O medo por trás da alta S&P 500 #nasdaq100
O mercado americano entra em 2026 em um ponto curioso: índices nas
máximas históricas, liquidez ainda abundante e, ao mesmo tempo, uma sensação
difusa de desconforto. Não é euforia aberta. Tampouco é pessimismo. É algo mais
sutil — uma alta sustentada mais pelo receio de ficar de fora do que por
convicção plena.
Esse incômodo fica explícito quando olhamos a
mais recente pesquisa global do Deutsche Bank com seus clientes institucionais,
feita justamente para mapear os principais riscos do próximo ano. E o resultado
é tão revelador quanto desconfortável.
Segundo o levantamento, 57% dos entrevistados apontam o estouro de uma
bolha tecnológica como um dos três maiores riscos para 2026. Não apenas é o
risco número um: ele aparece isolado, com enorme distância para os demais. O
próprio Deutsche Bank afirma nunca ter visto um único risco tão dominante na
virada de um ano.
Isso diz muito sobre o momento atual das bolsas americanas.
A discussão já não é mais sobre se a inteligência artificial é uma
revolução real — isso está resolvido. A questão é outra: quanto dessa revolução
já está no preço e quanto ainda precisa ser entregue. Os múltiplos de algumas
empresas embutem crescimento perfeito, margens elevadas e liderança
incontestável por muitos anos. Qualquer tropeço, por menor que seja, vira
munição para ajustes abruptos.
E aqui surge a primeira contradição relevante: quando praticamente todo
mundo fala em bolha, a bolha perde parte do seu caráter clássico. Em 1999, o
mercado era tomado por uma euforia quase ingênua, espalhada por todos os
setores. Hoje, o excesso é muito mais concentrado. Não é “a bolsa americana”
que parece esticada, mas um grupo pequeno de empresas gigantes, altamente
correlacionadas e cada vez mais sistêmicas.
Essa concentração torna o mercado estruturalmente mais frágil.
Movimentos que antes seriam absorvidos agora se propagam com velocidade.
Correções deixam de ser locais e passam a contaminar índices inteiros. É por
isso que o medo aparece de forma tão clara na pesquisa.
O segundo maior risco apontado é ainda mais sensível: a possibilidade de
um novo presidente do Fed pressionando por cortes agressivos de juros e
provocando turbulência nos mercados. Não se trata de inflação fora de controle
ou recessão iminente, mas de algo que o mercado detesta profundamente — ruído
institucional.
O Fed sempre foi o principal pilar de previsibilidade do sistema
financeiro americano. Qualquer percepção de interferência política, perda de
independência ou decisões erráticas tem potencial para gerar volatilidade
imediata, mesmo em um ambiente macro razoável.
O terceiro grande risco fecha um trio incômodo: uma crise no private
capital. Private equity, private credit e estruturas fora do radar regulatório
cresceram de forma explosiva nos anos de dinheiro fácil. Agora, com juros mais
altos, o problema deixa de ser inadimplência pontual e passa a ser opacidade.
Talvez o dado mais revelador da pesquisa esteja justamente no que não
aparece como preocupação central. Apenas 9% dos entrevistados incluem uma
recessão forte nos Estados Unidos entre seus principais riscos. Um hard landing
seria, portanto, uma grande surpresa.
Isso ajuda a explicar por que os índices continuam sustentados, mesmo
diante de tantos alertas.
O mercado não enxerga colapso no horizonte. Enxerga excesso em pontos
específicos, riscos políticos e fragilidades estruturais — mas não uma quebra
generalizada da economia americana.
Não parece ser um ano de apostas simples. Não é um jogo binário entre
bull market e bear market. O cenário aponta para rotação, seletividade e
timing.
O Nasdaq surge como o mais vulnerável. O S&P 500 carrega peso
excessivo nos mesmos nomes. O Dow Jones aparece como contraponto estrutural.
O consenso está desconfortável. E mercados desconfortáveis raramente se
movem de forma linear.
Se a bolha estoura, o ajuste tende a ser rápido. Se não estoura, a alta
pode continuar alimentada exatamente pelo medo de ficar de fora.
O mercado sobe, mas olha para trás o tempo todo.
A partir daqui, a pergunta deixa de ser narrativa e passa a ser
objetiva: o preço confirma esse medo ou ainda o ignora?
É isso que a Análise Técnica, a seguir, vai tentar responder.
Análise Técnica
No post “bolsas engatando a quinta”, fiz os seguintes comentários sobre
o S&P 500:
“Caso o cenário adotado se concretize, até o meio do ano a bolsa poderia
se retrair até 5.450 (-10%) / 5.095 (-15%) / 4.819 (-21%). Ninguém vai ficar
feliz. Depois, uma alta levaria a bolsa para novas máximas: 7.267 / 7.675 (aí
sim, muito felizes).”
A análise técnica acabou fornecendo um guia bastante alinhado. A queda que ocorreu em abril levou o índice à mínima de 4.835 e, desde então, voltou a subir, encontrando-se atualmente em máximas históricas, provavelmente rumando ao patamar de 7.450 / 8.121 / 8.565. Segundo esse cenário, tudo indica que estamos em um Bull Market. Como podem notar, não será uma linha reta. Haverá obstáculos no meio do caminho. Trata-se de uma situação que exige acompanhamento mais detalhado — algo que o leitor terá aqui.
Em relação ao Nasdaq 100, meus comentários foram:
“Para este ano, a correção da onda 4 laranja deveria
levar o Nasdaq 100 para 19.0 mil (- 13%) / 17.3 mil (- 21%). Em seguida, uma
alta levaria a bolsa da tecnologia para 30.1 mil”
Da mesma forma que o S&P 500 em abril a nasdaq100 atingiu a mínima
de 16.550 para em seguida voltar a subir. Fiz algumas mudanças na contagem e
segundo esse critério estaríamos próximo do término da onda V azul cujo
objetivo estaria entre 28.4 mil / 33.4 mil.
Em um Bull Market, as contagens são sempre desafiadoras. Elas precisam
ser refeitas conforme o mercado continua subindo, mas em algum momento sempre
ocorre uma correção. A partir daí, muito cuidado se faz necessário, pois essa
correção pode ser pequena — uma onda de menor grau —, média — uma onda de grau
médio — ou grande, caso represente uma mudança de tendência.
Seguimos navegando, sempre “ouvindo o mercado”.
O S&P 500 fechou a 6.909, com alta de
0,46%; o USDBRL a R$ 5,5208, com queda de 1,24%; o EURUSD a € 1,1791, com alta
de 0,25%; e o ouro a U$ 4.490, com alta de 1,06%.
Fique ligado!
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