Cuidado com a torcida #nasdaq100

 


Estamos observando nesse início de ano uma enxurrada de opiniões otimistas sobre a economia americana. A maioria está associada à retração nos índices de inflação, com a consequente expectativa de que o Fed vai subir menos os juros do que o anteriormente projetado. Até há algumas semanas, esperava-se que os Fed funds subisse entre 5,25%/5,5% e agora, supõe-se, nem a barreira dos 5%, seria rompida.



O mercado rapidamente concluiu que, se as taxas não vão subir mais e a inflação está desacelerando, então cairão e rápido. Sendo assim, decidiram se antecipar, apostando em queda já a partir deste ano.

Queria lembrar aos leitores que a grande maioria — estimo mais de 90% — nunca passou por um período em que a inflação foi um problema durante os últimos 30 anos e não tem experiência nesse assunto — ao contrário, sempre que a inflação subiu um pouco nesse período, caiu logo em seguida, justificando a reação que estão tendo agora.

Mas tudo indica que estramos num outro ciclo muito diferente do anterior, que era deflacionário. Tenho enfatizado esse assunto nos últimos meses. O que é mais provável que ocorra, caso o Fed baixe a guarda e siga os passos sugeridos pelo mercado, é que a inflação volte a subir mais adiante. Powell enfatizou esse aspecto e disse que não quer que ocorra a volta da inflação como aconteceu nos anos 70, mas a pressão política poderá fazê-lo mudar de ideia e embarcar nessa direção.

Uma importante voz dentre os economistas “experientes”, Larry Summers, em artigo na Bloomberg, adverte que a crise dos anos 70 poderá ocorrer se os bancos centrais cederem nas taxas.

Abrandar a inflação fará com que as economias voltem às profundezas da recessão da década de 1970 e terá “efeito adverso sobre os trabalhadores em todos os lugares”, alertou o ex-secretário do Tesouro dos EUA, Larry Summers.

A observação é uma resposta às sugestões de economistas, incluindo Olivier Blanchard, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, que sugeriu aumentar as metas de inflação de 2% para 3% para evitar recessões

“Supor que algum tipo de clemência em uma meta de inflação será uma salvação seria um erro caro, acabaria por ter um efeito adverso como aconteceu de forma espetacular durante a década de 1970”, Summers, professor de economia em Harvard e um Colaborador da Bloomberg TV, disse a um painel na reunião anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça.

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, deixou claro repetidamente que o banco central dos EUA não tem planos de mudar sua meta de inflação de 2%.

A inflação atingiu um pico de dois dígitos em grande parte do mundo industrializado, mas espera-se que caia rapidamente este ano devido à queda nos preços de energia e commodities. No entanto, o núcleo da inflação permanecerá elevado à medida que o comportamento dos salários e a definição de preços das empresas mudaram fundamentalmente, disse o presidente do Banco Nacional da Suíça, Thomas Jordan, no mesmo painel.

“Será muito mais difícil trazer a inflação de 4% para 2%”, afirmou. “Vamos ver se isso vem com uma recessão ou não. As empresas não hesitam mais em aumentar seus preços. Isso é diferente de dois ou três anos atrás e é um sinal de que não é tão fácil trazer a inflação de volta para 2%.”

“Também vemos uma mudança no comportamento em relação aos salários. Se você olhar para a formação salarial, isso é muito retrospectivo. Basicamente, pegamos a inflação do ano passado e a usamos para definir os salários futuros – o tipo de argumento de justiça. Uma vez que a inflação está alta, a pressão dos salários está aqui.”

Summers alertou: “Seria um erro grave para os bancos centrais revisar sua meta de inflação para cima neste momento. Tendo falhado em atingir a meta de 2% e tendo enfatizado repetidamente o compromisso de 2%, abandonar a meta causaria danos muito substanciais à credibilidade. Se você pode ajustar uma vez, você pode ajustar novamente.”. Seria bom avisar o Lula que acenou querer mudar a meta de inflação, sem bem que, não sei se adianta, pois, usa a retorica do passado. Ele sabe tudo!

“O contra factual não é, ‘podemos ter mais inflação e nenhuma recessão, é, ‘se não conseguirmos lidar com a inflação, é provável que tenhamos uma recessão mais severa em algum momento.'”

