Garantindo o emprego #nasdaq100
O Palmeiras acabou sendo eliminado da Libertadores. Não sou
palmeirense, mas com tanto genro na família tenho um hedge perfeito. Me explico:
meu time, o Santos, vai de mal a pior, e pelo portfólio de times diversificado que
os meus genros torcem, fico feliz com a vitória de algum deles. Ontem o
Palmeiras jogou mal, e o técnico falhou na escalação ao não colocar os
jogadores mais jovens de início — corrigiu no segundo tempo. Entretanto, o
grande ganhador não foi o Boca Juniors e sim Romero, goleiro do time que é fora
da curva, como se diz na gíria, defendeu até pensamento. A partir de hoje deve
começar a receber ofertas milionárias dos times europeus, ou da Arabia Saudita,
e a emigração dos mais talentosos da América Latina tem destino certo que não o
de permanecer no Continente!
Logo no início da minha carreira financeira, ocorreu a
moratória da dívida brasileira. Os bancos estrangeiros emprestaram enormes
quantias de dólares ao Brasil, cuja situação econômica se deteriorou no tempo.
Foi no governo Sarney, quando o fluxo de dólares estancou, dados os enormes
problemas econômicos do Brasil. A moratória brasileira mais conhecida ocorreu
em 1987, quando o então presidente José Sarney anunciou a suspensão unilateral,
por prazo indeterminado, do pagamento dos juros da dívida externa.
Como não poderia ser diferente, o mercado secundário dessa
dívida despencou, colocando em risco a solvência de diversos bancos,
principalmente os americanos. Qual foi a saída? Trocar a dívida por títulos de
vencimento longo com um cupom mais baixo para a época, o que não espelhava a
situação brasileira. O maior volume deles era o C-bond, cujo prazo de resgate
era de 20 anos, um prazo enorme naqueles tempos.
Ao vivenciar aquele momento, eu não entendia por que os
banqueiros ficaram felizes com essa solução — afinal, se tivessem que contabilizar
esses papéis a mercado, o prejuízo apareceria da mesma maneira e magnitude que
a manutenção da dívida em seus livros. Foi quando um banqueiro, macaco velho,
me explicou: se a dívida fosse mantida, era obrigatório contabilizar a perda;
com os bonds, ficariam em seu estoque pelo valor de emissão e nenhum prejuízo
seria anotado. Se, no futuro, o país não pagasse, seria problema de outro
executivo e não dele. Complementou: anote no seu dicionário um termo em inglês
que vai observar muito na sua carreira: kick the can down the road!
Nas últimas décadas o mundo se acostumou a viver com juro
baixo — até negativo — e de repente esse cenário mudou de forma rápida, como os
leitores vêm observando nas minhas colocações. Esse movimento ocasionou perdas
expressivas nos portfolios, que incialmente afetaram a renda fixa e as ações; entretanto,
as ações se recuperaram das mínimas atingidas no ano passado, enquanto os bonds
continuaram caindo de preço, e quanto mais longo o vencimento maior a perda.
No início de março, esse movimento afetou alguns bancos
americanos, o que culminou com a quebra do SLV, First Republic entre outros, e
o motivo foi a violação da regra básica de sobrevivência de uma instituição
financeira, quando decidiram captar recursos no curto prazo e comprar títulos
do governo de longo prazo. Mas não são só os bancos que tiveram grandes
prejuízos, pois outros participantes também têm esses papéis em sua carteira.
Um trabalho elaborado pelo Deustche Bank trata dessa
potencial perda.
Um gráfico popular
sempre que os rendimentos globais veem uma forte liquidação é o título do
governo austríaco de 0,85% para 2120. Este valor atingiu um máximo de 139,4
euros em dezembro de 2020. Chegou a cair para 32,1 euros esta manhã. Isso
representa uma perda de cerca de 77%.
Estes estão no extremo devido à sua duração, mas ao tentar
entender quanto valor foi varrido da dívida global nos últimos dois anos,
podemos fazer alguns cálculos muito grosseiros.
