A nova profissão: IAdista #IBOVESPA

Na próxima semana o Fed se reúne para decidir se abaixa ou não os juros. O mercado aposta que sim, mas dentro do banco central americano reina uma divisão raramente vista. Desde 2012 não havia tanta divergência entre seus membros sobre onde está — ou deveria estar — a taxa neutra da economia. Quando até quem dita a bússola perde a noção do norte, algo profundo está acontecendo.

Para o Mosca, o motivo é claro: estamos vivendo uma mudança estrutural tão rápida que ficou difícil interpretar os próprios dados. Os indicadores parecem piscar luzes diferentes ao mesmo tempo — produtividade em um sentido, mercado de trabalho em outro, expectativas de inflação em um terceiro — como se cada componente da economia estivesse operando em frequência própria. As antigas relações que sustentavam modelos, projeções e decisões de política monetária começam a perder validade.

A inteligência artificial adiciona outra camada de incerteza. A cada semana surgem previsões conflitantes: alguns acreditam que ela elevará a produtividade a níveis históricos; outros afirmam que o impacto será lento, limitado e cheio de fricções. A verdade é que ninguém sabe. Bill Dudley, sempre direto, reconhece que a IA é importante, mas não resolverá desequilíbrios fiscais nem inaugurações milagrosas de crescimento. Em tempos de exageros tecnológicos, esse tipo de moderação já é raro.

Além da incerteza sobre produtividade, a Bloomberg mostra que dirigentes do Fed enxergam na IA um impulso extra à demanda por capital. Quanto mais investimento, maior tende a ser o juro de equilíbrio. Isso tudo ocorre num momento em que o quadro fiscal americano está delicado: cada ponto percentual a mais na taxa de juro real adiciona peso ao serviço da dívida. Combinado com uma economia que exibe sinais mistos, o cenário vira um terreno fértil para interpretações desencontradas.

E não é apenas o Fed que está perdido. O mercado também está tateando no escuro. Como mostrou outro artigo da Bloomberg, traders estão montando apostas simultâneas em direções opostas: estruturas de curva ligadas ao SOFR, spreads com viés de corte mais profundo, e posições que apontam para inclinações futuras maiores. Tudo ao mesmo tempo. A mera possibilidade de Kevin Hassett substituir Powell já mudou spreads, opções e o prêmio de risco dos Treasuries. É o típico sintoma de quando a autoridade monetária não consegue transmitir clareza: o mercado tenta adivinhar o que o próprio Fed ainda não sabe.

Essa dissonância geral tem uma explicação: a IA ameaça desmontar a lógica tradicional da economia. Relações antes estáveis — como produtividade versus emprego, ou juros versus crescimento — podem estar perdendo validade histórica. Quando a teoria perde o chão, nasce a necessidade de um novo tipo de especialista. Não basta repetir modelos que funcionaram no passado; é preciso entender quando o próprio passado deixa de ser referência.

É aqui que surge a nova profissão: o IAdista.

O IAdista não será apenas alguém que “sabe usar IA”. Isso será requisito básico, como operar uma planilha. O IAdista será o profissional capaz de interpretar um mundo mediado por algoritmos, no qual modelos aprendem sozinhos e mudam o comportamento da economia em tempo real. Seu papel será traduzir esses efeitos em métricas compreensíveis, identificar novos padrões e reconhecer o momento exato em que as ferramentas antigas deixam de funcionar.

Na prática, o IAdista lidará com perguntas que hoje nem sabemos formular. Quanto da produtividade capturada pelas máquinas representa ganho estrutural real? Até que ponto a automação desloca trabalhadores ou reconfigura o tipo de tarefa executada? Como medir a taxa de desemprego “de equilíbrio” em um mercado em que profissões surgem e desaparecem em poucos anos? E como recalibrar modelos quando os ciclos de adoção tecnológica se encurtam continuamente?

Aqui cabe uma dose de humor — talvez a única coisa que nos resta diante da complexidade do tema. Se estamos criando uma nova profissão, nada mais adequado do que um batalhão de agentes de IA desenhar o currículo do curso, enquanto um humanoide assume a posição de professor. As aulas? Gravadas sob medida, da maneira mais simples para cada aluno. E o Mosca, curioso por natureza, já avisa: tenho interesse nessa matéria e quero o curso exatamente no formato do meu post; se surgir alguma dúvida, perguntem ao meu ChatGPT! Hahaha.

Brincadeiras à parte, o ponto é sério: o mundo está exigindo uma nova forma de pensar economia. A IA cria ciclos mais rápidos, decisões que mudam sem aviso, cadeias produtivas que se reorganizam por conta própria. Nada disso cabe completamente nos modelos tradicionais. E, por isso, é natural que a taxa neutra provoque tanta controvérsia. Não se trata de falta de competência técnica; trata-se de falta de referências sólidas em uma economia que está sendo reprogramada enquanto funciona.

Se a produtividade subir lentamente, como muitos acreditam, viveremos anos de frustração: juros altos, crescimento morno e sucessivos ajustes. Se subir demais, veremos choques no mercado de trabalho, com trabalhadores deslocados de funções antigas para profissões ainda inexistentes. Se ficar no meio-termo, navegaremos numa neblina longa, alternando sustos e alívios, até que novos modelos deem conta desse ambiente.

É exatamente por isso que a figura do IAdista ganha importância. Ele será o intérprete dessa economia híbrida — parte humana, parte algorítmica — capaz de unir tecnologia, macroeconomia e leitura crítica das transformações em curso. Não é alguém que prevê o futuro, mas alguém que percebe quando o presente mudou antes que os modelos registrem.

O Mosca segue acompanhando esse processo. Não com certezas, mas com a consciência de que estamos em um momento em que a economia muda mais rápido do que os indicadores conseguem capturar. O que está em jogo agora não é apenas se o Fed corta ou não corta juros. O que está em jogo é a forma como vamos entender a economia daqui para frente. E, nesse novo mundo, pode anotar: o IAdista será indispensável.


Análise Técnica

No post “Acabou a moleza” fiz os seguintes comentários sobre o IBOVESPA: “A bolsa reagiu nos últimos dias o que coloca minha hipótese em curso. Como destaquei com a elipse no gráfico abaixo a onda 4 verde pode ainda estar em andamento o que retardaria o movimento cujo objetivo seria ao redor de 174, 6 mil”


A onda 4 verde se mostrou mais curta que o esperado e estamos agora rumo a onda 5 verde da onda 3 azul. O primeiro objetivo se encontra em 174,9 mil que se ultrapassado deveria atingir 188, 3 mil. Mesmo contra a vontade (na verdade contra o software) vou propor um trade de compra na abertura a de hoje a 161 mil com stop loss a 158 mil.


Na semana passada recebi um comentário de um leitor assíduo que me fez pensar: “É uma pena descontinuar as análises. Mas será que realmente não agregam valor aos leitores, mesmo a ferramenta não estando tão calibrada? Talvez ele tenha razão o que eu perco nessa ferramenta é uma ação mais eficaz e objetivos menos apurados, mas observando de forma mais ampla, ou seja, sem buscar movimentos em janelas menores pode ainda dar uma visão para um prazo mais longo. Por exemplo, a sugestão de hoje me parece um bom risco x retorno mesmo com esses empecilhos.

O S&P 500 fechou a 6.850, com alta de 0,31%; o USDBRL a R$ 5,3105, com queda de 0,31%; o EURUSD a € 1,1665, com alta de 0,34%; e o ouro a U$ 4.206, sem variação.

Fique ligado!

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