Sempre tem "vendidos" #IBOVESPA

 


O mercado financeiro é maravilhoso: os ativos oscilam conforme a lei da oferta e demanda, que por sua vez é guiada por opiniões e convicções sobre o futuro. Quando o mercado está em baixa, sempre há aquelas vozes dizendo: está barato, assim como, quando está subindo, outras vozes dizem: cuidado, está caro. E assim os preços flutuam de forma a equilibrar o fluxo de recursos contra o estoque de títulos. Como dizia meu ex-sócio, Emir Capez: “contra o fluxo, não existe argumento”.

As bolsas americanas vêm subindo desde outubro de 2022 quase ininterruptamente, acumulando aproximadamente 40% de alta quando medido pelo S&P 500, enquanto sua "irmã mais jovem", a Nasdaq 100, apresenta uma alta de aproximadamente 100%. Em algum momento, haverá uma correção maior, mas ninguém sabe quando isso poderá ocorrer.

Durante esse período, alguns investidores ficaram paralisados, acreditando que haveria recessão; outros optaram por posições vendidas; e alguns poucos se aventuraram na compra. Cada um desses grupos estava munido de argumentos para suas decisões. Alguns dos paralisados "jogaram a toalha" e compraram, os vendidos foram zerando posições conforme o mercado subia, e os comprados mantiveram suas posições ou decidiram realizar lucro. Falando em lucro, vale destacar a frase muito usada: “lucro nunca deu prejuízo”. Ela serve como um conforto para quem vende, mas está longe de ser uma decisão sábia, pois, após vender, pode-se ficar "chupando o dedo" enquanto observa a alta continuar.

Quando eu era guiado pelo fundamentalismo, minhas convicções iam mudando conforme as retóricas evoluíam. Posso afirmar, quase com certeza, que, usando esse método, teria perdido grande parte dessa alta e provavelmente estaria sem posição.

Você pode notar que cada um de nós busca as argumentações que mais se assemelham à nossa posição e rejeitamos, ou sequer consideramos, as vozes contrárias. No fundo, queremos estar certos — e essa necessidade muitas vezes passa a ser mais importante do que querer ganhar dinheiro. Se nunca pensou nisso, provavelmente vai rejeitar essa afirmação. Reflita e analise seu histórico para chegar a conclusões.

 

Observações da Bloomberg

O editorial da Bloomberg, com base nas projeções recentes do FMI, alerta para os riscos atuais, que deveriam ser encarados e não ignorados.

Na semana passada, ministros das finanças e governadores dos bancos centrais de todo o mundo se reuniram em Washington para discutir a economia global. Com a pandemia e seus efeitos em retrocesso, houve boas notícias sobre inflação e crescimento. Contudo, conforme apontam os briefings do Fundo Monetário Internacional (FMI), os riscos econômicos não estão diminuindo — e, principalmente nos EUA, a disfunção política está agravando a situação.

Os esforços para conter a inflação após os choques de oferta provocados pela pandemia foram amplamente bem-sucedidos. A inflação global, que atingiu quase 10% em 2022, deve cair para menos de 4% até o final do próximo ano, ligeiramente abaixo da média pré-pandêmica. Dada a gravidade do choque inicial, agravado pela guerra da Rússia na Ucrânia, o processo de desinflação causou perdas menores do que o esperado, e o crescimento moderado e constante, em grande parte, foi retomado. A má notícia é que os riscos econômicos e geopolíticos estão cada vez mais em desacordo com a aparente calmaria nos mercados financeiros.

A história mostra que a incerteza elevada sobre políticas nem sempre leva a recessões. No entanto, quando coincide com más notícias econômicas, os danos podem ser especialmente graves. O risco é ainda maior se os governos não puderem reagir de forma eficaz, pois a dívida pública excessiva limita suas opções. Com isso em mente, os esforços para reconstruir a confiança e restaurar o chamado “espaço fiscal” devem ser prioridades em toda parte.

 



Em seu relatório anual de estabilidade financeira, o FMI deste ano chama a atenção para as discrepâncias entre os índices que acompanham a volatilidade do mercado e aqueles que monitoram o risco geopolítico e a incerteza econômica. No momento, a volatilidade está baixa e o risco está alto, e a diferença é grande em termos históricos. Apesar da guerra na Europa, da instabilidade renovada no Oriente Médio, das relações comerciais em deterioração e das crescentes demandas fiscais sobre os governos (para defesa, transição energética e populações envelhecidas), os investidores estão precificando novos cortes nas taxas de juros e avaliações ambiciosas de ativos. Na verdade, eles parecem decididamente otimistas — frequentemente um prenúncio de estresse financeiro crescente.

Quando a próxima recessão chegar, os governos precisarão de várias medidas de estímulo para amenizar o impacto. A maioria dos bancos centrais atualmente teria espaço para cortar as taxas, apesar de algumas preocupações persistentes sobre uma inflação ainda presente. Mas a política monetária só pode fazer até certo ponto, e os governos têm muito menos flexibilidade fiscal do que precisariam. Graças à pandemia de Covid-19 e suas consequências, as razões de dívida em relação ao produto aumentaram alarmantemente.

 

Caso dos EUA

O caso dos EUA é especialmente marcante. Antes da pandemia, a proporção da dívida pública em relação ao produto interno bruto era de aproximadamente 80%. Agora, a cifra está um pouco abaixo de 100%. Em uma base de política atual (supondo que não haja reveses significativos), ela subirá para mais de 120% em dez anos e continuará a crescer. No entanto, longe de discutir como controlar o endividamento público, ambos os candidatos na próxima eleição presidencial propuseram políticas que aumentarão ainda mais a dívida.

