SexTech #nasdaq100 #NVDA
A partir de hoje, toda
sexta-feira será a SexTech, um espaço fixo para analisar a semana do setor que
mais concentra poder econômico, político e energético do planeta: a tecnologia.
Usei esse título provocativo porque é assim que funciona no Mosca — um nome que
prende a atenção e um conteúdo que exige do leitor reflexão, não acomodação. E
a primeira edição já começa com um conjunto de dados que revela a pressão
crescente sobre a infraestrutura que sustenta a inteligência artificial.
O elemento mais
marcante da semana é o avanço dos centros de dados. As projeções mais recentes
mostram que o espaço físico dedicado ao processamento deve crescer mais de 30%
ao ano até 2027, movido pela demanda de modelos avançados. É um crescimento
incompatível com o ritmo natural das redes elétricas. Nos EUA, estimativas
apontam que o consumo associado à IA pode ultrapassar 8% de toda a eletricidade
nacional ainda nesta década. Países como Irlanda já estão próximos de 20%. O
termo “nuvem” nunca foi tão inadequado: é concreto, aço, cobre e quilowatts.
Essa expansão tem uma
raiz que atravessa tudo: a cadeia de materiais críticos. O relatório de terras
raras deixa claro que a China mantém entre 80% e 90% do refino global desses
minerais, além de controlar mais de 70% da produção dos ímãs permanentes que
equipam motores, turbinas e servidores. É uma dependência estrutural, difícil
de contornar. A reativação de minas ocidentais leva mais de 10 anos, enquanto a
demanda cresce em ciclos de 18 meses.
A resposta chinesa às
restrições externas também foi evidente nesta semana. A Huawei apresentou
servidores e chipsets mais eficientes do que se imaginava possível após as
sanções. O que era para ser uma fragilização tornou-se estímulo à reorganização
da cadeia interna, um movimento que altera previsões e já pressiona
fornecedores tradicionais.
Outro relatório revela
um fenômeno igualmente relevante: a mudança na composição da força de trabalho.
O relatório de contratações confirma que a modernização digital está produzindo
um deslocamento intenso da estrutura ocupacional. Funções operacionais e
administrativas acumulam quedas superiores a 25% em dois anos, enquanto áreas
de automação, engenharia de dados e integração de sistemas cresceram mais de
40%.
Esse descompasso
explica porque tantas companhias reportam simultaneamente escassez de talentos
e excesso de mão de obra. A economia real está se afastando das funções
tradicionais e concentrando produtividade em camadas altamente técnicas.
O relatório do Goldman
Sachs mostra ganhos de eficiência entre 6% e 18% em empresas que integraram
modelos gerativos aos fluxos de trabalho. Os maiores impactos aparecem em
documentação, síntese de informação, atendimento automatizado e análise de
texto. Mas o ponto mais importante não é o ganho — é o custo. A adoção não é
gratuita: exige capital, treinamento e renovação constante de hardware.
O relatório sobre
depreciação tecnológica evidencia essa pressão. Equipamentos industriais de
alto valor, que antes tinham vida útil estimada entre 4 e 5 anos, agora perdem
relevância econômica em 18 a 30 meses. É um ritmo impossível para empresas
pequenas. A consequência é concentração: poucos conseguem acompanhar a troca
contínua de hardware e capturar os ganhos da IA.
No campo das
recomendações de mercado, Yardeni fez um movimento relevante: reduziu a
exposição ao setor de tecnologia, não por discordar do potencial de longo
prazo, mas porque reconhece que parte das expectativas já foi precificada. É
como tirar algumas fichas da mesa sem abandonar o cassino — um ajuste tático,
não estratégico. Ele continua acreditando na dominância das empresas que
comandam a infraestrutura da IA, mas prefere redistribuir parte do risco no
curto prazo. O Mosca, porém, não vê motivo para alterar rota: permaneço
direcionado ao setor Tech, porque os dados mostram que ele continua capturando
produtividade, escala e poder estrutural em ritmo superior a qualquer outro
segmento da economia.
Outro relatório
importante é o que detalha as vantagens competitivas do Google. A empresa opera
com acesso privilegiado a bases de dados, possui escala de processamento
incomparável e consegue treinar modelos com um nível de otimização ainda
inalcançável para concorrentes menores. Isso cria uma barreira de entrada real,
não teórica. Em um setor onde o custo de treinamento cresce de forma
exponencial, vantagem de escala vira vantagem permanente.
