O futuro da inflação americana #S&P500

 


Está se aproximando o final do ano e, contra minha vontade, vou fazer as previsões para 2025 dos principais ativos. Um deles, que está envolto em dúvidas, é a taxa de juros de 10 anos. Este é um ativo que acompanho semanalmente, ainda que enfrente problemas no banco de dados — o sistema que utilizo considera o preço dos bonds e não a taxa de juros diretamente. Nas minhas previsões anuais, o tom é de alta. O gráfico a seguir não deixa dúvidas de que a sequência de queda que perdurou por mais de 40 anos foi rompida. A dúvida que permanece é como será o comportamento dessa curva ao longo do tempo.

Uma conclusão imediata é que não se deve investir em títulos longos, por dois motivos: primeiro, porque a probabilidade de alta dos juros é maior do que de queda; segundo, porque não há prêmio na curva de juros que incentive esse tipo de investimento.




Bill Dudley comentou na Bloomberg: No próximo ano, o Federal Reserve dos EUA realizará um exercício com implicações globais: a revisão periódica do seu arcabouço de política monetária, momento em que repensa sua abordagem para administrar a maior economia do mundo.

Embora o banco central planeje se concentrar em algumas questões certeiras, parece que pontos importantes serão deixados de fora.

Do lado positivo, o Fed parece disposto a abandonar um regime voltado para impedir que as taxas de juros de curto prazo fiquem presas no limite inferior zero. Adotado na revisão de 2020, após as experiências de taxa zero durante a crise financeira de 2008 e a pandemia global, esse regime comprometia o Fed a manter as taxas no limite inferior até que três condições fossem atendidas: o emprego atingisse o nível mais alto consistente com a inflação estável; a inflação alcançasse 2%; e a inflação fosse projetada para superar 2% a fim de compensar desvios negativos passados. A estratégia tinha como objetivo ancorar as expectativas de inflação mais firmemente em 2%, prevenindo um aperto não intencional da política caso essas expectativas caíssem.

No entanto, a estratégia mostrou-se inadequada para uma economia emergindo da pandemia. Em março de 2022, as taxas de juros ainda estavam próximas de zero e o Fed continuava comprando títulos do Tesouro e títulos hipotecários para reduzir as taxas de longo prazo — enquanto a taxa de desemprego era de 3,8% e a medida preferida de inflação do banco central superava 5%. O Fed estava proporcionando um estímulo extraordinário mesmo com a economia superaquecida.

O presidente Jerome Powell parece reconhecer o problema. Ele observou que o risco de ficar preso no limite inferior diminuiu, pois a taxa de juros neutra — aquela que nem estimula nem restringe o crescimento — está mais alta do que na década após a crise de 2008. Como Powell colocou: "Você não mira em um excesso, apenas mira na inflação."

Até aqui, tudo bem. Mas há três questões importantes que parecem estar fora da agenda da revisão.

  1. Arcabouço para o afrouxamento quantitativo:
    O Fed precisa de um arcabouço para as compras de ativos, que utiliza para proporcionar estímulo adicional (e para sua reversão, conhecida como aperto quantitativo). Sem um arcabouço, os participantes do mercado têm dificuldade em entender quando e como as políticas serão implementadas. Isso prejudica sua eficácia, porque as expectativas do mercado afetam as taxas do Tesouro de longo prazo, as condições financeiras e a transmissão da política monetária para a economia.
  2. Avaliação de custos e benefícios:
    É necessário um regime para avaliar os custos e benefícios das medidas quantitativas, para compreender melhor o que realmente vale a pena fazer. Considere, por exemplo, o último ano do programa de compras que terminou em março de 2022: o Fed comprou US$ 1,4 trilhão em ativos em um momento em que era evidente que o desenvolvimento de vacinas contra a Covid e o imenso estímulo fiscal do governo Biden tornariam desnecessário o estímulo monetário adicional. Essas compras acabarão custando ao contribuinte americano mais de US$ 100 bilhões. O custo total do afrouxamento quantitativo durante a pandemia pode chegar a US$ 500 bilhões.
  3. Mudança na meta de taxa de juros:
    A meta atual do Fed, a taxa de fundos federais, está obsoleta, rastreando um mercado que os bancos quase não utilizam mais, devido à abundância de reservas bancárias. Isso complicou o trabalho do banco central: em 2015, por exemplo, o Fed introduziu um mecanismo de recompra reversa para evitar que a taxa de fundos federais caísse abaixo de sua faixa-alvo. O Fed deveria ter mudado para a taxa de juros sobre as reservas bancárias há anos. Antes tarde do que nunca.

