Quando o ganho depende de sorte #S&P500
O assunto da vez, a duas semanas das eleições americanas, é
como cada candidato irá impactar a economia dos EUA. Uma coisa parece certa:
independentemente de quem vencer, o déficit aumentará, levando a dívida
americana a níveis extremamente elevados. Mas, nesse quesito, os americanos não
estão sozinhos, como mostra o gráfico abaixo, elaborado pela Bloomberg,
apontando um movimento global — com exceção da Alemanha — nessa direção. Será
que os governos perderam o medo e se lançaram no caminho mais fácil de cumprir
suas promessas?
Sabendo quem será o vencedor, é possível traçar uma estratégia para os investimentos? Inicialmente, para responder essa pergunta, a publicação de Joe Wiggins em seu site Behavioural Investment aborda os fatores comportamentais em eventos.
Qual eleição presidencial moderna dos EUA teve o impacto mais significativo nos retornos de longo prazo das classes de ativos? Não faço ideia, mas vou, com confiança, lhe dizer como os mercados financeiros reagirão à próxima. Grandes eventos importam muito para os investidores, apesar de a história nos mostrar que é extremamente difícil prever suas consequências, ou até mesmo saber se eles terão algum impacto no longo prazo.
Ignorância seria uma bênção
A razão mais óbvia pela qual eventos notáveis, como as
eleições presidenciais, chamam tanto a nossa atenção é que são inescapáveis.
Não conseguimos evitar que nossa atenção se volte para eles, e tendemos a
superestimar a importância de coisas que são visíveis e imediatas — ou seja,
aquilo que está acontecendo bem diante dos nossos olhos. Para complicar ainda
mais, eventos como as eleições podem ser muito relevantes em certos aspectos de
nossas vidas, mas nem sempre têm grande impacto no sucesso de nossos investimentos
a longo prazo. É incrivelmente difícil separar isso — quando um tema é
relevante, não conseguimos evitar pensar que ele é relevante em todos os
aspectos.
Além disso, é praticamente impossível para um investidor
permanecer indiferente a um tópico pelo qual a indústria de gestão de ativos
está obcecada. O fato de que todos têm uma opinião firme sobre um assunto
confere-lhe uma importância. Podemos participar da discussão ou correr o risco
de parecer negligentes.
A ameaça de sermos rotulados como desatentos a um
acontecimento profundamente relevante é agravada pelo fato de que, no curto
prazo, eventos como eleições presidenciais de fato afetam os mercados
financeiros. Muitos investidores se envolvem no jogo de prever como outros
investidores reagirão a determinado evento: Se X vencer a eleição, o setor Y
será beneficiado — esse tipo de comportamento se autoperpetua. Os mercados se
movem em função dos eventos porque os investidores esperam que eles se movam.
Embora envolver-se em tal especulação dificilmente seja benéfico, torna difícil
não fazer nada — "você disse que as eleições eram irrelevantes, mas veja
como os mercados reagiram".
Em tempos assim, é fácil tomar atitudes que favorecem a
percepção que os outros têm de nós, mas que são prejudiciais ao que realmente
estamos tentando alcançar.
Mesmo que sejamos firmes o suficiente para ignorar as
ramificações barulhentas e de curto prazo dos grandes eventos de mercado, será
que eles às vezes têm consequências de longo prazo? É possível, mas isso exige
que façamos previsões sobre mudanças estruturais profundas nos mercados
financeiros ou nas condições econômicas. É muito difícil vincular um evento
isolado do passado ao desempenho subsequente do mercado — acreditar que podemos
fazer isso para o futuro parece fantasioso.
Problemas complexos
Quando consideramos grandes eventos, inevitavelmente o
fazemos de forma determinista. Acreditamos que um evento irá precipitar uma
reação específica, mas não é assim que sistemas complexos funcionam. Eles são
caóticos e imprevisíveis. O resultado de um evento binário (como uma eleição)
poderia nos colocar em um milhão de caminhos diferentes, baseados nas
interações desordenadas de um número incalculável de variáveis. Uma abordagem
determinista nos faz sentir confortáveis em meio à grande incerteza, mas não reflete
a realidade. Os investidores podem querer que seja de uma forma, mas é de
outra.
A melhor evidência do desafio de fazer previsões sobre as
implicações dos eventos nos mercados financeiros é o pouco tempo que passamos
refletindo sobre nossas previsões anteriores. Quando um comentarista descreve
as consequências do resultado eleitoral que se aproxima, com que frequência ele
nos informa sobre sua previsão anterior em eleições passadas? Na média, nunca.