O material sobre
“sprints tecnológicos” revela que empresas capazes de executar ciclos completos
de desenvolvimento em menos de 12 semanas têm desempenho superior em métricas
de produtividade e inovação. É uma corrida contra o tempo — e contra a própria obsolescência.
Quanto mais rápido o ciclo, maior a pressão sobre equipes, fornecedores e
capital.
O conjunto dos dados
mostra que a tecnologia não está apenas crescendo — ela está absorvendo
energia, materiais, investimento e capacidade produtiva numa velocidade sem
precedentes. A SexTech nasce justamente para analisar essa convergência semanal
de forças. Não é um espaço para previsões fáceis, mas para entender como
infraestrutura, geopolítica, mercado de trabalho, semicondutores e capital
interagem num setor que redefine as bases da economia global.
O leitor do Mosca sabe
que não há como interpretar o mundo atual sem enxergar a raiz tecnológica de
quase todas as transformações. A SexTech é a forma de examinar essas raízes,
sempre às sextas, de maneira direta, informada e — quando necessário — desconfortável.
Análise
Técnica
No post “o-mercado-enquadrou-nvidia”, fiz os seguintes comentários sobre a Nasdaq 100: “enquanto
não ultrapassar o nível de 26.166, a onda 4 vermelha pode estar em
curso. Falta pouco, menos de 2%. O mercado vai nos dizer se a ameaça de término
da onda (III) vermelha é real ou vou ter que refazer minhas hipóteses”.
Nesta semana, o setor de tecnologia ficou para trás, enquanto o S&P 500 atingiu a máxima histórica; a Nasdaq 100 está titubeando. Como comentei, o mercado está desconfiado com a IA e seus investimentos enormes e, como tal, resolveu fazer uma mudança: saindo desse setor e indo para o mais tradicional — as 493 outras empresas que têm um P/L barato em comparação com as Sete Magníficas. Ou melhor, quem tem a “Carteirinha”. Ontem foi a vez da Broadcom, que apresentou seus resultados e depois caiu 10%. Também: estava na dianteira das outras.
Do ponto de vista
técnico, aguardo o rompimento do nível de 26.166. O leitor não deve ficar com a
impressão errada: não é que o setor de tecnologia virou um mico, só que está
subindo menos que os outros.
Em relação à Nvidia, comentei: “Recebi informações que o mercado está vendido em Nvidia e, mesmo assim, suas ações não sofreram muito. Porém, não solte rojões: ela precisa se afastar do nível de U$ 164,16 para que minha contagem seja válida”.
A “Queridinha” está caindo no esquecimento — ou melhor, está gerando preocupação para quem tem esta ação. Mesmo com seus resultados, que mantêm o ritmo alucinante de vendas e lucro, seu P/L já está próximo de 20, o que contrasta com a maioria dos seus pares. Também, nesta semana levou de todos os lados: ameaça do Google, competição chinesa da Huawei, e mais todas as outras preocupações do setor. Em termos de posição, vejam quão distante ficou do S&P 500 e da Nasdaq 100: conforme comentários de hoje, ela está ainda bem distante de sua máxima — 14%. Let’s see!
Uma das casas mais
respeitadas em pesquisas econômicas, a Gavekal, tem um call de investimento na
China. Suas razões, de forma reduzida: déficit americano e dólar como moeda
fraca. À primeira vista, parece fazer sentido, pois esse país é um grande
gerador de superávit. Mas os dados macro não são assim tão convincentes.
Em relação à dívida
dos indivíduos, a chinesa é igual à dos outros países, com um agravante: como é
composta majoritariamente pelo setor imobiliário — onde os preços estão em
queda há anos — isso é uma preocupação para a saúde dos bancos. Já nos EUA, essa
dívida também é das residências, mas a existência de uma parcela grande de
ações torna a proporção sobre o total de ativos pequena.
As empresas chinesas
são, de longe, as mais endividadas quando comparadas com outras partes do
mundo, onde se destacam as americanas, com o menor nível — e cuja valorização
das ações minimiza esse aspecto.
Por último, a
governamental: embora a americana seja maior que a chinesa, não é muito
distante. O que, sim, chama a atenção é a japonesa, que vai começar a pagar a
conta em função da alta dos juros que vem ocorrendo por lá.
De uma forma geral,
não parece que os EUA estão numa situação catastrófica como a Gavekal quer
fazer crer.
O S&P 500 fechou a 6.823, com queda de 1,12%; o USDBRL a R$ 6,4178, sem variação; o EURUSD a € 1,1746, sem variação; e o ouro a U$ 4.299, com alta de 0,46%.
Fique ligado!
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