O trabalho de "attacher le chien" #S&P500
Foi um baque, mais para mim do que para meus pais. Fui
reprovado em História, cuja professora era uma nordestina com sotaque marcante.
Nunca vou esquecer: já no ano da repetição, quando ainda tive que estudar à
tarde, no primeiro dia de aula, ela me reconheceu e disse: "David, se não
estudar, vai repetir de novo!" — uma bela forma de me motivar! Nem preciso
dizer que odiava essa matéria, mas consegui passar e voltar a conviver com meus
velhos colegas.
Todos nós já fomos estagiários ou, como denominávamos no
Banco Francês e Brasileiro, tínhamos o trabalho de “attacher le chien” — uma
alusão aos meninos que ficavam na porta dos grandes magazines franceses,
responsáveis por cuidar dos cachorros dos clientes que entravam nas lojas para
fazer compras. Hoje em dia, acho que seríamos processados por bullying!
Hahaha... Esse era um período importante de aprendizado, pois, colocando a mão
na massa, compreendíamos o funcionamento da área, o que era fundamental para a
carreira. Contudo, a IA ameaça suprimir esse tipo de trabalho em algumas
funções, como relata Parmy Olson na Bloomberg.
A sabedoria popular sobre a IA generativa é que ela vai
substituir muitos empregos profissionais. A visão mais detalhada: ela vai
eliminar muitos empregos de nível inicial.
Nos últimos meses, perguntei a várias empresas como estão
utilizando os novos modelos de IA generativa de empresas como Microsoft Corp.,
OpenAI e Alphabet Inc.'s Google, e um tema comum é a automação do trabalho
rotineiro — o tipo de tarefa que normalmente seria atribuída a um novo recruta,
como realizar pesquisas de mercado ou redigir relatórios. Isso pode fazer
sentido à primeira vista, mas, como em toda revolução tecnológica, haverá um
preço a ser pago, tanto por empresas quanto por recém-formados, à medida que a
IA eleva o nível necessário para iniciar uma carreira.
Um exemplo dessa tendência vem do Man Group Plc. O fundo de
hedge britânico está utilizando um modelo de linguagem avançado para sintetizar
grandes volumes de dados não estruturados de fontes externas em parágrafos
concisos, apresentados aos seus gerentes de portfólio. Esse trabalho
normalmente é realizado manualmente por analistas juniores. "Agora eles
podem trabalhar em coisas de maior valor", diz Tim Mace, diretor-gerente
de dados e aprendizado de máquina da empresa.
Algo semelhante está acontecendo em alguns dos maiores
bancos de Wall Street, que têm experimentado ferramentas de IA que podem
responder instantaneamente a perguntas sobre empresas de capital aberto ou
gerar relatórios e apresentações de uma página — tarefas tipicamente realizadas
por analistas que estão no início da carreira no setor bancário de
investimentos. Executivos de alto escalão do Goldman Sachs Group Inc., Morgan
Stanley e outros bancos têm discutido até onde podem reduzir as turmas de
analistas recém-contratados, segundo o *The New York Times* em abril.
Uma pesquisa realizada este ano pelo Instituto de Pesquisa
de Políticas Públicas do Reino Unido descobriu que o trabalho de escritório de
baixo escalão tem 16% mais chances de ser assumido pela IA em comparação com
empregos de trabalhadores mais experientes. "Para uma determinada função,
as posições de nível inicial estão mais em risco do que as de profissionais
mais experientes", diz o relatório. Não é de se surpreender que um
conselho frequente para a adoção do ChatGPT seja tratá-lo "como um
estagiário".
O que acontece quando as empresas automatizam funções de
nível inicial? Um resultado é a redução de custos, mas pode haver um trade-off.
O trabalho rotineiro pode ser uma rota valiosa para aprender os truques do
ofício e desenvolver a intuição necessária para cargos mais seniores. Claro,
pode ser tedioso para um analista júnior em um banco de investimentos construir
uma planilha do Excel com 20 abas sobre uma ação ou uma apresentação de 50
páginas sobre um possível negócio, mas o processo também pode ajudá-lo a
desenvolver uma melhor noção de como avaliar empresas. O que é visto como um
ritual de iniciação em algumas indústrias e como trabalho de baixo valor pode,
na verdade, ser útil para treinar a próxima geração de gerentes seniores.
Isso também coloca um desafio desconfortável para os formados universitários que miram profissões como direito e bancos nos próximos anos. O The New York Times vai ao ponto de dizer que os bancos de investimento irão "anular a necessidade de contratar milhares de novos graduados universitários". Se os futuros empregadores esperarem que seus jovens recrutas realizem trabalhos de nível mais elevado, esses graduados precisarão demonstrar que possuem habilidades avançadas. Nas próximas uma ou duas décadas, isso pode até levar a uma reavaliação de como o ensino superior prepara os jovens para ingressarem em um mercado de trabalho onde eles não estão mais desempenhando o papel de estagiários, mas gerenciando máquinas que assumem esse papel.
