Só penso naquilo
Ontem fui a uma apresentação do banco JP Morgan, onde o
estrategista para mercado de bonds espera quatro altas dos juros americanos
esse ano, mais três no próximo, isso levaria a taxa para 3,25% ao final de
2019.
Mesmo com essa previsão bastante arrojada, não acredita que
os juros dos títulos de 10 anos subam muito mais – algo em torno de 3,25%, nem
tampouco que a inflação será um problema. Com esse pano de fundo, sugere uma
redução dos títulos longos, mas nada muito agressivo.
Eu já tenho minhas dúvidas, por onde eu pesquiso encontro circunstâncias
que levam a um cenário não tão tranquilo. A inflação vai liderar o debate este
ano, sobre isso não existe dúvidas. A questão é se não será algo mais
ameaçador.
O FED e a maior parte de Wall Street acham que isso não
acontecerá. Mas há um cenário plausível no qual marca uma nova e perigosa
tendência. Mesmo sendo improvável, é necessário pensar neste cenário
seriamente, porque trilhões de dólares de investimentos estão ancorados
assumindo que a inflação vai permanecer baixa.
O desemprego no último ano atingiu uma baixa de 17 anos, mas
a inflação continua a correr abaixo da meta de 2% do FED. No exterior, é a
mesma história: na Alemanha e no Japão, o desemprego está nos mínimos, mas a
inflação permanece abaixo de 2%.
Em poucos dias a inflação ressurgiu nos EUA. Os dados
salariais e de preços firmaram-se visivelmente. O índice de preços ao
consumidor, excluindo alimentos e energia, aumentou 1,8% em janeiro em relação
ao ano anterior e logo deve atingir 2%, em função de fatores específicos na
área de telefonia, que ocorreram em 2017, derrubando a inflação.
O consenso é que a inflação se estabilizará, em grande parte
porque o público espera uma inflação de 2% e estabelece preços e salários em
conformidade. Este é um caso básico, sólido e persuasivo. Mas forças múltiplas
estão agora impactando, e juntas, manterão a inflação subindo. O mais
importante é que o desemprego nos níveis baixos atuais ocorreu ao longo do
período pós-guerra, coincidindo com o aumento da pressão de preços. Em segundo
lugar, um grande corte de impostos e um aumento de gastos federais estão
prestes a suprir a economia e potencialmente pressionar o desemprego ainda mais
para baixo. Enquanto isso, um dólar em queda e o aumento dos preços do petróleo
estão alimentando outros custos.
A elevação da produtividade, o antídoto usual para o aumento
dos custos, é brando e pode permanecer assim.
Se a inflação aparecer, os economistas assumem que seria tão
lento, dando bastante tempo ao FED para responder. Mas Michael Feroli do J.P.
Morgan observa que essa suposição é construída em modelos nos quais o mundo se
comporta de maneira previsível e linear. Na verdade, ele diz, o mundo não é
linear e a inflação pode mudar de repente por razões inesperadas: "é lenta
e lento, até que não seja".
Um exemplo: em 1966, a inflação, que estava a menos de 2%
durante quase uma década, subitamente acelerou para mais de 3%. Algumas das
circunstâncias ecoam o presente: o desemprego caiu para 4%, os impostos foram
reduzidos e os gastos federais para a Guerra do Vietnã e os programas da
"Grande Sociedade" de Lyndon Johnson estavam surgindo. Os economistas
do Deutsche Bank observam que o déficit orçamentário saltou mais de 2% do
produto interno bruto entre 1965 e 1968, semelhante ao que se projeta entre
2016 e 2019. Exceto nas recessões, o estímulo deste tamanho "é sem
precedentes fora desses dois episódios".
O efeito de uma economia superaquecida foi agravado por
erros de política. Os presidentes do FED aquela época, ficaram muito otimistas
quanto ao baixo índice de desemprego sem aumentar os preços, e sucumbiram à
pressão de Johnson e depois de Richard Nixon para manter baixas as taxas de
juros. De 1966 a 1981, a inflação e as taxas de juros subiram para dois
dígitos, dizimando valores de ações e títulos.
.
No entanto, o FED enfrenta crescente clamor para substituir
ou relaxar sua meta de inflação de 2%. Os defensores dizem que uma inflação
mais alta e, portanto, as taxas de juros mais altas proporcionam mais espaço
para cortar quando a próxima recessão acontecer.
Este cenário parece remoto agora. Mas essas ameaças não
podem ser deixadas de lado.
Incentivar uma economia abaixando os impostos quando se
encontra em pleno emprego, pode colocar perigosamente fogo na gasolina.
Um programa humorístico nos anos 70, cujo protagonista era
Chico Anísio, Zezé Macedo fazia o papel de uma senhora virgem. Nessas cenas ela
se escandalizava com as palavras de duplo sentido citadas. Repetia então “ele
só pensa naquilo”. Eu sou penso naquilo, juros! Hahaha ....
No post sp500-all-in, fiz os seguintes comentários
sobre o ouro: ...” Mas o triângulo está
se afunilando e em algum momento será rompido, acredito que, para cima. A
expectativa do Mosca é comprar ao redor de U$ 1.300, mas se não der, vamos
comprar a U$ 1.380, o que acontecer primeiro. Na verdade, o primeiro nível não
é tão certo, e posso comprar num nível diferente, o segundo é certo, se romper
vamos comprar” ...
Hoje o ouro chegou a negociar a U$ 1.302, e como citei
acima, o preço de compra de U$ 1.300 não é tão certo. Deveria ter comprado?
Pode ser. Coincidentemente estava conversando com um leitor, e ele me
questionou como deveria agir num caso semelhante a esse: comprar no nível que
estabeleci; ou esperar algum tipo de indicação que o mercado mudou de
tendência. Não posso dar uma resposta assertiva, e nem tampouco uma regra que
pudesse ser usada em cada caso.
Qualquer região apontada em verde pode merecer uma compra.
Mas nesse caso específico vou aguardar. Minha decisão se deve a outros fatores
técnicos que me indicam essa atitude. Eu “gostaria” que o ouro caísse mais
alguns dólares em entrasse na região entre U$ 1.285 –U$ 1.270, aí sim, merece
uma compra sem esperar algum sinal.
Respondendo a meu leitor, no caso do ouro posso usar as duas
formas: Se o ouro for a região que eu apontei acima, usarei o primeiro método.
Caso comece a subir do ponto que está e eu tiver indicações mais seguras que
provavelmente U$ 1.302 foi a mínima, vou comprar usando o segundo método.
Como frisei a esse leitor, o importante é se desapegar do
preço, de nada adianta se lamentar “puxa podia ter comprado a U$ 1.302”, caso
suba, ou, “porque eu não esperei o ouro cair mais um pouco antes de comprar a
U$ 1.302”. Posso garantir que irá fazer pouca diferença comprando a U$ 1.302 ou
U$ 1.285, desde que você esteja certo na direção do movimento, pois caso
contrário, ambas sofrerão prejuízo.
O SP500 fechou a 2.677, com queda de 1,33%; o USDBRL a R$
3,2511, com alta de 0,16%; o EURUSD a € 1,2267, com alta de 0,61%; e o ouro a
U$ 1.316, sem variação.
Fique ligado!
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