Deu Ruim #IBOVESPA

 

Há expressões que os jovens criam e que precisam de tradução. Mas essa dispensa manual de instruções: deu ruim. E a escolha do título não poderia ser mais adequada para o ambiente que se formou no mercado de juros nos últimos dias. O que está acontecendo na curva americana tem cheiro de anomalia, aparência de alerta e consequências que ninguém quer verbalizar com todas as letras.

Hoje o Fed anuncia mais uma redução de 25 pontos-base — isso já está dado. A questão real é o que vem depois. Economistas de todos os calibres convergem para a mesma projeção: os Fed Funds devem estar perto de 3% dentro de um ano. Até aí, nada demais. O problema é que a curva de juros está contando uma história diferente. E, convenhamos, a curva quase sempre sabe mais do que comunicados e discursos cuidadosamente calibrados.

Comecemos pelo fato mais gritante: a taxa de 2 anos recua enquanto a de 10 anos atinge as máximas do ano, ampliando o diferencial para quase 100 pontos, algo que não víamos desde 2009. O consenso das publicações financeiras é explícito — o mercado está vivendo uma reprecificação simultânea de expectativas, fiscal e risco inflacionário. Em outras palavras: se deu ruim na parte curta, está dando pior na longa.

 

 

A disparidade não surge do nada. Ela é alimentada por um conjunto de fatores que, separados, já causariam desconforto. Juntos, formam uma equação preocupante.

O primeiro deles é o déficit americano crescente, agora guiado por uma estratégia fiscal que beira a imprudência. Como mostra Perera, quase 70% de toda a emissão recente do Tesouro está concentrada em T-Bills, papéis de curtíssimo prazo que vencem em semanas e obrigam o governo a rolar dívida numa velocidade insana — e sob qualquer condição que o mercado exigir.

 


Quando o estoque de dívida é um barril de pólvora, qualquer faísca vira incêndio. E a inflação ligeiramente acima do alvo — teimando em ficar perto de 3% — é exatamente essa faísca.

Mais um ingrediente: a troca do comando do Fed em maio. Kevin Hassett, favorito de Trump para substituir Powell, já declarou que existe “muito espaço” para cortar juros, ainda que a inflação esteja longe do ideal.


 

Mas não é só isso. Há um elemento político que ninguém gosta de mencionar em público: a desconfiança gerada pelas ameaças recorrentes de Trump. A lembrança da taxa “Mar-a-Lago”, sugerida informalmente no início do primeiro mandato, reforça a percepção de risco entre investidores.

Além disso, o processo de redução do balanço do Fed vem drenando liquidez enquanto o Tesouro precisa emitir mais. Isso significa demanda marginal mais fraca por Treasuries longos — e juros mais altos.

Scott Bessent, secretário do Tesouro, entende o problema. O dilema é explicar isso para Trump. Talvez por isso tenha optado pelo caminho mais simples: emitir ainda mais títulos curtos.

No pano de fundo disso tudo, está a economia americana crescendo. Se esse fosse o único motivo para juros longos mais altos, o mercado celebraria. Mas não é o caso. O que temos é uma mistura de déficits gigantes, rolagem irresponsável, incerteza institucional e mudança iminente no comando do Fed.

Essa combinação faz com que a taxa de 10 anos ao redor de 4% ou 4,5% não seja o problema. O problema é o motivo dessa taxa.

Trump deve se frustrar profundamente se chegar dezembro do ano que vem com os Fed Funds a 3% e o juro longo ainda elevado. A leitura mais rasa será: “meu candidato está cortando pouco”. E, como já vimos, Trump não lida bem com frustração.

 Se deu ruim hoje, pode apostar: vai dar muito pior lá na frente. Os jovens diriam que virou “deu péssimo”. E, para a curva americana, isso nunca é bom sinal.

 

Análise Técnica

No post “a-nova-profissão-IAdista” fiz os seguintes comentários sobre o IBOVESPA: “A onda 4 verde se mostrou mais curta que o esperado e estamos agora rumo a onda 5 verde da onda 3 azul. O primeiro objetivo se encontra em 174,9 mil que se ultrapassado deveria atingir 188, 3 mil”


Como comentei no post “o-mercado-enquadrou-nvidia” fomos estopados na posição comprada. A entrada de Flavio Bolsonaro como eventual candidato à presidência da República originou algumas dúvidas sobre quem será o opositor de Lula.

Participei de alguns calls sobre as perspectivas e claro que em todos não garantem que Flavio irá permanecer. Entretanto, no call do banco UBS cujo convidado foi Fábio Zambeli, ele afirmou com uma certa convicção que se Flavio levar a frente sua candidatura e considerando que vai existir a transferência de votos de pai para filho – como ocorreu com a Dilma, ele teria de cara 25% de votos e com essa percentagem dificilmente um outro candidato de direita poderia alcançar, além disso, considera que teria no mínimo 45% dos votos num segundo turno. Ora, nessas condições por que ele iria abrir mão para outra candidatura?

Bem como ficamos agora? Segundo minha contagem a onda 5 verde e a onda 3 azul devem ter concluído embora não possa afirmar com certeza (precisaria cair abaixo de 147,5 mil). A onda 4 azul deveria perdurar por um tempo e só depois caminharia para terminar a onda 5 azul. Vamos aos níveis potencias de queda dessa onda: 154, 4 mil (mais provável) / 148,4 mil / 143,4 mil.


- David, fiquei esperando uma eternidade você se resolver a entrar na bolsa e não deu nem tempo de esquentar os motores!

Bem, pelo menos não perdeu dinheiro. Não vou repetir o que sempre digo da bolsa brasileira. Por tudo isso sempre fico com um pé atras. Tenho duas observações a fazer: primeiro enfatizar que ondas 5 são perigosas pois podem terminar antes do que é o mais provável e segundo e muito importante, está vendo uma linha horizontal vermelha – usei essa cor para que eu naõ esquecesse – ela representa a igualdade de um movimento anterior que não aparece neste gráfico, e foi exatamente lá que o IBOVESPA virou. Está vendo a bombinha vermelha? Se a bolsa ultrapassar esse ponto em 137,4 mil um movimento de queda mais profundo e demorado estará a caminho.

Com tudo que pode ocorrer daqui em diante todas as possibilidades traçadas acima são possíveis. Voltamos a ficar observando.

O S&P 500 fechou a 6.886, com alta de 0,68%; o USDBRL a R$ 5,4742, com alta de 0,75%; o EURUSD a € 1,1691, com alta de 0,56%; e o ouro a U$ 4.229, com alta de 0,52%.

Fique ligado!

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