A tecnologia, é claro, tem aprimorado as tarefas de nível
inicial ao longo da história, levando-nos do ábaco para as calculadoras, das
máquinas de escrever para os processadores de texto, e das bibliotecas para
bancos de dados em smartphones. Mas a IA generativa representa um salto maior:
ela não apenas automatiza tarefas rotineiras, mas também imita a criatividade e
a tomada de decisões humanas, ameaçando apagar categorias inteiras de posições
juniores e fechar as portas de entrada estabelecidas para carreiras
profissionais.
As empresas devem estar atentas a como definem o
"trabalho de baixo valor" que, de repente, está pronto para ser
automatizado. Ele pode ser mais valioso do que pensam.
Do ponto de vista das empresas, essa linha de ação é
inevitável: o uso de IA para esses trabalhos torna os resultados mais rápidos,
abrangentes e mais baratos. O fato de não permitir aprendizado aos novos
funcionários é outro problema, mas me parece razoável que trilhem o caminho da
eficiência — se não o fizerem, seus concorrentes farão. Olhando para os jovens,
parece uma situação semelhante à quando pulei o 5º ano primário, e a única
coisa que posso dizer: cuidado com a professora de História!
As empresas poderiam criar um plano paralelo de formação,
mas dificilmente será igual a passar pelos perrengues do dia a dia. Não será a
mesma coisa. Esse é realmente um problema para os jovens, pois trabalhar para “attacher
le chien” não é a solução! Hahaha...
No post o-brasil-ficou-fora-da-festa fiz os
seguintes comentários sobre o S&P500: ... "Pelo fechamento do
mercado ontem, tudo indica que a onda (ii) preta terminou e estamos
entrando na onda (iii) preta, que deve ser mais potente. Saberemos nas
próximas horas (*). Se esse for o caso, o S&P500, com uma visão de curto
prazo, não deveria retroceder até 5.674, como indicado no gráfico a seguir. O
objetivo da alta que está em curso é entre 6.341 / 6.426.
(*) O envio de mísseis pelo Irã contra Israel levou à
queda das bolsas. Sendo assim, a onda (ii) preta não terminou, ou outra
configuração poderá ocorrer."
Passada uma semana, continuamos na estaca zero. Não consigo afirmar que a onda (ii) preta (agora roxa) terminou. Um fator que destaquei no gráfico abaixo é que a retração dessa onda era muito pequena — símbolo em azul. Fiz um pequeno ajuste nas ondas de menor grau, onde a onda (i) roxa se encontra pouco mais acima. Nessa nova configuração, a onda (ii) roxa poderá recuar até 5.625 / 5.582. Vamos ver qual das duas (a antiga) se adequa melhor.
A ilustração abaixo mostra a evolução do S&P500 dentro de um ano, desde 2000, ou seja, nos últimos 24 anos. Como destacado, a deste ano é a mais forte desse período. O que isso significa? Que está sendo a mais forte desse período! Algo a fazer por conta disso? Nada! Estou sendo um pouco (muito) pragmático/rude? Pode ser, mas não mexo uma vírgula nas minhas posições. A única informação relevante é que está sendo forte e merece acompanhamento constante, o que já estamos fazendo.
O SP500 fechou a 5.751, com alta de 0,97%; o USDBRL a R$ 5,5354, com alta de 0,83%; o EURUSD a € 1,0978, sem variação; e o ouro a U$ 2.622, com queda de 0,81%.
Fique ligado!
O SP500 está realmente muito forte. Isso num cenário de juros elevados, conflitos geopolíticos e duas guerras. Fora a evidente de perda de inovação (com exceção da AI, porém que só é lucrativa para NVDA) das Bigs Techs. Tenho ficado impressionado com a volatilidade das bolsas mundo a fora. Quedas e altas, em índices, acima de 3% tem sido extremamente comuns. Isso quando não sobem ou caem perto de 10%, como ocorreu recentemente com China, Japão e Coreia do Sul.
ResponderExcluirEm relação a sua observação do SP500 diria: "contra o fluxo não tem argumento" por enquanto a economia americana vai bem obrigado. Em relação a volatilidade que comenta, não acompanho de perto esses outros mercados, mas aponto para situações especificas que podem gerar esse movimento. No Japão a troca do primeiro-ministro que uma hora sugere segurar os juros e vice-versa; na China leia o post de hoje.
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