Os chefes dos bancos centrais no painel concordaram que ainda é necessário um aperto monetário para conter a inflação, que ainda está perto de 10% nos EUA, zona do euro e Reino Unido.

Summers também criticou a operação de flexibilização quantitativa dos bancos centrais durante a pandemia, que, segundo ele, aumentou a carga sobre os contribuintes. Sob o QE, os bancos centrais estavam efetivamente trocando dívidas de longo prazo por dívidas de prazos muito curtos, assim como “todos os tesoureiros corporativos do mundo estavam encerrando suas dívidas” para aproveitar as baixas taxas de juros.

O Fed agora está carregando uma perda de marcação a mercado em seu balanço patrimonial de cerca de US$ 800 bilhões, disse ele.

“Em retrospecto, acho que foi altamente problemático”, disse Summers. “Precisamos, além de pensar nos aspectos estimulantes do QE, focar nos aspectos de vencimento da dívida do balanço do QE.”

Nós aqui no Brasil entendemos bem desse problema pela vivência com inflação no passado, é verdade que nos últimos 20 anos o nível se mostrou bem baixo quando comparado aos anos 80/90, dos quais vieram a minha formação.



Como se pode notar, a inflação permaneceu entre 4% a.a. - 6% a.a., desde 2005 e somente recentemente atingiu patamares de 2 dígitos. O BCB também demorou um pouco para reagir — acredito pela interferência da pandemia com o argumento da temporariedade — mas rapidamente tomou pulso colocando os juros em níveis bastante elevados em termos reais, o que não aconteceu em nenhum país desenvolvido.

Como exemplo cito o Japão, que continua com a mesma política do passado, traumatizado pela derrocada que ocorreu em 89 quando os ativos iniciaram uma queda vertiginosa, gerando um estado deflacionário que perdurou por esse período. A sua moeda continuou o movimento de valorização iniciado nos anos 80. Mas será que agora não mudou? Parece que a inflação é um problema mundial. Ontem foi publicado o índice de inflação naquele país em 4% a.a.



O BOJ deve estar numa torcida enorme, pois com a maior dívida sobre o PIB do mundo—250% do PIB —, qualquer percentual de alta vai acelerar esse indicador. Aproveitando, nunca entendi por que a moeda japonesa é considerada um porto seguro — tinha alguns motivos para tanto, mas eu acredito que esse nível de dívida é insustentável —, qualquer outro país com uma dívida desse tamanho já teria sucumbido numa renegociação.

Não vejo ninguém tocar nesse assunto, mas o Mosca desconfia que se esse cenário de inflação mais alta prevalecer, o mercado vai começar a se preocupar. Será que virá de lá uma onda de pessimismo? Vale a pena ficar de olho no yen, a título ilustrativo o gráfico da moeda japonesa valorizou 80% saindo de ¥ 350 em 1970 para ¥ 75 em janeiro de 2012 (notem que se deve observar a escala invertida da mesma forma que o real). Desde então recuperou parte da queda daquele período se situando agora em 38.2%.



Uma lição que todo investidor e principalmente os banqueiros centrais deveriam saber é que a pior situação ocorre quando o que é desejado não acontece, e ao invés de mudar ficam na torcida. Em relação aos BC, o BOJ está claramente nessa posição.

No post --- fórmula de acumular patrimônio --- externei dois cenários possíveis para a nasdaq100, onde tinha uma preferência por uma delas, a de queda, pois a outra estava próxima de invalidação. Com a alta que ocorreu nesta semana, a alternativa de alta ganhou sobre vida deixando o cenário ainda mais incerto. Vou publicar ambas as opções sem que tenha muito mais a acrescentar.

1.       Cenário de alta


 

2.      Cenário de queda




Para que o leitor entenda como o mercado está dividido, numa pesquisa elaborada pelo Bank of America perguntando em qual nível deverá estar o SP500 no final de 2023, fazendo-se um corte no nível atual se chega a praticamente a 50% acima e 50% abaixo, um pouco desviado para cima, afinal tem o fator da torcida! Hahaha ...



O SP500 fechou a 3.972, com alta de 1,89%; o USDBRL a R$ 5,2074, com alta de 0,64%; o EURUSD a € 1,857, com alta de 0,28%; e o ouro a U$ 1.926, com queda de 0,23%.

Fique ligado!

Comentários