Os governos em todo o mundo — e nos EUA, em primeiro lugar — devem ter cuidado para não transformar vitória em derrota. Por mais custosa que tenha sido, a pandemia foi uma catástrofe menor do que poderia ter sido. Otimismo excessivo, imprudência fiscal e uma recusa em enfrentar os crescentes desafios de política podem desperdiçar essa conquista. Como o FMI deixou claro, os formuladores de políticas podem enfrentar esses desafios agora ou quando outra crise os obrigar a fazê-lo.

 

Riscos e Considerações Técnicas

Os argumentos levantados pela Bloomberg são totalmente válidos: atualmente, existem riscos políticos significativos com duas guerras em andamento, além da acelerada elevação dos déficits públicos na maioria dos países desenvolvidos. Tudo indicaria que não é prudente investir nas bolsas. Entretanto, do ponto de vista técnico, ainda não surgiu essa evidência.

Posso dizer por experiência própria que é muito difícil optar pela análise técnica em detrimento da fundamentalista, pois a primeira é baseada exclusivamente na evolução dos preços, enquanto a outra usa elementos racionais. Somente o tempo permite essa migração.

Ontem mesmo citei o caso do economista “carequinha” e sua previsão do dólar a R$4,50. Ele estava errado em seus argumentos? Podemos dizer que eram otimistas, mas o Brasil tinha naquele momento um fluxo de dólares muito confortável, embora ele estivesse ignorando as ações do governo. O Mosca usa a análise técnica, e por essa não via, ou melhor, achava pouco provável que o dólar enfraquecesse. Mas o melhor de tudo é que, se essa visão se mostrasse errada, mudaríamos sem constrangimento nem necessidade de argumentos adicionais — ao contrário do que aconteceu com ele, que precisou do Trump para mudar suas projeções.

 

Análise de Ed Yardeni

Em relação à bolsa americana, nem todos os analistas têm a visão expressa pela Bloomberg. Por exemplo, Ed Yardeni, que comecei a seguir recentemente, tem a seguinte ideia: “Em nossa opinião, a economia deve continuar crescendo, o que sustentará os ganhos gerais do S&P 500. Não acreditamos que o crescimento dos lucros seja o principal risco para os múltiplos de valorização relativamente altos. Pelo contrário, os riscos negativos são atribuíveis, em sua maioria, aos desenvolvimentos geopolíticos e políticos domésticos adversos até o final deste ano. Se for esse o caso, qualquer queda será mais provavelmente uma correção do que um mercado de baixa. Portanto, mantemos nossa meta de 5800 para o final do ano no S&P 500 e permanecemos otimistas com nossa meta de 6300 para o próximo ano.”

 

Mantra do Mosca; “Let the market speak!”

No post “ia-questão-da-década” fiz os seguintes comentários sobre o IBOVESPA: “Eu destaquei no gráfico semanal o que denominei de ‘Muro das Lamentações’. A razão é que, em quatro tentativas de romper a área destacada em verde, o índice não conseguiu — essas tentativas estão expressas com círculos rosa. Essa passa a ser a grande questão: agora vai, ou terá que visitar de novo os níveis mais baixos, sendo o pior abaixo de 100 mil? Deixe o mercado nos indicar sua escolha e não tente adivinhar”.




Já observei que, quando publico gráficos com janela semanal, não tenho muito a contribuir em sugestões de trade. Mas quero que você note a diferença entre dois períodos distintos da bolsa brasileira, destacados com retângulos em azul e vermelho. No primeiro, que se iniciou em 2016 e foi até 2019, existe um claro movimento ascendente cuja alta foi de 220%; o segundo, de junho de 2021 até o presente, não sai do lugar: vai para cá, e para lá. Desde o ponto de partida, subiu no máximo 8%.

O leitor poderá se perguntar por que excluí parte da análise do ano de 2020. Esse foi o período da pandemia, um evento que todos conhecem. Ao retirar esse período, imaginei que a bolsa estivesse continuando de onde parou antes da pandemia. É lógico que, do ponto de vista técnico, não posso fazer isso, mas o que quero é enfatizar.




Voltando à “terra”, veja os principais motivos que me deixam fora da bolsa brasileira. No gráfico abaixo, a alta recente mostra um movimento em 3 ondas — primeira conclusão: SE o movimento for de alta, ele não é direcional. Pode ser que ainda haja mais espaço para subir. Se este for o caso, preciso esperar formar 5 ondas de alta antes de qualquer posicionamento na área destacada pela elipse amarela. E por enquanto, nada!

 



— David, você não está sendo conservador demais?

A palavra correta não seria “conservador”, mas disciplinado. A razão é que eu não sei a extensão da queda que se iniciou desde setembro deste ano, quando atingiu a máxima de 137,3 mil. Mostrei algumas das hipóteses nas últimas semanas: pode ser 127,7 mil (gráfico atual); 121,1 mil; ou 99,7 mil, e pode ser ainda pior. Não estou aqui para adivinhar.

Se não fosse o interesse dos leitores do Mosca — por motivos óbvios (vivemos aqui) e dos leitores do Investidor em Valor, a análise do IBOVESPA estaria numa lista que eu olho de vez em quando, ou em função de algum alerta de preço que adiciono. Mas como sou bem pago por vocês, contínua essa indefinição!

O S&P500 fechou a 5.814, com queda de 0,30%; o USDBRL a R$ 5,7633, sem variação; o EURUSD a € 1,0859, com alta de 0,38%; e o ouro a 2.787, com alta de 0,45%.

Fique ligado!

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