Isso não ocorre apenas porque provavelmente estavam errados e isso poderia
minar nossa confiança neles, mas porque, ao olharmos para trás, vemos como tudo
o que aconteceu foi confuso e como é difícil traçar linhas claras de
causalidade. A eleição dos EUA provavelmente não será um evento que
transformará de maneira fundamental e previsível a perspectiva de longo prazo
dos mercados financeiros.
Uma abordagem comum para simplificar a lógica de como os
mercados financeiros podem se comportar em torno de uma eleição é observar
casos passados do mesmo evento. O problema disso — especialmente quando são
relativamente raros — é que o tamanho da amostra é inevitavelmente pequeno, e
cada caso é influenciado por um conjunto específico de variáveis relevantes
apenas naquele momento. Tirar inferências com confiança de tal análise é
extremamente arriscado.
Gerenciando o risco de eventos
Se envolver-se em especulação e previsão em torno da eleição dos EUA provavelmente não é prudente, o que os investidores devem fazer — simplesmente ignorá-la? Sim e não. A maioria dos investidores com carteiras bem diversificadas realmente não ignorou este ou qualquer outro evento. Em vez disso, usaram os princípios de diversificação ao construir suas carteiras, refletindo o fato de que o futuro é inerentemente incerto (e isso inclui o risco de eventos). Uma carteira bem diversificada é aquela que resiste a uma variedade de resultados diferentes nos mercados financeiros — suficientemente resiliente no curto prazo para atingir metas de longo prazo. A menos que tenhamos uma forte convicção de que a eleição mudará materialmente as características de risco e retorno das principais classes de ativos, nossa melhor abordagem é não fazer nada e permanecer diversificados.
Quando o risco de eventos está no horizonte, os investidores
muitas vezes encontram conforto ao realizar testes de estresse e análises de
cenários em suas carteiras, o que pode ser problemático. Como diz o ditado
(mais ou menos): todos os modelos estão errados, alguns também são inúteis.
Embora possa ser útil — se emoldurado com o contexto e as ressalvas adequadas —
entender a possível gama de resultados enfrentados por uma carteira, testes que
tentam prever como as classes de ativos se comportarão após um determinado
evento inevitavelmente se baseiam em suposições irrealistas e excessivamente
confiantes sobre o futuro. Eles podem nos dar uma falsa sensação de certeza e
devem ser tratados com o máximo de ceticismo.
Um teste de estresse que seria benéfico para os investidores
seria aquele que nos alertasse sobre o tipo de decisões ruins que tendemos a
tomar sob estresse. São esses os estresses que terão impacto previsível nos
resultados das carteiras.
Eventos significativos, como a eleição dos EUA, apresentam
um desafio agudo para os investidores. Manter-se firme aos nossos planos e
admitir os limites de nosso conhecimento em meio ao turbilhão de previsões pode
parecer quase impossível. No entanto, investidores de longo prazo e bem
diversificados não devem desesperar, com um pouco de fortaleza, isso passará
logo.
Até o próximo evento.
A recomendação de Wiggins é verificar se você tem um
portfólio resistente, mas isso é algo subjetivo, pois ele é até a hora que não
é mais. Para talvez responder a essa pergunta, o trabalho elaborado pelo
Deutsche Bank relaciona qual foi a performance da bolsa americana em cada
mandato presidencial desde 1900.
Faltam exatamente duas semanas para o dia da eleição nos EUA, e de agora até lá, vamos dedicar o CoTD a temas um pouco fora do convencional sobre a eleição.
À medida que nos aproximamos do grande dia, os mercados
estão se preparando para uma votação que provavelmente levará a políticas muito
diferentes, dependendo de quem vencer e com qual configuração do Congresso.
Mas isso realmente importa para os mercados? O CoTD de hoje,
que Henry Allen e eu criamos, analisa o retorno total anualizado do S&P 500
para cada presidente dos EUA desde Teddy Roosevelt, em 1901.
Treze dos últimos quinze presidentes presidiram retornos
anualizados entre 10% e 17%, e sete dos últimos nove ficaram em uma faixa ainda
mais restrita de 14% a 17%, com o próximo em 12%.
