semana passada. Esse transtorno, às
vésperas das eleições, está fornecendo munição para o candidato Guilherme
Boulos atacar o atual prefeito, Ricardo Nunes. Tudo indica que a Enel não fez
sua lição de casa e deixou de investir em medidas preventivas.
No último debate, após sofrer ataques de Boulos – que,
diga-se de passagem, não faz ideia do que é administrar uma cidade do porte de
São Paulo –, Nunes respondeu: "Boulos, você nunca trabalhou".
Ingenuamente, em minha opinião, a resposta veio no horário político, onde
Boulos afirma ter visitado a escola onde estudou e,
"coincidentemente", encontrou alguns holerites de quando era
professor. Para finalizar essa cena ridícula, mostrou sua carteira de trabalho,
que contém experiências como professor. Boulos, estamos falando de vivência
em cargos de gestão de pessoas e empreitadas – ser professor não te qualifica!
O governo chinês está hesitando em apresentar claramente seu
pacote de estímulos, que parecia ser suficiente para tirar o país do atoleiro
em que se encontra. Para ilustrar a situação atual, elaborei um resumo com
informações da Bloomberg News e de Richard Abbey, além dos comentários de Ed
Yardeni.
A China enfrenta um cenário de incertezas à medida que o
governo tenta impulsionar o consumo doméstico por meio da recuperação dos
preços de ativos, como ações e imóveis. Contudo, muitos analistas duvidam que
essa estratégia funcione de forma eficaz. O estímulo fiscal, em tese, poderia
aumentar o consumo, assim como ocorreu nos EUA com os cheques diretos enviados
às famílias americanas. Entretanto, enquanto isso, os preços ao produtor na
China continuaram a deflacionar em setembro, com os preços ao consumidor
subindo minimamente, mostrando que o país segue exportando deflação para o
restante do mundo.
No dia 24 de setembro, o governo chinês anunciou um pacote de medidas monetárias e de crédito. Essa decisão foi tomada logo após o corte de 50 pontos-base na taxa de juros pelo Fed, o que limita o quanto a China pode afrouxar sua própria política monetária sem o risco de fuga de capital estrangeiro. Essa situação já foi vista em 2022 e 2023, quando os bancos centrais globais elevaram suas taxas de juros. Com as expectativas do mercado de títulos dos EUA indicando menos cortes de juros do que o previsto anteriormente, o resultado foi uma sequência decepcionante de coletivas de imprensa das autoridades chinesas no último sábado.
Além disso, a tentativa do governo chinês de revitalizar os
mercados de ações e o setor imobiliário não foi recebida com entusiasmo pelos
investidores. Após uma rápida alta de mais de 30% no índice CSI 300 entre
setembro e outubro, o mercado esfriou, com queda de quase 10% desde o pico
recente. A volatilidade continua a dominar o cenário, e muitos acreditam que,
sem um estímulo fiscal claro e efetivo, o mercado pode não se sustentar. Parte
dessa hesitação vem da alta persistente do desemprego entre os jovens na China,
o que coloca ainda mais pressão sobre o Partido Comunista para revitalizar a
economia rapidamente.
No entanto, a possibilidade de um estímulo mais radical, como o "dinheiro de helicóptero", parece estar fora de questão. Esse tipo de política, semelhante aos três rounds de cheques enviados aos americanos pelo governo dos EUA, seria um movimento ousado demais para o governo chinês, especialmente considerando as limitações impostas pelas altas taxas de juros dos EUA, que restringem as opções de política monetária da China.
Em resumo, a economia chinesa está em um ponto crítico.
Enquanto os investidores globais esperam ansiosamente por sinais de estímulos
mais robustos, a dúvida sobre a capacidade de resposta do governo persiste.
A solução está nas mãos do governo em ser mais audacioso e,
talvez, buscar uma política fiscal “na veia”, distribuindo cheques para a
população. O problema é que, com mais de 1 bilhão de habitantes, qualquer valor
em torno de U$1.000 representa uma quantia gigantesca. Além disso, medidas
keynesianas parecem não estar no cardápio chinês. Tudo indica que a luz acabou
por lá – e, diferente de São Paulo, não há uma Enel para culpar.
No post não-se-blefa-com-estímulos, fiz os seguintes
comentários sobre o IBOVESPA: “Bolsa ‘ruim’ é isso: com o desenrolar de hoje
da IBOVESPA, estou alterando a contagem — embora tecnicamente precise cair
abaixo de 129 mil. O que aconteceu? A alta que começou em junho, quando o
índice estava em ~119 mil, foi uma maldita onda B laranja. Provavelmente
agora entramos numa onda C laranja, que levaria a bolsa para 112 mil ou,
ainda mais abaixo, para 99 mil — destacado no retângulo. Isso deveria ocorrer
por volta de janeiro de 2027 e, só a partir daí, poderíamos retomar a alta
(será que teremos uma boa notícia com a saída definitiva do Lula de nossas
vidas?)”.
Será que estou sendo muito severo nas considerações sobre a bolsa? Tenho insistido ad nauseam que o IBOVESPA não tem uma configuração boa para operar – parece uma sequência de correções, sem um movimento direcional claro. Desta forma, a criatividade para encaixar as ondas é uma arte. Como tenho novos leitores que gostam da bolsa – garanto que, com o passar do tempo, irão gostar menos – fui buscar uma hipótese de alta e, como não poderia deixar de ser: achei.
A seguir está o gráfico que contempla essa hipótese. Em todo
caso, mesmo nesta hipótese de alta, o IBOVESPA ainda teria que cair até 123.8
mil / 121.4 mil, destacado no retângulo.
— David, você criou a maior confusão! Os novos leitores vão te abandonar de primeira! Hahaha ...
Para os novos leitores: esse é meu “amigo” chato, que fica
me cutucando e aparece de vez em quando por aqui. Respondendo: vamos lá. Nas
duas opções existe uma queda por acontecer no curto prazo. A diferença entre
elas é que, no primeiro gráfico, a queda é mais extensa, e no outro, menos.
Conforme a bolsa evolui, vou saber qual das duas devo adotar – ou, quem sabe,
se outra opção aparece, já que em correções sempre existem múltiplos cenários.
Conclusão: o IBOVESPA é para quem gosta de emoções, mas nem
sempre ganha dinheiro. Não gosto de colocar meu capital em coisas tão incertas
– prefiro o S&P 500.
O S&P500 fechou a 5.842, com alta de 0,47%; o USDBRL a R$ 5,6637, com alta de 0,23%; o EURUSD a € 1,0857, com queda de 0,30%; e o ouro a U$ 2.674, com alta de 0,50%.
Fique ligado!
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