"Buy the Dips" funciona? #S&P 500


 A obsessão por acertar o ponto exato de entrada no mercado continua firme. A cada correção um pouco mais forte, reaparece a velha pergunta: agora é a hora? O investidor olha o preço, olha o gráfico, olha o noticiário e tenta convencer a si mesmo de que, desta vez, o fundo está logo ali. Essa tentativa recorrente de ser mais esperto do que o mercado raramente termina bem.

O Mosca insiste há anos em um ponto simples, mas incômodo: portfólio não se constrói com análise técnica de curto prazo. Se fosse assim, ninguém teria paz. Comprar, vender, recomprar, reduzir, aumentar — tudo em função de oscilações que, no fim, pouco dizem sobre o ciclo maior. A análise técnica existe para calibrar risco, não para comandar decisões estruturais. Quando ela vira volante, o resultado costuma ser excesso de giro e erro em sequência.

A dúvida aparece logo no início: como entrar no mercado? Tudo de uma vez? Aos poucos? Esperando cair? Ou seguindo uma rotina automática de aportes? Nos últimos anos, a resposta “moderna” passou a ser quase sempre a mesma: comprar na queda. A narrativa é confortável, parece racional e ainda dá ao investidor a sensação de estar sendo disciplinado.

O problema é que conforto narrativo não gera retorno.

Um estudo amplo da AQR, cobrindo quase seis décadas de dados do mercado americano, coloca essa estratégia sob teste. Não em uma ou duas versões, mas em centenas de combinações possíveis de profundidade da queda, duração e tempo de permanência. A conclusão é clara: na média, tentar comprar após quedas entregou desempenho ajustado ao risco inferior ao simples ato de permanecer investido.

 

 

Isso ajuda a recolocar o debate no lugar correto. A construção do portfólio não começa tentando adivinhar o fundo. Começa aceitando que o prêmio de risco da renda variável é capturado ao longo do tempo, não em janelas pontuais. Ficar esperando “o momento certo” frequentemente significa ficar de fora dos movimentos mais importantes.

Outro ponto que o estudo escancara é a confusão entre estrutura e tática. O núcleo do portfólio precisa ser pensado para atravessar ciclos. Ele não reage a cada correção nem a cada manchete. Já os ajustes vêm depois, de forma gradual. Mercado construtivo, exposição mais cheia. Ambiente deteriorando, redução progressiva. Sem zeragens dramáticas, sem apostas heroicas.

A ideia de esperar cair para comprar parece prudente, mas carrega dois vícios conhecidos. Primeiro, o mercado muitas vezes sobe antes de cair. Segundo, quando a queda realmente acontece, o investidor hesita. O estudo mostra que essa espera sistemática não melhora o resultado. Se o capital é para estar em risco, ele deve entrar. O resto é racionalização ex post.

O ponto mais desconfortável talvez seja o papel da tendência. Comprar na queda, na prática, costuma significar se posicionar contra o momentum. Tendências não acabam porque ficaram caras ou porque corrigiram alguns pontos percentuais. Elas costumam persistir. Ao tentar antecipar a reversão, o investidor frequentemente aumenta risco no momento errado.

Isso fica evidente quando se observa o comportamento dessas estratégias nos grandes drawdowns. Em quedas prolongadas, quem insiste em comprar permanece exposto enquanto o mercado continua descendo. Estratégias alinhadas ao regime sofrem menos e, sobretudo, permitem continuidade — algo subestimado, mas essencial.


 

Daí a principal implicação prática para o portfólio: tendência funciona como filtro de exposição, não como gatilho de compra compulsiva. Quando o ambiente piora, reduz-se risco. Quando melhora, recompõe-se posição. Isso é muito diferente de tentar “aproveitar” cada queda como se todas fossem oportunidades.

Liquidez, nesse contexto, também muda de papel. Não é munição para apostar no fundo, mas ferramenta de gestão de risco. Serve para amortecer volatilidade e permitir realocação quando o regime muda, não para antecipar essa mudança.

No fim, acertar o timing não se faz prevendo o próximo movimento, mas evitando erros estruturais. O mercado não pune quem erra o ponto exato de entrada; ele pune quem insiste em lutar contra ele. O investidor que entende isso para de procurar o fundo e passa a se preocupar com algo mais relevante: atravessar os ciclos sem destruir o próprio capital — financeiro e emocional.

Para fechar, vale insistir no que realmente funciona: simplificar. Faça do seu investimento algo operacional, quase burocrático. Defina, por exemplo, que 20% do montante destinado à bolsa será aplicado todo dia “X” do mês. Sem exceção. Para não ser influenciado quando esse dia chegar, delegue a execução ao seu banker e deixe claro: não ligue, não dê opinião, não sugira nada — apenas execute. O ajuste de exposição vem depois, com o uso de ferramentas técnicas, de forma fria e racional. E, sobretudo, evite a tentação de “dar uma alavancadinha”. Não existe enriquecimento consistente da noite para o dia. Existe, sim, a possibilidade bem real de perder parte de um patrimônio que fará falta lá na frente. O mercado aceita disciplina, mas cobra caro a imprudência.


Análise Técnica

No post “eu-odeio-previsoes-anuais” fiz os seguintes comentários sobre o S&P 500: “Mantenho, portanto, os mesmos níveis técnicos mencionados anteriormente”..” o critério apontava níveis entre 7.158 e 7.197, com um potencial adicional próximo de 5%”


Acabei refazendo a contagem que acarretou num objetivo maior que o anterior. Como podem ver na figura abaixo, a bolsa estaria complementando a onda 2 azul – retração que pode estar contida dentro do retângulo, resultando num objetivo entre 7.450 / 7.531correspoondendo a aproximadamente 10% acima do atual.


- David, se fizer aquele jogo de sete erros entre duas figuras – sabe, aquele de criança, o seu gráfico da semana passada e este não bate nada com nada. Se continuar assim vou acreditar que você está manipulando o resultado!

As vezes seus comentários me surpreendem, parece que não lê os posts! Há quanto tempo estou falando que a contagem de ondas para a bolsa americana não é clara admite várias interpretações? Da semana passada para está refiz de novo. Vou repetir o que disse no post acima: “em uma janela de duas horas, era possível observar a formação de cinco ondas no S&P 500 — com duas interpretações possíveis”.

Quero deixar claro que a colocação de hoje era a melhor que encaixava com os movimentos recentes e que precisa ser acompanhada.

Estamos contando com a alta que tradicionalmente ocorre no final do ano. Espero que o Papai Noel não nos decepcione desta vez.

O S&P 500 fechou a 6.800, com queda de 0,24%; o USDBRL a R$ 5,4737, com alta de 1,09%; o EURUSD a € 1,1746, sem variação; e o ouro a U$ 4.303, sem variação.

Fique ligado!

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