Os grandes pontos fora da curva foram impulsionados por
eventos que, provavelmente, estavam fora do controle do presidente em
exercício, como a Grande Depressão, o choque do petróleo de 1973 e a dupla
pancada do estouro da bolha pós-2000 e o impacto inicial da crise financeira
global no governo de George W. Bush. Alguns acadêmicos argumentam que as
políticas de Hoover agravaram a Depressão, mas basta olhar para os retornos sob
Coolidge (os mais altos de qualquer presidente) de 1923 a 1929 para ver que ele
provavelmente presidiu uma bolha que contribuiu para o crash de 1929, mesmo que
ele tenha deixado o cargo no início daquele ano. Portanto, Hoover teve de lidar
com um legado problemático.
A partir de 1933, a maioria dos presidentes se beneficiou de
um longo período de excepcionalismo dos EUA e de retornos anuais de dois
dígitos no mercado de ações, com apenas duas exceções muito azaradas.
O problema é que essas exceções tendem a ser bastante
severas em relação à norma.
Portanto, é possível argumentar que é melhor ser sortudo do
que competente, e que os eventos provavelmente ditarão o desempenho do mercado
em grande escala sob o próximo presidente, com as políticas desempenhando um
papel menor.
Acredito que a conclusão obtida com essa análise é a mais
importante: a de que depende de sorte. Se é (foi) assim, a ideia de Wiggins faz
sentido, mas certamente o aumento do déficit não depende de sorte!
Deu ruim! Estatisticamente, quando o Fed inicia um movimento
de queda de juros, os títulos mais longos tendem a seguir com queda nas taxas
e, como consequência, valorização dos títulos. Acontece que desta vez o
movimento começou totalmente ao contrário do esperado. Por quê? Simples, no meu
entender, talvez na história nunca o movimento de alta tenha começado com a
taxa em 0%. Dessa forma, a alta que precedeu visava normalizar o nível de
juros, e, cá entre nós, 5% a.a. com economia aquecida e inflação ao redor de
2,5% - 4% a.a., dependendo de ser observada nos bens de consumo ou serviços,
não é elevada. Além disso, os títulos de 10 anos a 4% a.a. só deveriam cair se
algo muito ruim acontecesse — a expressão usada pelos jovens, "deu
ruim", se encaixa 100% neste caso! Hahaha...
No post "play" fiz os seguintes comentários sobre o S&P500: “A onda (ii) roxa ficou 'curtinha', como eu tinha mencionado no post acima. Algum problema? Nenhum. Essas situações ocorrem quando o movimento é potente. O objetivo mínimo para a onda (iii) roxa é 6.070 (~3,6% de alta), onde o mais provável seja 6.319 (~6,2% de alta). Estou apertando o stop loss para 5.767.”
Não houve muita evolução na última semana, a bolsa empacou num intervalo entre 5.800 / 5.870. Pela minha contagem, o S&P500 deveria começar a acelerar a alta, se não acontecer vou ter que rever minha contagem. O motivo é que está numa onda (iii) roxa de uma onda iii azul. Quem está segurando as bolsas é a NVDA, que ontem ultrapassou a máxima histórica.
Tenho observado uma “luta” entre setores recentemente na bolsa americana. Vou me ater ao S&P500 e ao Russell 2000, que representa empresas pequenas e médias. Notem no gráfico abaixo a linha vermelha, que representa o último indicador, se valorizou de forma expressiva em junho quando os juros dos títulos longos caíram, e deram meia volta quando começaram a subir novamente. Existe uma ideia no mercado de que, quando os juros caem, é bom para empresas pequenas e médias que se financiam a taxas mais baixas — será isso suficiente para torná-las competitivas com as grandes em termos de margens e lucros? Recomendo a leitura do post de ontem: "what-the-f@ck".
O S&P500 fechou a 5.851, sem alteração; o USDBRL a R$ 5,6959, sem alteração; o EURUSD a € 1,0792, com queda de 0,21%; e o ouro a U$ 2.747, com alta de 1,03%.
Fique ligado!
Tudo caro e vai continuar mais caro?
ResponderExcluirPois é Maciel tudo parece está caro e para responder sua pergunta é crucial saber se as premissas otimistas se concretizaram. Ninguém tem a resposta e vender a bolsa só porque "está cara" não me parece prudente. Eu me baseio na Teoria de Elliot Wave e vou navegando em conformidade com o mar.
ResponderExcluir*estar ... *concretizarão ... desculpe os erros
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