Indicadores da época analógica



Tenho notado com uma certa frequência, a dificuldade dos analistas em justificar determinadas distorções, quando alguns indicadores econômicos divergem do esperado. Venho publicando esporadicamente alguns desses conforme o assunto tratado no dia.

Vamos começar pela parte simples, aquele que é facilmente compreensível. Segundo o ADP – indicador de emprego americano, no mês de fevereiro foram criadas 235 mil novas vagas. Como é visível no gráfico a seguir. Os últimos 4 meses apresentam um padrão mais elevado de contratação, quando comparado aos meses anteriores.



Uma análise mais detalhada, em função: do tipo de empresa pequena, média ou grande; setor da economia, sob todos esses aspectos, os dados são bem sólidos. Na sexta-feira será publicado o dado oficial, que vem apresentando números de vagas criadas inferiores aos apontados pelo ADP, concidentemente, isso vem ocorrendo depois da eleição do presidente Trump.



Com a taxa de desemprego baixa e com tendência de queda, qualquer livro de economia apontaria para um aumento dos salários. Muito lógico, pois fica mais difícil contratar, e os que estão empregados, recebem ofertas dos concorrentes. Mas não é o que assinala os dados relativos aos custos de salários.



Outro setor que não está reagindo conforme o esperado são os investimentos. No passado, sempre que a taxa de desemprego recuava a níveis muito baixos, em seguida os investimentos subiam. Não mais, desde de 2014 essa relação foi quebrada.



Como a maior parte da população americana economicamente ativa, está empregada, o crescimento do consumo é algo esperado. Com mais dinheiro no bolso, e com o perfil consumista do americano, porque não estaria ocorrendo?



Por outro lado, se nota as grandes conquistas tecnológicas na vida de cada um. Todas essas mudanças têm como linha principal a queda de preços dos produtos, bem como a redução da mão de obra. Seria também razoável supor que, a produtividades estivesse aumentando, ou seja, para um mesmo custo de produção se produz mais bens. Veja a seguir, como a produtividade nos últimos 15 anos caiu. No último trimestre de 2017 ficou em – 0,1%.


Todas essas distorções não fazem sentido para mim, mesmo não tendo a formação de economista. Mas a realidade vem mostrando que a forma de analisar os dados deve ter mudado. Uma geração de millenials tão diferente da nossa época, o predomino dos serviços na composição do PIB, a utilização de estoques ociosos para aluguel (Uber, Airbnb, e etc ...) devem ter algum efeito, que estariam distorcendo as métricas “analógicas” tradicionais. Está na hora de rever os parâmetros de acompanhamento econômico, pois corre se o risco de chegar a conclusões erradas. 

No post não-faca-o-que-eu-digo, fiz os seguintes comentários sobre o Ibovespa: ...” em ultrapassando o nível de 86.200, o próximo objetivo seria ao redor de 91.000/92.000. Nesse momento, se acontecer, vamos retirar nossas fichas da mesa, ou parte delas” ... ...” caso haja uma reversão nesse intervalo, se pode esperar um período de correção por alguns meses levando as cotações de volta para 83.000 ou 78.000” ...


A bolsa acabou ultrapassando o nível apontando acima, atingindo a máxima de 88.300, e depois disso se retraiu. No gráfico abaixo mostro o motivo para acreditar que, dentro do intervalo entre 89.500 e 92.000, o Ibovespa poderia atingir, para depois reverter.


Mas é obrigatório que esse nível seja atingindo? NÃO! É o mais provável. Pode ser que neste caso, a máxima de 88.300 tenha sido o ponto de reversão, não é impossível, apenas menos provável. Mas como não estamos aqui para tentar milhares de vezes, onde a probabilidade irá prevalecer, não posso me fixar somente nesses números. Por outro lado, não gostei do que vi nos últimos dias. Um outro indicador também acendeu um sinal de alerta.

Para dizer a verdade, tive vontade de zerar toda nossa posição agora, mas resolvi dar uma nova chance para a bolsa, pequena é verdade. Vou subir o stoploss para 84.000. Também pensei em ajustar somente uma das posições nesse novo nível, mas cheguei à conclusão que não valia a pena.

Uma análise mais grosseira de risco x retorno, não me levaria a essa decisão. Acompanhe meu raciocínio, se formos stopados a 84.000, duas situações poderão ocorrer em seguida: primeira o nível de 80.000 não é atingido, e a bolsa sobe para 91.000, neste caso abrimos mão de um resultado de 8,3%; por outro lado, se a bolsa rompe os 80.000 deixaremos de perder 5%.

Duas considerações para manter minha estratégia, primeiro que estou aguardando o melhor momento para sair da bolsa, pois acredito que haverá um período maior de correção, segundo que o movimento dos últimos dias me leva a crer que, agora é mais provável a queda que a alta (70/30), assim o valor esperado do cálculo acima apontaria um melhor resultado na segunda hipótese.

Ve₁ = 8,3% X 0,3 = 2,5%
Ve₂ = 5,0% x 0,7 = 3,5%

Sem contar a outra hipótese ótima, onde nada acontece e as cotações caminhem para os 91.000.

- David, mas por que você quer cair fora da bolsa quando todo mundo está sugerindo para entrar?
É verdade, não existe nenhum banco que conheço que não sugere entrar na bolsa para “fugir” da renda fixa. Por esse ponto de vista parece que a minha decisão é errada. Mas será que esse fluxo migrando da renda fixa para a bolsa, não seria o motivo para sair? Pelo menos até que as posições mudem de mão de forma mais saudável, através de uma correção.

Posso afirmar que a maior parte dos investidores de renda fixa está entrando na bolsa achando que vai ganhar mais que ficar na renda fixa. Por outro lado, esse perfil, acostumado a embolsar na moleza por muitos anos, tem pouca ou nenhuma propensão a perda.

Mas não tenho certeza do momento, e nem a que nível, essa correção ocorrerá. O que eu sei é que, do ponto de vista técnico, tenho que ficar muito atento para não ser pego de surpresa. Let´s the market speak!

O SP500 fechou a 2.626, sem alteração; o USDBRL a R$ 3,2429, com alta de 1,05%; o EURUSD a € 1,2411. Sem alteração; e o ouro a U$ 1.325, com queda de 0,67%.

Fique ligado!

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