BOJ saindo de mansinho #SP500
Tenho falado pouco mas enfatizado muito que o modelo japonês
que funcionou por dé0cadas, mas que agora tem um grave problema. Esse país
adotou uma estratégia de juro 0% muito antes dos outros países industrializados
e implementou uma expansão monetária para ninguém botar defeito, o que levou a
dívida publica ao maior índice dos países desenvolvidos, para 240% do PIB. Os
efeitos do juros para financiar essa dívida foram mínimos, afinal pagar juro
zero para uma montanha de dívida é igual a zero também.
Para “forçar” o mercado a não empinar a curva de juros, pois
ninguém tinha atrativo em alongar sua carteira de bonds japoneses — o que
resultaria em taxas elevadas para prazos mais longos —, o Banco do Japão se
colocou no meio do caminho, implementando uma estratégia de comprar os papéis
de 10 anos segundo sua tabela, sem limites.
Mas o Japão não escapou das consequências do Covid e de outros
acontecimentos como a Guerra da Ucrânia que ocasionaram a alta da inflação. Os
últimos dados da inflação, bem como a projeção futura, apontam para um nível
que é bastante distante do 0% que perdurou por décadas.
Os juros dos títulos de 10 anos, que eram um “troco” para quem os detivesse, começaram a subir neste ano, mas mal e mal, estão em míseros 1% infligindo perdas enormes a seus detentores. Essa política precisa ser ajustada, e o BOJ deixou vazar esta noite —num noticiário na calada da noite —uma declaração de que o banco central está considerando abandonar essa política, como comenta John Authers na Bloomberg.
Drama noturno em Tóquio
Não era bem como 12 Angry Men (Doze Homens e uma
Sentença); para ser mais preciso, a última reunião do Conselho de Política do
Banco do Japão, composto por nove membros, deve ter sido mais Oito Homens
Furiosos e Uma Mulher. Mas tal era a expectativa que se tinha permitido
acumular que mesmo a sua decisão de não fazer efetivamente nada ainda se
revelou um grande evento.
Na manhã desta segunda-feira (ou na noite de segunda-feira
em Tóquio), o serviço de notícias japonês Nikkei publicou uma matéria dizendo
que o banco central consideraria mudar sua política de controle da curva de
juros (YCC, na sigla em inglês), que efetivamente estabeleceu um limite de 1%
no rendimento dos títulos do governo japonês de 10 anos. A última vez que o
Nikkei saiu com uma história tão confiante uma questão de horas antes de uma
reunião do banco, no final de julho, foi de fato seguida pela notícia de que o
rendimento permitido sob YCC estava sendo dobrado para 1,0% de 0,5%. Isso
contribuiu para uma queda nos títulos do Tesouro que tomou forma na semana
seguinte.
O BOJ talvez inadvertidamente tenha se manifestado sobre o
drama. Sozinho entre os principais bancos centrais, ele não se compromete com
um momento preciso para anunciar a política. À medida que a ata se arrastava, e
um anúncio ainda não chegava, isso aumentava a impressão de que os conselheiros
deveriam estar tendo uma discussão apaixonada e, com isso, a chance percebida
de que eles acabariam fazendo algo. Além disso, como o BOJ há muito se reserva
o direito de pegar o mercado de surpresa de uma maneira que a maioria dos
outros banqueiros centrais não se sente mais confortável em fazer.
Mas não o fizeram. Você pode dizer facilmente a partir deste gráfico da taxa de câmbio do iene com o dólar durante a segunda-feira (todos os horários são horas de Nova York) onde a história do vazamento do Nikkei veio, e quando o anúncio real ocorreu (21 minutos depois da média):
As ramificações, por enquanto, são que permanece intacta uma das maiores forças globais que mantêm baixos os rendimentos dos Treasuries. Isso pode muito bem encorajar mais compradores de títulos dos EUA. Enquanto isso, como agora sabemos que o banco central não vai ajudar a sustentar o iene, os holofotes se voltam para o Ministério das Finanças do Japão. O iene caiu brevemente além de Y150 por dólar após o anúncio, um nível no qual houve intervenção no passado. Há vontade de evitar que o iene fique muito fraco? Comentário meu: hoje pela manhã o dólar já estava firme com a cotação beirando ¥ 151 uma alta da moeda americana superior a 1%.
Há também, como escrevo à meia-noite no horário de verão do
leste, consideravelmente mais risco de evento da entrevista coletiva do
governador Kazuo Ueda. Materiais de apresentação divulgados pelo banco central
sugerem que ele está tentando apresentar sua decisão como uma flexibilização do
YCC, já que 1% agora será uma "referência" e reagirá
"rapidamente" um pouco abaixo ou possivelmente um pouco acima do
nível de 1%. Evidentemente poucos estão convencidos neste exato momento, mas essa
parece ser a mensagem desses visuais, fornecidos por Reidy:
É conveniente que o Banco
aumente a flexibilidade na condução do controlo das curvas de rendimentos, de
modo a que as taxas de juro a longo prazo sejam formadas sem problemas nos
mercados financeiros em resposta a desenvolvimentos futuros.
