O voto de desconfiança #OURO #GOLD #EURUSD

 


Quando o Fed anunciou ontem mais um corte de 25 pontos-base, o mercado reagiu como se fosse o início de uma nova fase de estímulos. Mas, quando a poeira baixa e você olha o dot plot — aquele mapa de projeções que todos fingem interpretar com precisão — o que aparece não é um voto de confiança. É justamente o contrário: um voto de desconfiança, silencioso, mas retumbante.

A queda da taxa foi aprovada, mas não porque todos acreditavam nela. Os artigos de hoje deixam explícito que muita gente votou “sim” apenas para não se indispor com Powell, mas registrou nas projeções que não concordava. No FOMC, ninguém quer ser lembrado como o chato que trava consenso… então carimbam o corte com a mão, mas arrancam o couro com a caneta.

Se você olha para 2025, as projeções não batem com o corte aprovado. E, quando avança para 2026, 2027 e 2028, vira um festival de discordâncias. O intervalo para 2027 vai de 2,25% a 3,75%. Isso não é política monetária: é torcida organizada. E quando o centro da banda tem esse tipo de ruído, a média não vale nada.

 

 

Essa dispersão não é trivial. Nunca vi algo assim. Powell está na reta final do mandato, Trump já anunciou que quer alguém “honesto com juros”, e a frase diz tudo: quer alguém disposto a cortar mais. Só que a realidade é outra: sete dos dezenove membros acham que não haverá motivo para cortes adicionais no próximo ano. Formar consenso será um desafio enorme — e as primeiras rachaduras já surgiram.

A Bloomberg mostrou que vários presidentes regionais, mesmo sem voto este ano, se posicionaram contra o corte. Esse grupo representa a ala que historicamente pressiona por juros mais altos. E como Trump pretende colocar Kevin Hassett como próximo presidente, essas vozes podem ganhar intensidade.

 


Mas talvez a parte mais explosiva não esteja nas taxas futuras, e sim no mercado de trabalho. Powell admitiu que o BLS pode estar superestimando empregos em até 60 mil por mês. Desde abril, os dados oficiais sugerem criação líquida de 40 mil vagas — mas, com o erro, isso vira perda de 20 mil. Ou seja, talvez o Fed esteja cortando porque a economia é mais fraca do que parece.

 

 

Se o mercado de trabalho está pior, e o Fed está cortando por causa disso, qual é o risco real? O risco é o Fed entrar na fase mais perigosa: cortar juros sem união interna, sem clareza de diagnóstico e com pressão política explícita. Se os efeitos da IA já começam a aparecer no mercado de trabalho, cortar juros não vai criar empregos; pode até acelerar a economia quando isso não é necessário.

John Authers cravou isso: o corte foi “hawkish”, mas o mercado interpretou como “dovish”. Resultado: bolsas subiram, juros longos caíram e a prata renovou recordes. Investidores cheiram crescimento forte com inflação controlada — mas essa narrativa depende de um pressuposto frágil: que o Fed consegue controlar expectativas enquanto está politicamente dividido.

Powell sabe disso. A frase dele — “Quando você faz isso, é isso que você vê” — resume tudo.

O Fed voltou a expandir o balanço de forma “técnica”. Será técnica? Parece muito mais suporte direto ao Tesouro. Esse movimento alimenta a narrativa de perda de independência. Steven Blitz disse: “você pode esquecer o mercado sinalizando que o governo está gastando mais do que consegue absorver”.

 

 

Enquanto isso, o mundo está entupido de dívida. O monitor do IIF mostrou crescimento de 8 trilhões no trimestre, com EUA e China liderando. Não é coincidência que o ouro esteja forte: quando investidores percebem risco de debasement, correm para proteção.

 


O quadro final é claro: Fed dividido, mercado de trabalho mais fraco, inflação controlada, mas política monetária entrando em território perigoso — onde pressões políticas, incerteza institucional e erros estatísticos se misturam. Powell tenta atravessar seus últimos meses sem virar bode expiatório.

O corte de ontem não foi um voto de confiança. Foi um voto de desconfiança — silencioso, envergonhado e disfarçado. E quando a autoridade monetária precisa pedir favores para formar maioria, o mercado pode até comemorar. Mas a história mostra que, mais cedo ou mais tarde, a conta chega.


Análise Técnica

No post “ganhei-uhuuul” fiz os seguintes comentários sobre o ouro: “Como ficamos? Agnóstico, o ouro pode subir – inclusive consigo enxergar 5 ondas de forma diagonal destacado com o símbolo em azul, bem como pode cair a níveis mais baixos no rompimento da mínima citada. Não tenho nenhuma indicação qual caminho irá traçar”.


Nos últimos cinco dias, o ouro ficou “enxugando o gelo”, como se diz na gíria, restrito a uma oscilação de U$ 100 entre U$ 4.260 e U$ 4.160 — talvez esperando a decisão do Fed. Enquanto outros mercados tomaram seu rumo, o metal continua ali, sem saber se arrisca novas altas (o que me parece um pouco mais provável, apenas um pouco) ou quedas. Como não estou aqui para adivinhar, vou deixá-lo se decidir. Destaco que ainda pode estar formando um triângulo.


Em relação ao euro, comentei: “Surgiu uma possibilidade ao analisar o gráfico: poderia estar completando um triângulo; nessa hipótese, depois de finalizar a onda d/e laranja, a moeda deveria subir até os níveis apontados no retângulo, o que anularia a ideia de queda a níveis de € 1,10, citada no post acima”.


Assim como o ouro, o euro não deu muitas pistas sobre seu rumo. Embora seja provável que esteja dentro de um triângulo — o que combina com o metal —, eu não gosto dessas associações. Normalmente, o movimento desses dois ativos é na mesma direção… até a hora em que não é! Não levo isso muito em consideração, mas fica a observação.


— David, pelo que eu sei, triângulos, depois de formados, tendem a seguir na direção que prevalecia antes. Sendo assim, o euro e o ouro deveriam subir. Por que não compra?

Está ficando craque — é isso mesmo. Acontece que você só sabe que um triângulo está em andamento quando ele termina. No meio do caminho, podem surgir outras configurações. Já vi muitos deles “aprontarem”. Espere um pouco até ter uma convicção maior.

O S&P 500 fechou a 6.901, com alta de 0,21%; o USDBRL a R$ 5,4062, com queda de 1,22%; o EURUSD a € 1,1742, com alta de 0,40%; e o ouro a U$ 4.273, com alta de 1,07%.

Fique ligado!

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