O gato foi para o telhado #juros de 10 anos


 Como comentei ontem, o mercado deu hoje uma explicação para a queda fortuita das bolsas. O motivo foi uma declaração da secretaria do Tesouro americano, Janet Yellen ao participar de uma entrevista com o Wall Street Journal. Ela disse que as taxas de juros teriam que subir caso a economia ficasse superaquecida.

Hoje em dia, falou em subir juros é como jogar gasolina no fogo, os traders saem correndo da bolsa.

Antes de dar minha interpretação para essa citação, vejamos os comentários da Bloomberg por Chirtoher Condon e Wall Street Journal por James Mackintosh.

A secretária do Tesouro, Janet Yellen, disse que não estava prevendo ou recomendando aumentos nas taxas de juros ao comentar sobre o impacto dos gastos fiscais na economia dos EUA.

No início da terça-feira, Yellen causou um conjunto de soluços nos mercados financeiros quando disse que as medidas de gastos do governo Biden provavelmente provocarão um aumento nas taxas de juros.

"Não é algo que estou prevendo ou recomendando", disse Yellen durante um evento online organizado pelo Wall Street Journal. "Se alguém aprecia a independência da Reserva Federal, acho que essa pessoa sou eu."

Yellen, ela mesma uma ex-presidente do Fed, disse que não esperava uma crise de inflação persistentemente mais alta, mas que se ocorrer o banco central tem as ferramentas para lidar com isso.

"Pode contar com o Fed em fazer o que for necessário para alcançar seus objetivos de mandato duplo", disse ela.

Desde a crise financeira global, os formuladores de políticas passaram muito mais tempo se preocupando com a inflação vindo abaixo de suas metas do que acima. Mas recentemente eles tomaram passos decisivos para além dos alvos. O Fed adotou uma nova meta mais suave de inflação - média de 2%, o que significa que pode superar por anos para compensar as faltas da última década.

Além disso, passou de tentar agir antecipadamente com base em suas previsões, para esperar até que a inflação realmente chegue. Com a implicação da política monetária sobre a economia, como é de conhecimento geral, tem efeitos defasados, e como enfatizou Milton Friedman, isso aumenta a probabilidade de que o Fed aja tarde demais para controlar o aumento da inflação.

Sob ambos, Janet Yellen, agora secretária do Tesouro, e o atual presidente Jerome Powell, o Fed também enfatizou o que havia tratado anteriormente como uma meta secundária de pleno emprego. Em particular, está focado nos benefícios para os trabalhadores marginalizados, incluindo grupos raciais minoritários, de administrar a economia aquecida. O outro lado é que, quando chegar a hora do Fed desacelerar a economia, esses grupos saberão que estão sendo atingidos primeiro pelo aperto do Fed — o que poderia torná-lo ainda mais controverso do que o habitual para o Fed aumentar as taxas rapidamente.



A minha intepretação é que esta entrevista tem um outro objetivo. No final de 2021, o recém-eleito presidente dos EUA, Joe Biden, deverá decidir sobre o comando do Fed, pois termina o mandato de Powell, e até agora, a Casa Branca não se manifestou sobre esse assunto, dando declarações mistas, que pode apontá-lo novamente ou não.

Em relação a Yellen, não posso aceitar que não soubesse que sua declaração sobre os juros teria impactos, tanto para Powell que se sentiria desconfortável, bem como no mercado. A primeira parte não tem como consertar e a segunda com maior chance, bastaria negar que estivesse se intrometendo nas decisões do Fed.

Indo mais a fundo deveria declinar completamente de externar comentários sobre juros, não é função da secretaria do Tesouro. Não me recordo de situações semelhantes no passado.

No meu entender, sua declaração parece um recado ao Powell, a de que o “gato vai para o telhado”. Não podemos esquecer que Yellen foi escolha de Biden e Powell de Trump, que a substituiu no Fed. Se eu estiver certo, saberemos nos próximos meses. Agora, uma mudança no Fed, principalmente neste momento, colocaria mais gasolina no fogaréu dos juros.

Estou tendo um problema técnico com as cotações dos juros de 10 anos, que torna difícil análises intra day. Sendo assim, decidi por um acompanhamento semanal, razão pela qual, tenho evitado trades nesse ativo. Por outro lado, entendo sua elevada importância, principalmente neste momento.

No post o-dia-v, fiz os seguintes comentários sobre os juros de 10 anos: ...” As taxas acabaram não se retraindo ao nível esperado de 1,4%, atingindo apenas 1,5% a.a. Desta forma, a marcha rumo aos 2% a.a. volta à cena. Por se tratar de uma onda V - em amarelo, poderá ser de forma mais tortuosa. Depois de atingida essa marca, uma retração que poderá perdurar por algumas semanas deveria levar os juros ao patamar de 1,5%” ...



Decorridos 40 dias, o movimento dos juros está seguindo conforme previsão acima, encontrando-se na onda 4 em verde - gráfico abaixo, em seu estágio de complementação. Terminado, os juros deveriam rumar à níveis um pouco acima de 2%. Em seguida, um período mais longo de retração, que deve perdurar por várias semanas, levaria os juros de volta a 1,5% a.a., para culminar com uma nova sequência de altas até chegar a 2,6% a.a.




Outro dia participei de um call com o ex-membro do Fed William Dudley. Ele tem uma visão mais cautelosa sobre a inflação e fez algumas observações que considero interessantes: a primeira diz respeito ao conceito do Fed ficar Behind the Curve – que significa a autoridade monetária demorar para iniciar o ciclo de alta dos juros. Em sua opinião isso irá acontecer pois o Fed disse que vai esperar a inflação ficar na média em 2% a.a. Como ficou abaixo desse nível no passado, os dados futuros deveriam ser maiores que 2%; depois, definiu o nível de 3%, aonde deveria soar o alarme.

Como venho comentando, a subida de juros no meu entender não deve ser encarada necessariamente como um indício de inflação. Se ocorrer da forma apresentada no gráfico acima, me parece bem saudável, pois indicaria que o mercado está voltando a níveis mais normais de juros. Se for de forma abrupta, rápida, aí é necessário que se avalie a causa.

Queria complementar com um gráfico que contempla minha ideia do post de ontem destruição-criativa-em-andamento. Quando comento que a mão de obra é um problema, entre as empresas que estão sendo “destruídas” em relação as que estão sendo criadas, é porque as primeiras empregam muito mais funcionários que as segunda, além de terem pouca especialização. O gráfico a seguir aponta exatamente sobre esse efeito. A apreciação do mercado de trabalho atual, relativo ao que prevalecia antes da pandemia, se encontra 1/3 abaixo segundo a pesquisa do Gallup.




O SP500 fechou a 4.167, sem variação; o USDBRL a R$ 5,3665, com queda de 1,42%; o EURUSD a 1,2003, sem variação, e o ouro a U$ 1.786, com alta de 0,45%.

Fique ligado!

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