IA: na segunda fase #USDBRL

Passei boa parte da minha vida profissional seguindo um padrão que só consegui enxergar claramente anos depois. Sempre que assumia uma nova função, vinha primeiro aquela fase impulsiva em que eu acreditava entender tudo rapidamente e me sentia confortável para dar palpites, como se a complexidade pudesse ser domada pela intuição. Logo depois, chegava a etapa do desconforto, quando percebia que o assunto era muito maior do que parecia e começava a me perguntar se um dia conseguiria, de fato, compreendê-lo. Quando finalmente as engrenagens se alinhavam, surgia alguém para dizer que aquilo era “óbvio”, como se o caminho não tivesse existido. Em seguida, vinha a fase criativa, em que ideias de melhoria brotavam naturalmente, e por fim, a fase do desinteresse, quando o aprendizado se estabilizava e eu já buscava um novo desafio.

Quando observo o fenômeno da Inteligência Artificial, vejo que estamos exatamente nesse segundo estágio coletivo: o da dúvida. Há convicções por toda parte, projeções definitivas, apostas ousadas sobre o futuro, mas, no fundo, todos sentem a mesma hesitação. Será que realmente entendemos o que está acontecendo? Ou estamos apenas repetindo aquela fase em que o terreno parece tão amplo que qualquer tentativa de síntese soa incompleta?

Essa sensação se intensificou depois de assistir à apresentação de Benedict Evans, um analista que há anos tenta traduzir movimentos estruturais da tecnologia. Ele mostra, com uma clareza admirável, que a IA generativa não é um episódio isolado, mas o próximo passo de uma sequência de grandes mudanças de plataforma: dos mainframes aos computadores pessoais, da internet aos smartphones, e agora a IA. A cada ciclo, novos vencedores surgem, antigos dominadores perdem espaço e toda a lógica de valor é reorganizada.

A história mostra que raramente sabemos como essas transições vão se consolidar. Em 1995, ninguém imaginava o que a internet se tornaria. Em 2007, poucos projetaram a avalanche que seriam os aplicativos móveis. Evans enfatiza essa incerteza ao mostrar que não sabemos qual será a interface dominante da IA: agentes autônomos, voz, algo híbrido, ou um dispositivo que ainda nem foi inventado.

Esse ambiente naturalmente gera barulho. Manchetes alarmistas convivem com previsões exuberantes, como se estivéssemos oscilando entre a euforia e o pânico. Evans ilustra isso reunindo artigos recentes que tratam a IA como salvadora universal e, ao mesmo tempo, como destruidora de empregos ou até ameaça existencial.

Esse clima é um terreno fértil para bolhas, e ele lembra que toda bolha nasce quando confundimos curvas exponenciais com linhas retas. Ainda assim, quando o excesso passa, o impacto permanece. Um exemplo simples e marcante é o gráfico mostrando o percentual de casais norte-americanos que passaram a se conhecer online — hoje acima de 60%. É a prova de como tecnologias transformadoras infiltram-se no cotidiano até se tornarem invisíveis.

Evans destaca também que, diferentemente das plataformas anteriores, não sabemos o limite da IA. Não há um teto técnico claro, e os cientistas discordam publicamente sobre até onde isso pode ir. Essa incerteza abre espaço para especulações, mas também demonstra que estamos diante de algo que pode ser muito maior do que imaginamos.

Enquanto a dúvida intelectual existe, o movimento financeiro já tomou sua decisão. As gigantes da tecnologia entraram numa corrida agressiva por investimento, guiadas pelo medo de ficar para trás. Sundar Pichai chegou a dizer que o risco de investir pouco agora é maior do que o de investir demais. Zuckerberg reforça que, no pior cenário, terão apenas se adiantado dois anos. Esse comportamento explica por que o capex total das maiores empresas já passa dos quatrocentos bilhões de dólares ao ano.

A consequência física desse movimento aparece na explosão de data centers. A construção dessas instalações, nos Estados Unidos, já supera a de escritórios corporativos — algo impensável poucos anos atrás. É um deslocamento material, não apenas digital.

E mesmo com toda essa expansão, a Nvidia não consegue acompanhar a demanda global por chips. Seu gráfico de receita sobe quase em linha reta, enquanto a Intel permanece estável. Um retrato perfeito da nova hierarquia tecnológica.

Esse mesmo desequilíbrio aparece no relatório do Deutsche Bank sobre os três anos desde o lançamento do ChatGPT. As “sete magníficas” acumulam quase 300% de valorização, enquanto a Nvidia ultrapassou mil por cento. Os setores ligados à tecnologia lideram com folga o desempenho do S&P 500. Se alguém ainda duvidava da Carteirinha, a resposta está nesses números.

Diante disso, volto à pergunta que venho considerando como tema para o próximo ano: a IA se paga? Ainda estamos apenas na segunda fase — a da perplexidade, da sensação de que estamos diante de algo maior do que conseguimos absorver. Talvez seja prematuro oferecer respostas definitivas. Assim como nos meus ciclos profissionais, a compreensão plena só aparece com o tempo, e quando aparece parece sempre óbvia.

O Mosca continuará acompanhando esse processo com a serenidade necessária, sem a ansiedade dos profetas e sem o conforto das certezas improvisadas. A segunda fase é desconfortável, mas é justamente nela que aprendemos a observar com profundidade antes de decidir. E, no caso da IA, esse olhar continua sendo a ferramenta mais valiosa que temos.


Análise Técnica

No post “desinteresse” fiz os seguintes comentários sobre o dólar: “O dólar acabou negociando acima de R$ 5,42 e completou, de forma diagonal, cinco ondas na elipse destacada. Caso uma sequência de alta esteja realmente em desenvolvimento, uma retração entre R$ 5,36 e R$ 5,32 pode representar um nível de entrada — movimento que empurraria a onda 5 azul, como indicado com o símbolo em azul. Por outro lado, uma queda abaixo de R$ 5,30 coloca a tese em dúvida, que só seria eliminada com uma quebra clara de R$ 5,26”


Fiz um “romance” acima para descrever aquele momento, quando isso ocorre podem estar certos de que não estou seguro. A moeda se encontra dentro o intervalo apontado, mas sem que haja uma convicção quando observo numa janela de 2 horas. Eu poderia ser inconsequente e “arriscar” uma compra aqui, afinal isso vai de acordo com minha tese de alta, mas mesmo meu amigo querendo me pressionar não vou fazer. Ficam valido todas os níveis acima.


- David, você não é mais o mesmo, no passado tenho certeza de que entraria.

Se é sua essa percepção não sou mais o mesmo no bom sentido. Vou explicar meus motivos: Como comentei acima e destaquei no gráfico com a elipse a formação da onda diagonal de alta, essa onda pode ser classificada de outra forma, caso o dólar comesse a cair de novo, sendo assim, a segurança só ocorre quando ultrapassa R$ 5,42. Além do mais, nenhuma formação de 5 ondas de alta é visível. Agora me diz, por que eu deveria sugerir uma compra? Vou esperar indicações mais firmes.

O S&P 500 fechou a 6.812, com queda de 0,53%; o USDBRL a R$ 5,3567, com alta de 0,39%; o EURUSD a 1,1609, sem variação; e o ouro a U$ 4.237, com alta de 0,44%.

Fique ligado!

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