Como extremo, o Instituto de Finanças Internacionais sugere que havia US$ 307 trilhões de dívida global pendente (valor nominal) no final do 1º semestre de 2023. Sabemos que grande parte dessa dívida não é publicamente negociável, já que o Bloomberg Global Agg "apenas" teve um valor de mercado máximo de quase US$ 70 trilhões há quase dois anos. Sabemos pelo retorno total do mesmo índice que estamos em torno de -23% abaixo dos picos, também há alguns anos.
Então, fazendo conta de padeiro, em termos de índice, talvez cerca de US $ 16 trilhões de valor de mercado global foram eliminados nos últimos dois anos. Se você aplicar o mesmo retorno total negativo a toda a pilha de dívida global, verá uma destruição de valor de cerca de US$ 70 trilhões nos últimos dois anos. Para contextualizar, o SIFMA sugere que o mercado global de ações vale cerca de US$ 107 trilhões e o FMI sugere que a economia global valerá US$ 105 trilhões em 2023.
Claramente, a estatística de destruição do valor da dívida
global é incrivelmente simplista, pois não sabemos se o índice Agg Global
(apenas com classificação IG) é representativo da dívida global total. Grande
parte desta última é mantida até o vencimento, de duração variável, e nunca marcada
a mercado. Além disso, a dívida é frequentemente utilizada para compensar
passivos, pelo que talvez o outro lado do balanço tenha compensado quedas
acentuadas e, por conseguinte, neutralize o impacto. Os bancos centrais também
serão mais capazes de suportar a sua grande parte das perdas do que outros
intervenientes. Por fim, também não podemos esquecer o desempenho decente que
antecedeu a goleada dos últimos dois anos.
No entanto, a escala das perdas nos mercados de dívida é a
maior da história em termos de dólar e em relação ao PIB. O sistema consegue
absorver isso sem mais acidentes?
Um artigo publicado por Owen Walker e outros no Financial Times
elenca os principais segmentos que sofreram com a alta dos juros.
Uma liquidação nos mercados globais de títulos levou os
custos dos empréstimos a seus níveis mais altos em uma década ou mais.
Isso significa perdas potencialmente pesadas para bancos, seguradoras,
fundos de pensão e gestores de ativos que possuem trilhões de dólares em
dívidas soberanas e corporativas após o carregamento nos últimos anos.
Bancos dos EUA
As perdas de papel na parte mais opaca das carteiras de
títulos dos bancos americanos estão agora perto de US$ 400 bilhões — um recorde
histórico e 10% acima do pico no início do ano que causou o colapso do Silicon
Valley Bank— de acordo com Matthew Anderson, analista da empresa de dados de
títulos Trepp.
A maioria dos bancos, e em particular os maiores, não terão
de vender e, portanto, nunca contabilizarão essas perdas.
Companhias de Seguro
As seguradoras de vida são grandes detentoras de títulos,
que usam para respaldar passivos como obrigações previdenciárias. Seus preços
de ações foram duramente atingidos após o colapso da SVB.
As seguradoras muitas vezes podem manter os títulos até o
vencimento, aproveitando as quedas do mercado, enquanto as taxas de juros mais
altas geralmente elevam seus níveis de solvência. Mas a preocupação é que um
rápido aumento nas taxas incentive os clientes a lucrar com produtos de longo
prazo, forçando as seguradoras a vender títulos e outros ativos correspondentes
com prejuízo.
Fundos de Pensão
Em geral, os rendimentos mais elevados da dívida pública são
boas notícias para os fundos de pensões do Reino Unido, porque melhoram a sua
posição de financiamento. Mas há um ano, uma súbita liquidação de Gilts após o
"mini" Orçamento da então primeira-ministra Liz Truss provocou uma
crise no setor de pensões.
Mercados de dívida
Os mercados de dívida corporativa também estão sob forte
pressão do aumento acentuado dos rendimentos dos títulos públicos, que alimenta
os custos de empréstimos das empresas.
O rendimento médio dos títulos de dívida dos EUA subiu acima
de 9,3% esta semana, ante menos de 9% no final de setembro e 8,5% um mês antes.
Por sua vez, o prêmio que os tomadores de empréstimos de
baixa classificação pagam acima do governo dos EUA para emitir dívida — um
termômetro dos riscos de inadimplência — também aumentou.
