Não se blefa com estímulos #IBOVESPA

 


Todo investidor que se preze sabe que a China deu um passo importante para conter a derrocada de sua economia. Para isso, anunciou diversas medidas e estímulos. O mercado deu um voto de confiança, e resolveu apostar "all-in", afinal, como a bolsa estava barata segundo sua visão, era hora de ser agressivo. As altas foram expressivas: até a última segunda-feira, o índice MSCI China subiu 36%, enquanto o mais conhecido CSI 300 ganhou 27%. Mas havia um pequeno detalhe: a China ainda precisava anunciar as medidas concretas, e depois do fim da Golden Week, no último domingo, nada de expressivo foi anunciado.

John Authers comenta na Bloomberg que os mercados são impacientes, especialmente depois de esse país ser considerado não investível.

 A Paciência Curta dos Investidores

Parecia o presente de boas-vindas perfeito para os turistas que retornavam das férias da Golden Week da China. Um aumento de 10% no índice CSI 300, das ações cotadas em Xangai e Shenzhen, no início das negociações de terça-feira, precedeu a tão esperada conferência de imprensa da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma. Desta vez, os analistas previam um pacote fiscal de até 3 trilhões de yuans no briefing da agência de planejamento econômico. No entanto, receberam apenas 200 bilhões de yuans em gastos, começando no próximo ano.

Enquanto os investidores processavam essa grande decepção, o índice CSI 300 devolveu parte dos seus ganhos, mas ainda manteve cerca de 6% — um desempenho considerável para o novo queridinho dos mercados globais. **Comentário meu:** Epa, não venham roubar o título da Nvidia! No entanto, enquanto os investidores locais mantinham sua posição, aqueles que investiram em empresas chinesas de "red-chip", através do índice Hang Seng China Enterprises, em Hong Kong, venderam, causando uma queda de mais de 10%.

 



A mudança nos fluxos dos investidores externos foi extraordinária. Como mostra Cameron Brandt, da EPFR, os fundos internacionais dedicados à China vinham sofrendo saídas constantes. Mas com o estímulo anunciado há duas semanas, muitos decidiram que a China era novamente investível.




Compreensivelmente, os investidores ficaram divididos quando os mercados oscilaram após a conferência de imprensa. O rali já perdeu força? Provavelmente não. O momento do “faremos o que for necessário” da China, que colocou as ações locais na mais longa sequência de vitórias em 10 anos, ainda deve ter algum caminho a percorrer. Mas como faz sentido a revelação pouco inspiradora da agência? Wei He e Thomas Gatley, da Gavekal Research, argumentam que, após a alta dramática do mercado, as autoridades podem estar querendo evitar jogar mais lenha na fogueira. Isso significa tentar gerenciar as expectativas em ambas as direções. No entanto, eles não mudaram de curso, e os riscos para o mercado de ações ainda estão fortemente inclinados para o lado positivo.

Para os formuladores de políticas, a velocidade e a escala desse rali lembram o boom e a queda de 2015. De fevereiro a junho daquele ano, o CSI 300 subiu mais de 60%, mas quase caiu pela metade nos dois meses seguintes. As autoridades, com certeza, querem evitar a repetição desse episódio doloroso, que prejudicou a confiança do mercado e levou à formação da chamada "Equipe Nacional" para apoiar os preços das ações. Assim, os responsáveis parecem estar tomando medidas iniciais para conter o entusiasmo do mercado.

É importante lembrar que 2015 também viu uma desvalorização mal gerida do yuan, que levou os mercados internacionais à beira de uma crise. Portanto, o desejo de não exagerar na euforia é compreensível.

A reação dos investidores à conferência de imprensa do presidente da Comissão, Zheng Shanjie, entretanto, não foi tão compreensiva e mostrou sinais iniciais de impaciência. A venda destacou que o apoio fiscal complementar precisa vir mais rápido, pois qualquer atraso indevido pode prejudicar a confiança. Os investidores agora voltarão sua atenção para o Ministério das Finanças, normalmente encarregado de emitir títulos para financiar medidas de estímulo e gastos adicionais. O ministério deve realizar um briefing em breve, que pode fornecer o tipo de estímulo que os mercados esperam ver. A Bloomberg News informa que bancos, incluindo Morgan Stanley e HSBC Holdings Plc, esperam um estímulo de 2 trilhões de yuans, enquanto o Citigroup Inc. prevê um valor de 3 trilhões de yuans. Outra decepção com expectativas tão altas podem ser muito prejudicial.

Já se passaram duas semanas desde o anúncio do Politburo. Embora as expectativas de um estímulo fiscal da Comissão fossem justificadas, Marko Papic, da BCA Research, acredita que ainda é cedo para Pequim apresentar um pacote que mude a base da economia para o consumo. Nesse meio-tempo, ele vê a reação do mercado à decepção como algo habitual.