Há também uma questão que não vale a pena considerar: se o Fed deveria aumentar sua meta de inflação acima de 2%, para reduzir o risco de ficar preso no limite inferior zero. Como Powell observou, esse risco diminuiu. Mais importante, a meta de 2% ajudou a manter as expectativas de inflação bem ancoradas, mesmo quando a inflação estava alta. Alterar a meta poderia enfraquecer a confiança na determinação do Fed — um movimento perigoso em um momento em que a inflação ainda está acima do objetivo do banco central e o Fed pode enfrentar pressão para afrouxar a política monetária devido ao aumento insustentável da dívida governamental.

Como a vitória de Donald Trump sobre Kamala Harris destacou, os eleitores realmente não gostam de inflação. A vontade do povo precisa contar para alguma coisa.

Me preocupa uma eventual elevação na meta de inflação. No mundo atual, parece que o risco é muito maior para alta de inflação do que para queda. No curto prazo, o potencial aumento de tarifas de importação é um risco autêntico nesse sentido, agravado pela valorização do dólar. Esse cenário poderia gerar um impacto duplo para os americanos. É verdade que existem outras forças em sentido contrário, como a deflação importada da China devido ao excesso de oferta. Além disso, a IA pode ser um acelerador da produtividade mundial, com um impacto deflacionário significativo.

Está achando complicado levar em consideração todos esses fatores? Simmmmmm! Vamos deixar esse trabalho para a análise técnica e, por ela, o juro parece ter mais espaço para subir do que para cair. Pelo menos nesse ponto, nós aqui no Brasil já estamos na dianteira. Devemos entrar em 2025 com uma previsão de SELIC em 14% a.a., onde apenas uma inflação muito elevada reduziria a taxa de juro real implícita. Isso devemos ao governo. Espero que em 2026 – já notaram que sempre esperamos algo do próximo governo – nos livremos da gestão arcaica do PT.

 


Análise Técnica

No post o-megaespeculador fiz os seguintes comentários sobre o S&P500: “Se, por acaso, a bolsa ultrapassar a máxima histórica de 6.020, o percurso em azul passa a ser o mais provável, podendo atingir 6.530 no final do ano – um belo presente de Natal! O stop loss dessa visão está em 5.696.”

 



Com novas máximas atingidas na semana passada, tudo indica que essa seja a opção mais provável. Embora fosse esperado um ímpeto maior nessa configuração, isso não elimina a possibilidade de o movimento ser mais “lento”. Continuamos com o próximo objetivo de 6.395 a ser atingido mais no final do mês. Destaquei um primeiro nível a ser superado de 6.182.

 



- David, sendo essa sua única posição de trade e considerando que o S&P estaria em uma onda 3,3, por que não dobra a posição?

Ual, está arrojado hoje! Te respondendo: nunca usei alavancagem nos trades, e não seria agora que vou usar. Os retornos obtidos estão muito bons e sempre uso uma frase de um professor da faculdade: o ótimo é inimigo do bom. Além disso, existe um cenário que não posso descartar, onde haveria uma queda mais chata – onda (3) vermelha mais curta. Por último, com muita gente com “ganhos na mão” e o mercado muito otimista, merece cuidado redobrado.

O S&P500 fechou a 6.049, sem variação; o USDBRL a R$ 6,0440, com queda de 0,21%; o EURUSD a € 1,0508, com alta de 0,10%; e o ouro a U$ 2.642, com alta de 0,11%.

Fique ligado!

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