Vetores em sentido opostos



Para quem já estudou física sabe que quando vetores de força agem em sentido contrário o que importa é a resultante. Por exemplo uma força no eixo X de uma unidade composta com uma outra no eixo Y também de uma unidade, resultará numa força a 45° de √2 unidades.

Em economia não é tão simples assim, pois as forças econômicas não podem ser expressas em vetores e muito menos calcular sua intensidade, mas o princípio da resultante é valido. Esse fenômeno parece acontecer na economia americana, pois alguns fatores importantes apontam em direções opostas.

Vamos começar pela publicação recente do grau de otimismo. O gráfico a seguir é uma composição dos vários indicadores elaborados por diversos institutos de pesquisa. Como se nota, o mesmo se encontra nos maiores níveis históricos, indicando o grau de otimismo dos empresários.



Outro fator que se acompanha com lupa é o nível de inflação, um dos grandes temores do mercado. Hoje foi publicado o CPI do mês de fevereiro com um resultado de 2,2% a.a., como esperado, e o índice excluindo gasolina e alimentos em 1,8% a.a.


Aparentemente, esses resultados transmitem uma certa tranquilidade aos mercados, exceto por dois motivos: ao se calcular em bases anuais os três últimos dados, o resultado que se chaga é de 3% a.a., indicando que a inflação recentemente está subindo; no próximo mês, ao se retirar a queda vertiginosa dos preços dos serviços telefônicos ocorridos no ano anterior, resultara uma elevação adicional de 0,2%.

O vetor negativo existente refere-se as perspectivas de enxugamento de liquidez nos EUA, puxado por duas vertentes, o resgate dos títulos detidos pelo FED que serão parcialmente reinvestidos, e o aumento do déficit público oriundo das medidas tomadas pelo Trump. Em relação a esse último item, o déficit já começou a piorar em fevereiro. Essa tendência tende a se amplificar no próximo ano, em consequência da isenção de impostos.



Em relação a injeção de liquidez por parte dos bancos centrais e sua relação com os mercados, os dois gráficos a seguir apontam uma forte correlação. O primeiro é relativo aos títulos de high yield – com menor qualidade de crédito, e o segundo um indicador global de bolsa de valores.


Em relação aos bonds, o fluxo dirigido ao mercado de high yield mostra-se negativo desde o evento do mês de fevereiro. Se já é efeito desta queda de liquidez provocada pelos bancos centrais e/ou mais cautela dos investidores, só saberemos depois de algum tempo.


Outro fator de extrema importância, mas que raramente é acompanhado pela mídia, por ser de difícil de mensuração, é a qualidade das garantias oferecidas pelos devedores.  A ilustração a seguir, aponta de forma qualitativa como evoluiu essa característica nos últimos anos. A enxurrada de emissões feitas pelas empresas quando os investidores estavam desesperados para obter qualquer juro, foi a causa desse movimento. Isso quer dizer que, no caso de haver dificuldades das empresas, provavelmente os investidores terão problemas para receber.


São esses os principais motivos que levam a imaginar como essas forças irão se compor nos próximos meses. A atividade econômica será suficiente para aguentar juros mais elevados oriundos de um ambiente com liquides mais apertada? Vejam, que além da elevação projetada pelo FED, as empresas poderão sofrer um custo adicional pela alta do spread para na emissão dos bonds.

Agora, posso garantir que a inflação é a zebra de plantão, se ela subir pode vender tudo e ficar liquido, praticamente ninguém espera por isso.

No post os-ovos-estão-na-mesma-cesta, fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ...” espero mais uma pequena alta até o nível de 2.800 onde sugiro uma operação de venda do índice. O Stoploss vou fixar em 2.875. Assim, estamos arriscando 2,7% para buscar no mínimo 10% ~ 2.550” ... ...” Se eu estiver certo, essa queda que se aproxima, será tão fulminante quanto a que ocorreu no início de fevereiro. O Target calculado mais “corretamente” deveria levar o SP500 ao nível de 2.450, o que significa uma queda nada desprezível de aproximadamente 15%” ...


O nosso nível foi atingido pela manhã. Imagino que os leitores tenham uma sensação estranha ao colocar esse trade, afinal nesses últimos dias tudo tem ficado mais calmo nos mercados e as notícias tem sido em sua maioria positivas. Por que vender e não comprar? Aí que entra a análise técnica, da maneira que eu enxergo, estaria faltando uma queda para completar essa correção média. Ou pior ainda, estamos adentrando numa correção grande, conforme explico no post acima.


No gráfico acima é na região “zona para venda” aonde deveria acontecer a reversão, na verdade com maior probabilidade. Acima desse limite, eu admito, mas já começo a ficar desconfiado. Se ultrapassar o limite de 2.875 seremos estopados e provavelmente a bolsa voltará a subir.

Notem com que facilidade passo de uma operação de venda para um de compra, sem ficar vermelho e ter que defender minha ideia original. Ao invés de “esperar” como o mercado deve agir, e ele que me diz o que devo fazer. Meu trabalho é de interpretação e não de prejulgamento.

- Mas David, o que deve acontecer para a bolsa cair agora que está tudo ficando mais calmo e positivo?
Não sei, e mesmo que soubesse não diria, você me chamaria de insider! Hahahaha ...

O SP500 fechou a 2.765, com queda de 0,64%; o USDBRL a R$ 3,2605, sem variação; o EURUSD a € 1,2391, com alta de 0,45%; e o ouro a U$ 1.326, com alta de 0,25%.

Fique ligado!

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