USexit
Todos nós fomos surpreendidos pela vitória de Donald Trump. Como isso foi possível depois das pesquisas darem como certa a vitória de
Hillary? A primeira reação é ficar p&*% da vida com os institutos de
pesquisa. Pela terceira vez nos últimos meses eles erraram em 3 importantes
ocasiões: Brexit, plebiscito na Colômbia, e agora a vitória do Trump denominada
pelo Mosca como USexit.
Primeiro, quero explicar o motivo que me fez associar esse
evento ao da Grã-Bretanha. A meu ver, existe algo em comum nos casos citados
acima: o mundo está clamando por mudanças em seu regime político; onde o
liberalismo perde para o radicalismo de direita.
Depois, como os resultados das pesquisas puderam estar tão
errados? Lembrei-me de um caso que estudei quando estive na Stanford
University. A Ford fez uma pesquisa antes do lançamento de um dos seus maiores
sucessos de venda, o Mustang, onde levaram alguns potenciais compradores do
carro a um evento em que se encontravam os modelos cupê e conversível. A
pergunta feita era: caso comprassem o carro, qual seria a cor escolhida. O vermelho obteve ampla maioria, da ordem de
80%. Com base nessa informação, a Ford fez uma campanha de marketing nacional e
enviou a seus revendedores tal proporção. Qual não foi a sua surpresa a
constatar que o vermelho era a cor de menor venda. O que deu errado? Simples,
quem comprava era o homem, mas quem decidia era a mulher e ela não queria ver
seu marido desfilando num carro vermelho!
Parece que as pesquisas falharam em capturar o voto daqueles
que se sentiam de certa forma envergonhados em apoiar Trump e preferiam não
revelar seu voto, ou dizer que não iriam votar.
Qual o outro recado que se pode inferir desse resultado? A
classe média americana está revoltada com os 1%. Ontem mesmo publiquei um
gráfico que apontava esse grupo como o grande vencedor da globalização. Os 99%
querem mudanças, e Trump foi o veículo que usaram.
O que podemos esperar? Acho muito cedo para qualquer
conclusão, pois tudo que é novo tem certo grau de incerteza. Entretanto,
gostaria de colocar algumas observações mais gerais: Fiquei impressionado com o
controle emocional do Trump ao fazer seu primeiro pronunciamento, não
demostrando nenhuma emoção, o que reafirma sua característica psicótica, pois
era de se esperar o contrário de uma pessoa normal; além do mais, seu
pronunciamento conciliador não se deve levar muito em consideração, pois, para
quem já esteve envolvido em 4 concordatas, sabe que depois de selado o acordo
deve valorizar seus adversários. O que irá importar daqui em diante é observar
o que ele faz e não o que ele fala.
Outro resultado surpreendente é que os Republicanos têm
agora maioria tanto no Senado como na Câmera de Deputados. À primeira vista isso
pode parecer positivo para Trump, mas não se pode esquecer que ele não tem a
concordância de boa parte dos políticos de seu partido; e sozinho ele não
consegue governar.
Em relação a suas promessas de trazer os empregos de volta
aos EUA, ou ele sabe que é mentira e apenas usou como mote de campanha ou não
vai conseguir realizar. Esse é um movimento global de transferência da produção
para países com mão de obra mais barata. A única forma de ter algum sucesso
nessa empreitada seria a de criar barreiras alfandegárias, o que implicaria em
inflação mais alta, parecendo-me a única conclusão mais evidente de sua vitória.
Quanto aos mercados, começaram a reagir conforme o esperado, queda nas bolsas e
ativos de risco em geral, mas à tarde já nota-se uma reversão. Ainda é cedo
para qualquer conclusão.
Para justificar a minha nomenclatura USexit, veja a semelhança
de comportamento nas moedas. O primeiro gráfico foi a reação da libra na hora
do anúncio do Brexit.
Abaixo, a reação do peso mexicano quando Trump foi anunciado
vencedor - escala invertida.
Podemos esperar daqui em diante vários “exit”, como FRexit,
ITAexit e, quem sabe, BRAexit em 2018. Daqui em diante não descarte candidatos
como Bolsonaro; o mundo já está deixando claro que quer mudanças e o candidato
que capturar esse recado leva a eleição.
Provavelmente ficaremos mais alguns dias observando a reação
dos mercados bem como analisando o que poderá mudar nessa nova gestão. Só para
jogar um pouco de pimenta no assunto, se Trump fizer o que disse em relação a
investir em infraestrutura, isso irá gerar empregos e elevar a inflação. Não é
isso o que o FED está buscando?
O grande vencedor de hoje são os juros de 10 anos, que já estão
acima de 2% a.a. No post fim-de-semana-sem-fim, fiz os seguintes comentários:
...” As
indicações são que o mercado está consolidando em relação a alta recente e se
prepara para buscar o nível que apontei acima, ao redor de 2,00%, talvez um
pouquinho menos 1,96%” ...
Naquele momento, estava em dúvida se ainda haveria uma nova
alta ou se a mesma já havia terminado, conforme tracei no gráfico acima. Fiz também
um desabafo: ...”
Como podemos inferir tamanho grau de precisão num título que tem longínquos 10
anos para vencer? Quem pode dizer qual será a inflação daqui a 3 anos ou o que
dirá daqui a 5 anos? Aonde esse título ainda terá mais 5 anos a vencer” ...
...” Acredito que isso irá terminar algum dia e as oscilações de 0,50%
pontos por dia voltarão. Só não sei qual será o nível inteiro, mas
certamente não o atual de 1” ... E hoje pode ter sido a avant
première. Observem o gráfico a seguir, entre a mínima e a máxima, os juros oscilaram 0,30%; já próximo de meu desejo (sublinhado).
Eu havia dito que nesses níveis
os juros deveriam começar seu caminho de queda, mas a pujança da alta hoje me
faz apontar outro intervalo conforme a figura acima entre 2,2% - 2,4%. Entretanto,
não tenho convicção de que volte a cair nos próximos dias ou que esse novo
patamar seja testado (2,2% - 2,4%).
A eleição do Trump também traz outra mudança, pelo menos no
FED. O excesso de liquidez para incentivar a economia, está com seus
dias contados. A Professora Yellen precisa tirar o pó dos livros, pois a partir de
fevereiro de 2018, quando termina seu mandato, poderá voltar a Universidade, e
o novo Presidente do FED que será apontado por Trump deverá ser bem diferente.
O SP500 fechou a 2.163, com alta de 1,11%; o USDBRL a R$ 3,2156, com alta de 1,50%; o EURUSD a 1,0910, com queda de 1,03%; e o ouro a US$ 1.275, sem variação.
Fique ligado!
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