Haverá tempo suficiente para escrever sobre isso amanhã,
enquanto uma semana macro cheia de ação contínua. Para o BC, porém, também há
um alerta. Rastrear histórias com antecedência com meios de comunicação
amigáveis às vezes pode fazer parte das mensagens de um banco central, mas pode
ser perigoso. E é uma péssima ideia deixar as histórias saírem e não seguirem
adiante. Sem o vazamento, e sem o longo tempo que os governadores passaram na
reunião, isso teria sido um não-evento. Do jeito que está, criou algum drama.
Isso não é uma boa ideia no melhor dos momentos, e certamente não agora.
Eu imagino a angústia que Ueda sente. No seu íntimo, sabe
que deve mudar radicalmente sua política, mas ao mesmo tempo morre de medo de
fazer uma barbeiragem. Por mais que o problema tenha sido gerado pelos seus
colegas anteriores, se a dívida explodir ou o yen se esborrachar, ele será o
culpado. Até entendo a forma com testa o mercado, mandando recados e esperando
a reação.
Como prescrevia Maquiavel, o mal se faz de uma vez. Quanto
mais tempo o BOJ demorar para agir, maior a quantidade de especuladores que irá
apostar contra ele, tendo em vista que o custo é muito barato nessa direção.
Agora, tentar sair de mansinho, como eu sugiro no post de hoje, não vai dar,
não adianta tentar enganar o mercado que é possível ter uma estratégia de
manter os juros dos bonds em 1% a.a. num cenário como hoje.
Recebi uma publicação do Deustche Bank que não podia estar
mais em linha com minhas ideias.
O BoJ deu hoje pequenos passos em direção ao que parece ser
um abandono inevitável do YCC -Yield curve control. Veja aqui a análise
dos nossos economistas sobre a reunião. O meu colega, Francis Yared, tem estado
preocupado há algum tempo com o fato de quanto mais tempo eles deixarem para
apertar a política, mais agressivo o BoJ poderá ter de ser em termos de aumento
das taxas. Portanto, existe o risco de um perfil de “taco de hóquei” para as
taxas japonesas de curto prazo. Parafraseando Francisco, ele pensa que há uma
probabilidade superior a 50% de que o Japão esteja agora amplamente no mesmo
regime de inflação que os EUA e que isso não tenha preço.
Isto é interessante porque o Deustche Bank mostra uma enorme
diferença entre as taxas “reais” dos EUA e do Japão. Este gráfico exibe uma simulação
para a diferença nas taxas reais nos dois países usando a inflação spot-ano
sobre ano. Nos últimos 5-6 meses houve um diferencial de 250/400 pontos base
apenas 18 meses depois de o diferencial ter sido de quase -550 pontos base.
Desde então, a inflação nos dois países convergiu, mas o
diferencial de rendimento aumentou devido à venda mais agressiva de rendimentos
nos EUA. Francis Yared acredita que os títulos mais curtos dos JGBss] são o
mais vulneráveis, mas claramente, se isso for corrigido, provavelmente o fará
ao longo da curva.
No post ad-nauseam fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ... “ Nesse momento, ou a onda (z) estaria completa ou ainda novas quedas poderão advir, indicando níveis entre 4.188/4.134” ... ...” Existe um risco nessa contagem onde o SP500 não poderia retroceder abaixo de 4.100. Se isso ocorrer terei que estudar a nova configuração” ...
O SP500 chegou muito, muito perto da invalidação — sua mínima nesse movimento de queda foi 4.103,78. Podemos aceitar ainda a contagem adotada? Sim, a regra é clara, só não pode ultrapassar. Confesso que nessas situações fico desconfiado de que algo diferente poderia estar ocorrendo. A reação de ontem pode ser o início do movimento de alta que eu estou esperando, mas muito cedo ainda para dizer. Precisamos das 5 ondas para maior conforto. Vamos apreciar o Halloween evento importado os EUA nos últimos anos.
- David, estou
preocupado com sua hesitação ultimamente, há dois meses estava muito mais
confiante.
Eu não queria mostrar o cenário de queda atualizado, mas
estou vendo que não tem jeito.
Nesse gráfico de janela semanal, uma possível queda poderia levar o SP500 para algo entre 3.550/ 3.330, uma queda nada agradável de 15%/20%. Espero que não ocorra, mas ...
Ontem fiquei de agregar o link para os slides da minha
apresentação na FEA: FEA
30.10.pptx - Microsoft PowerPoint Online (live.com)
O SP500 fechou a 4.193, com alta de 0,65%; o USDBRL a R$
5,0383, com queda de 0,15%; o EURUSD a € 1,0574, com queda de 0,37%; e o ouro
a U$ 1.983, com queda de 0,62%.
Fique ligado!
Parabéns pela apresentação!
ResponderExcluirobrigado!
ExcluirMuito legal esse tipo de analise. Será que o castelo de cartas que começou a ser erguido em 1971 vai finalmente desmoronar? Fico com a impressão de que sempre dão um jeitinho, mas quando desmoronar será épico.
ResponderExcluirAbraços.
Não deve ser nada fácil mudar algo que perdurou por várias décadas. Se a observação for pela não quebra de empresas funcionou bem essa política, se for pelo crescimento do PIB não. Por sorte o mundo estava num processo deflacionário - queda de inflação e não o cenário mais perverso, também ajudou muito. Agora parece que mudou e essa fórmula não funciona mais. A unica coisa que posso desejar é boa sorte, não gostaria de estar na pele do Ueda!
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