O dólar ainda não virou pó #USDBRL

 


Estamos chegando ao final do ano e os investidores, como de costume, já começam a operar com a cabeça no calendário seguinte. Os resultados estão praticamente dados, as posições foram reduzidas e o mercado entra naquele modo híbrido entre balanço e aposta. Na próxima semana faço minhas previsões de mais longo prazo, mas esse é um assunto que fica guardado por ora. Antes disso, vale olhar com calma para uma narrativa que ganhou força ao longo do ano: a de que o dólar estaria condenado.

Não falo aqui do dólar contra o real, mas do dólar contra ele mesmo — o “dólar-dólar”, como dizia o pai de um leitor. Criou-se um consenso curioso de que a moeda americana deveria perder valor. Para alguns, de forma gradual e civilizada; para outros, de maneira quase terminal, com direito a manchetes decretando que o dólar iria “virar pó”. Com tanta pressão concentrada na mesma direção, a moeda acabou cedendo algo próximo de 10% no ano, o que foi suficiente para transformar correção em profecia.

Nunca comprei essa visão mais dramática. Não por teimosia, mas porque ela ignora o funcionamento real do sistema financeiro internacional. A retórica é sedutora, especialmente quando embalada por déficits elevados, disputas políticas e ruídos geopolíticos. Mas moeda de reserva global não se dissolve por decreto nem por desejo coletivo.

Os dados ajudam a colocar o debate de volta no chão. O fluxo líquido de capitais para os Estados Unidos continua elevado, em níveis próximos de recorde, contrariando a tese de fuga estrutural de recursos.

 

 

O mesmo vale para os títulos do Tesouro. Apesar de uma redução marginal por parte de bancos centrais, os investidores privados ampliaram suas posições, levando o estoque total de Treasuries em mãos estrangeiras a um novo recorde histórico.

 

 

Mais revelador ainda é o destino do capital. As compras estrangeiras de ações americanas superaram as aquisições de títulos públicos, o que reforça a confiança no sistema produtivo e institucional dos Estados Unidos.

 

 

Nesse cenário, chama atenção o desempenho relativo dos ativos frequentemente apresentados como substitutos naturais do dólar. O ouro cumpriu seu papel tradicional e acumulou forte valorização. Já o bitcoin, que deveria se beneficiar de uma suposta crise de confiança monetária, mostrou fragilidade.

 

 

O debate ganha outra camada ao se observar a sucessão no Federal Reserve. Jerome Powell deixa o comando no próximo ano e a disputa por seu sucessor traz ruídos relevantes. Kevin Hassett surge como um dos nomes mais prováveis, defendendo que, mesmo sob pressão política, as decisões do Fed continuem baseadas em dados e consenso institucional.

Isso não elimina riscos. Qualquer tentativa de interferência mais direta teria impacto imediato sobre o dólar. Mas risco não é sinônimo de colapso, e o mercado sabe distinguir bem uma coisa da outra.

O problema das narrativas absolutas é que elas ignoram alternativas reais. Para o dólar perder seu papel central, alguém precisa ocupar esse espaço. Até aqui, nenhuma moeda oferece liquidez, escala e segurança comparáveis.

O dólar pode até perder brilho em alguns momentos. Mas, gostem ou não, segue longe de virar pó.


Análise Técnica

No post “a-armadilha-da-bolha”, fiz os seguintes comentários sobre o dólar: “observar nos próximos dias e, se por acaso houver o rompimento do nível de R$ 5,56, minha propensão de assumir uma mínima se eleva; caso contrário, pode estar se formando um triângulo na onda 4 azul (destacada), que deveria ser empurrada para a direita”.


Por enquanto, não há resolução quanto à direção que o dólar pretende seguir. Destaquei a região em que ele se encontra contido, pois parece estar formando um triângulo, padrão que ocorre com bastante frequência em ondas 4. Eu poderia forçar a barra e até enxergar cinco ondas nesse último movimento, mas o que fica mais evidente são três ondas contidas dentro do retângulo, ora para cima, ora para baixo. Sem torcida. Resta aguardar.


O S&P 500 fechou a 6.816, com queda de 0,16%; o USDBRL a R$ 5,4205, sem variação; o EURUSD a € 1,1750, sem variação; e o ouro a U$ 4.303, sem variação.

Fique ligado!

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