Pênalti sem goleiro #S&P 500
Sempre que o mercado caminha em uma única direção com convicção exagerada, eu lembro do que dizia meu ex-sócio Gil Faiwichow: em certas fases, investir é como bater um pênalti sem goleiro — só perde quem escorrega. É exatamente assim que vejo o bitcoin hoje: não há goleiro, não há defesa, não há racionalidade disposta a segurar a bola. A estrutura inteira ficou sem estradas de retorno.
E o
caso mais emblemático dessa situação é Michael Saylor. Depois de cinco anos
repetindo o evangelho do “nunca venderemos bitcoin”, agora admite que venderá —
não por vontade, mas por necessidade. A própria Strategy Inc., sua empresa,
abriu mão do dogma ao reconhecer em relatório e entrevistas que pode ter de
liquidar parte das posições se o valor da ação cair abaixo do valor dos
próprios bitcoins que detém, algo já perto de acontecer segundo o Wall Street
Journal e a Bloomberg.
A queda
superior a 30% desde outubro e o derretimento simultâneo de altcoins expuseram
um ponto central: a Strategy não tem modelo de negócios capaz de sustentar o
peso da própria narrativa. Foi obrigada a montar uma reserva de US$ 1,44 bilhão
para pagar dividendos e juros por até 21 meses, financiada pela emissão de
ações. Uma empresa que precisa vender capital próprio para honrar compromissos
básicos está, no mínimo, empurrando a sobrevivência com a barriga.
Esse
movimento reforça algo que escrevi aqui repetidas vezes: duas teses
fundamentais que sustentavam o entusiasmo com o bitcoin fracassaram. Primeiro,
o dólar não virou pó — continua sendo a âncora de confiança global. Segundo, as
stablecoins assumiram o papel de moeda funcional. E funcionam por um motivo
simples: são lastreadas em títulos americanos. Ou seja, venceram justamente
porque são dólares, não porque são “cripto”.
O
descolamento já é tão óbvio que até as redes sociais estão comentando: a
Strategy vale hoje cerca de US$ 10 bilhões menos do que o valor dos bitcoins
que possui. Se o mercado está avaliando a empresa abaixo de seus próprios
ativos, é porque não acredita que ela conseguirá segurá-los. É a antecipação de
um desmonte.
A
confissão pública do problema está descrita no episódio em que Saylor e o CEO
Phong Le admitem que poderão vender bitcoin “no melhor interesse dos
acionistas”. Ou seja, o dogma do “nunca vender” foi abandonado assim que bateu
na porta a necessidade de caixa. A fé esbarrou no balanço.
E aqui
entra um ponto que considero crucial: como empresa aberta, a Strategy é
obrigada a fornecer projeções trimestrais. Mas que tipo de “guidance” pode ser
elaborado quando o modelo depende exclusivamente do humor do bitcoin? No último
relatório, a empresa sinalizou uma faixa entre US$ 85 mil e US$ 110 mil para o
preço da criptomoeda no fim de 2025, previsão que está claramente mais para
torcida do que para projeção formal. Ninguém imagina que, há 90 dias, alguém
tenha levantado a mão na reunião e sugerido: “vamos projetar queda de 30% no
nosso único ativo gerador de valor”. Isso não é guidance — é fé
institucionalizada.
E há
uma classificação financeira perfeita para esse tipo de estrutura. Segundo
Hyman Minsky, quando uma empresa já não gera caixa suficiente nem para pagar
juros e precisa emitir capital novo para cobrir obrigações antigas, ela está no
estágio de financiamento Ponzi. Outra definição equivalente, usada por
organismos internacionais, é a de empresa zumbi: sobrevive apenas enquanto o
mercado aceita fornecer capital fresco. Difícil olhar para os números da
Strategy e não enxergar esse enquadramento.
Os
artigos anexados mostram como esse modelo contaminou o restante do mercado.