Os movimentos foram mais pronunciados na extremidade mais
arriscada do espectro de crédito, com o spread médio dos títulos "triplo C
e mais baixo" se expandindo na terça-feira em seu maior nível em um dia
desde março — quando as turbulências do setor bancário alimentaram preocupações
sobre padrões de empréstimos mais rígidos.
A magnitude da queda, aliada ao enorme mercado de títulos,
criou um oceano de sangue na carteira de seus detentores. Se isso irá criar problemas
mais sérios, só saberemos com o tempo. Como toda crise, os primeiros a apanhar
são os portfolios alavancados – como os bancos que quebraram, esses não têm
como esperar muito para torcer que os preços melhorem. Os outros segmentos vão
depender do descasamento de prazo entre passivo e ativo. Os gestores que estão
sujeitos a esse risco rezam dia e noite para não sofrerem resgates que os
obrigariam a vender sua carteira; enquanto isso, mantêm a atitude que aprendi
logo no início da minha carreira: Kick the can down the road!
No post http://acertarnamoas-viuvas-do-lehman-brothers fiz os seguintes
comentários sobre a nasdaq100: ...” ... “
Uma das alternativas que estou seguindo está apresentada a seguir. Nesse caso,
a onda 4 verde ainda estaria em andamento sob a forma de um triângulo.
Se esse for o caso, a nasdaq100 vai ficar “enxugando gelo” – não saindo do
lugar, conforme sinalizado no gráfico abaixo. Nessas condições prefiro ficar
fora do mercado por enquanto liquidando a posição existente” ... ...” O mercado buscou melhorar essa semana e confesso
que fiquei em dúvida quanto minha assunção – a dúvida era se o movimento de
alta estava em curso. Mas eu tenho um princípio, quando estou em dúvida não
faço nada, espero o mercado me dizer o que quer fazer” ...
A opção do triangulo acabou não correndo, o que me fez voltar para a hipótese anterior — foi prudente não ter feito nada. No gráfico a seguir, se encontram os potenciais pontos de reversão entre 14.310/14.250/14.130. Fico esperando o momento de entrada, o movimento de hoje dos mercados anima.
- David, você, num de seus posts – sei lá qual, são tantos! Hahaha ... disse que a bolsa americana vai subir no longo prazo. Por outro lado, fica aí com esse emaranhado de ondas e correções, que para mim que sou leigo não entendo nada. Por que não compra de uma vez e esquece?
Você foi muito modesto, já está craque em Elliot Wave. Primeiro
veja o gráfico abaixo de longoooo prazo — desde 1800! — comprando o retorno
entres várias classes de ativos. A bolsa de valores seguramente foi disparada a
melhor opção nesse período. Nesses mais de 200 anos, ocorreram inúmeras vezes quedas
que infligiram perdas temporárias, porém com o tempo a bolsa se recuperou. O
que não está contemplado nesse gráfico, é o valor real considerando a perda da
moeda, que em 200 anos vale menos de 5% do que valia. Uma conta simples leva o
valor de U$ 2.334.920 obtidos na bolsa para um valor de U$ 100.401, ainda muito
melhor que o resto.
Mas voltando a sua pergunta, você quer fazer um investimento
pensando num horizonte desse tipo? Garanto que não aguenta o primeiro mercado
de baixa e vende sua posição num momento ruim. Vamos ficar assim, com mais
trabalho, porém com menos presunção sobre o futuro.
Hoje foram publicados os dados de emprego e ironicamente foram tão bons que foram ruins! Com a criação de 336 mil novos postos, ficou quase o dobro do esperado pelos economistas. A taxa de desemprego permaneceu estável em 3,8%, bem como os ganhos com salário em 4,2% a.a. Mais informações na segunda-feira. O mercado não gostou inicialmente desse número, pois implica que o Fed talvez tenha que subir os juros e cair então é palavrão no momento.
O SP500 fechou a 4.308, com alta de 1,18%; o USDBRL a R$ 5,1457, com queda de 0,39%; o EURUSD a € 1,0586, com alta de 0,37%; e o ouro a U$ 1.832, com alta de 0,67%.
Fique ligado!
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