Enquanto isso, a China está, mais uma vez, dominando o portfólio de mercados emergentes, superando a Índia. Os dois países representam quase metade do índice MSCI Emerging Markets, com a participação da China sendo maior (29,5% contra 18,6%). Nicholas Colas, da DataTrek Research, argumenta que, devido ao desempenho inferior das ações chinesas ao longo dos anos, muitos investidores de mercados emergentes passaram a vê-las como uma subalocação estrutural, enquanto as ações indianas, mais líquidas, servem como uma sobrealocação compensatória. O recente rali forçou uma reavaliação, mesmo que apenas de forma tática, para este trimestre e o próximo. Desde os anúncios de estímulo, os fluxos para os fundos da Índia foram apenas 1% dos fluxos para os fundos da China, de acordo com a EPFR. Usando dados de retorno relativo de 100 dias para o MCHI (ETF MSCI China) e INDA (MSCI Índia), ele aponta o salto da China.




Existem maneiras de aproveitar o dinheiro que a China vai gastar sem arriscar outro ciclo de boom e queda no mercado de ações do país? Louis-Vincent Gave, da Gavekal, observa que investidores interessados em participar do rali, mas evitando os perigos do capitalismo chinês, podem olhar para áreas como cassinos em Macau, plataformas de internet, energia e educação. Esses setores sustentam preços de ações mais altos, com uma moeda local dominante e maiores barreiras de entrada, oferecendo alguma proteção contra a interferência do governo.

Mas nenhuma das falhas de governança corporativa e interferência governamental, que afastaram investidores internacionais, foi resolvida. E a dramática alta e queda das expectativas em torno do plano fiscal mostra que as autoridades chinesas ainda não dominaram a comunicação orientada para o mercado.

Ações desse tipo podem ser comparadas a operações militares. Não que eu seja especialista — sou mais um palpiteiro —, mas é sabido que em um contra-ataque você precisa de muito mais soldados do que o manual sugere. O inimigo deve ser acuado, sem moral para enfrentar. Os chineses, que gostam de controlar tudo, parecem querer controlar as expectativas quando, nesse caso, deveriam deixar o mercado se ajustar em algum ponto.

Essa é a hipótese mais otimista, na qual os investidores podem esperar que o governo injete os trilhões de yuans que consideram suficientes. Porque a outra hipótese — a de que foi um blefe — colocaria a economia chinesa em queda livre.

Alguns nomes de peso não acreditam que esse movimento do governo chinês terá sucesso. Tanto Larry Fink, da Blackrock, quanto Ray Dalio, da Bridgewater, têm sido grandes defensores e otimistas em relação à China por vários anos. No entanto, parece que, nos últimos dias, ambos mudaram de postura, emitindo alertas contra investimentos na China, principalmente à medida que o país apoia a guerra da Rússia contra a Ucrânia e adota uma postura menos favorável ao capitalismo. Talvez eles devessem ter apostado seus recursos nos mercados de ações de democracias como os Estados Unidos e a Índia. Além deles, Ed Yardeni vem insistentemente enfatizando que não vai dar certo e que os investidores devem permanecer nos EUA e na Índia. O Mosca concorda com essa colocação.

 



No post *o-petróleo-não-e-mais-o-mesmo* fiz os seguintes comentários sobre a IBOVESPA: ... “Para ganhar um pouco de sossego, é crucial que a IBOVESPA ultrapasse o nível de ~134 mil. Se tudo der certo, no final poderia chegar a ~141 mil (alta de 7%), o que não é nada mal para um ativo ‘ruim’ como nossa bolsa.” ... "A IBOVESPA passou a marca apontada acima de 134 mil pela manhã — como mencionei — indicando que novas altas estariam nas cartas. No período da tarde, voltou a cair abaixo desse nível. Foi o suficiente para me desmotivar do trade. Vamos ficar sem posição e aguardar os próximos dias.”

 



Bolsa "ruim" é isso: com o desenrolar de hoje da IBOVESPA, estou alterando a contagem — embora tecnicamente precise cair abaixo de 129 mil. O que aconteceu? A alta que começou em junho, quando o índice estava em ~119 mil, foi uma maldita onda B laranja. Provavelmente, agora entramos numa onda C laranja, que levaria a bolsa para 112 mil ou ainda mais abaixo, a 99 mil — destacado no retângulo. Isso deveria ocorrer por volta de janeiro de 2027, e só a partir daí poderíamos retomar a alta (será que teremos uma boa notícia com a saída definitiva do Lula de nossas vidas?).




Para o leitor que se denomina "anônimo" e está louco para vender o índice, sugiro estabelecer o stop loss a 132,9 mil. Preciso deixar bem claro que essa contagem ainda é prematura, sendo necessário mais evidências com o tempo. Por enquanto, vale o observado no gráfico.

Observações: Denominei de "Muro das Lamentações" a área destacada em verde. Desde 2021, tenta ultrapassar, mas logo em seguida frustra. Na hipótese de queda, o primeiro obstáculo é cair abaixo de 125,7 mil.

Que bolsa maldita que não consegue se libertar dessas idas e vindas de uma correção!

- Nossa, David, hoje você está muito bravo.

- Também, não é para menos! Quando o Mosca se anima com uma possível alta, vem a frustração. Garanto que, se eu não morasse no Brasil, esse seria mais um gráfico esquecido no meu arquivo.

O S&P500 fechou a 5.792, com alta de 0,71%; o USDBRL a R$ 5,5877, com alta de 0,94%; o EURUSD a € 1,0938, com queda de 0,38%; e o ouro a U$ 2.608, com queda de 0,49%.

Fique ligado!

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