ETFs alavancados ligados à Strategy (MSTX, MSTU, MSTP) acumulam quedas
superiores a 80% no ano, devastando investidores de varejo que acreditaram
estar “turbinando” retornos numa aposta supostamente assimétrica. Na prática,
estavam apenas ampliando o risco de um esquema que dependia cada vez mais da
entrada de capital novo para não desmoronar.
A
Bloomberg chega a se referir ao modelo como uma “máquina de hype com falhas”,
ressaltando que o preço do bitcoin já está abaixo do custo médio pago pela
própria Strategy, o que corrói a lógica interna do arranjo. Se o ativo que
deveria salvar a empresa está, na média, abaixo do preço de aquisição, o que
sobra é apenas esperança de que o mercado volte a inflar a bolha a tempo de
todo mundo sair pela mesma porta estreita.
Há
também implicações sistêmicas: a S&P Global alertou que uma queda
prolongada pode comprometer até a estabilidade das stablecoins, caso o valor
dos seus colaterais se desalinhe. E não podemos ignorar outro fator crítico: em
15 de janeiro de 2026, a MSCI decidirá se expulsa a Strategy de índices globais
— evento que pode forçar vendas entre bilhões de dólares em ações ligadas à
empresa. Quando o investidor institucional começa a fechar a porta, o “ativo da
nova era” descobre que continua sujeito às mesmas regras de liquidez de
qualquer outro papel tradicional.
O texto
da Bloomberg sobre investidores de varejo mostra o óbvio: em ciclos assim, os
primeiros a correr são os insiders; os últimos são os pequenos. Eles entraram
no auge da euforia, via ETFs alavancados, acreditando que compravam convicção
institucional. Estavam, na verdade, financiando a sobrevivência de uma empresa
sem caixa. A ironia é que o varejo imaginou estar entrando num futuro
brilhante, quando na realidade estava pagando a conta de uma estrutura que já
havia descolado da realidade.
Ao
juntar tudo — as contradições internas, a dependência de emissões, a ausência
de fluxo de caixa, a instabilidade das stablecoins, a pressão regulatória e os
riscos de exclusão de índices — a conclusão é clara: a Strategy está diante de
um pênalti sem goleiro. Só que, ao contrário das metáforas otimistas, aqui quem
chuta não é o investidor — é o mercado. E o mercado não treme na hora de
finalizar.
A
pergunta já não é se o bitcoin sobreviverá — ele sempre encontra uma nova
narrativa.
A pergunta verdadeira é:
Será
que a Strategy sobrevive ao bitcoin?
Eu tenho minha resposta.
ANÁLISE TÉCNICA
No post “past copy” fiz
os seguintes comentários sobre o S&P 500: “A bolsa atingiu a mínima em
6.521 na última sexta-feira, ficando muito próximo do nível apontado acima como
mais provável e iniciou uma reversão. É provável que a onda (4) vermelha
tenha terminado e estamos rumando para o objetivo de 7.163. Estou aguardando a
formação de 5 ondas numa janela menor para confirmar essa hipótese”
Numa janela de 2 horas é possível observar a formação de 5 ondas – existem duas interpretações. Essa onda parece muito forte e nessas situações não se pode negociar muito na entrada. Como venho comentando, está desafiador a contagem de ondas e segundo as duas que sigo vou alterar para a mais conservadora, mas a outra me parece mais factível.
Quais seriam esses
objetivos? No critério apresentado a seguir seria entre 7.158 / 7.197 com uma
alta potencial de 5%, no outro caso objetivo mínimo de 7.450, uma lata nada
desprezível de 10%. Estou pronto para entrar fiquem atentos. Sob o ângulo
traçado se existe bolha não parece que estaria próxima de estourar!
O S&P 500 fechou a 6.829, com alta de 0,25%; o USDBRL a R$ 5,3276, com queda de 0,54%; o EURUSD a € 1,1623, com alta de 0,12%; e o ouro a U$ 4.210, com queda de 0,50%.
Fique ligado!
Comentários
Postar um comentário