Trabalhando 10 minutos por dia #IBOVESPA
Existem algumas curiosidades cuja compreensão é difícil ou cuja explicação carece de lógica. O dia de negociação da bolsa americana tem 390 minutos. Seria esperado que as ordens fluíssem de forma mais ou menos uniforme durante o dia. É aceitável que, no início e no final, haja uma maior concentração — curiosidade: já notaram como há uma propensão a realizar trades na parte da manhã? Já no final do dia, alguns investidores, ou day traders, preferem não dormir com posições abertas que não foram liquidadas durante o dia. Sendo assim, esses períodos poderiam ter maior volume de ordens.
Agora, se eu disser que um terço dos negócios acontece nos
últimos 10 minutos, isso não parece um pouco estranho? Justina Lee comenta na
Bloomberg que alguns estudos apontam para distorções nos preços e problemas de
liquidez.
Atualmente, cerca de um terço de todas as negociações de
ações do S&P 500 ocorrem nos últimos 10 minutos da sessão, de acordo com
dados compilados pela BestEx Research, desenvolvedora de algoritmos de
negociação. Esse percentual subiu de 27% em 2021. Novas evidências da Europa —
onde o padrão é semelhante — sugerem que essa tendência pode estar prejudicando
a liquidez e distorcendo os preços.
Isso oferece novos argumentos para os críticos do boom
global do investimento passivo, já que os fundos indexados são os principais
impulsionadores desse fenômeno. Esses produtos geralmente compram e vendem
ações no fechamento, uma vez que os últimos preços do dia são usados como base
para os benchmarks que tentam replicar.
Os fundos de ações passivas tiveram um crescimento expressivo na última década, acumulando mais de US$ 11,5 trilhões apenas nos EUA, conforme dados da Bloomberg Intelligence. Esse aumento tem deslocado um volume cada vez maior de negociações para o final da sessão.
Operadores ativos que buscam aproveitar a liquidez também
têm se juntado ao movimento, criando um ciclo que se retroalimenta.
De acordo com Benjamin Clapham, da Universidade Goethe de
Frankfurt, coautor do estudo Shifting Volumes to the Close: Consequences for
Price Discovery and Market Quality, "o conhecimento comum é que os
leilões de fechamento são mecanismos muito bons para encerrar os
mercados". No entanto, ele acrescenta: "Se houver uma grande
concentração de volumes nessa última oportunidade de negociação, poderemos
observar ineficiências de preço".
O estudo, realizado em colaboração com Micha Bender e
Benedikt Schwemmlein, pesquisador do Deutsche Bundesbank, analisou empresas de
grande capitalização nas bolsas de Londres, Paris e Frankfurt ao longo de
quatro anos, até meados de 2023. Os resultados mostraram que os preços
geralmente mudam entre o fim da negociação contínua e o preço final definido no
leilão de fechamento, mas 14% dessa variação é revertida durante a noite — um
sinal de que o movimento foi impulsionado por fluxos unilaterais e não por fundamentos.
Essa pesquisa reforça estudos anteriores, incluindo nos EUA, onde um trabalho de 2023 também argumentou que os movimentos observados durante o leilão frequentemente se invertem durante a noite devido à dinâmica de liquidez.
Comentário meu: muito estranha essa constatação. Eu
mencionei no passado que a maior parte do retorno da bolsa americana ocorre
durante a noite. Essa comprovação continua verdadeira atualmente, como pode ser
visto no gráfico abaixo.
Entre os críticos de alto perfil estão Elon Musk e David
Einhorn, da Greenlight Capital. Musk, por exemplo, criticou publicamente os
mercados, argumentando que o modelo de indexação "foi longe demais".
Enquanto alguns estudos argumentam que as reversões de
preços refletem ruídos no início do pregão, outros acreditam que os leilões de
fechamento ainda não causaram danos significativos à liquidez intradiária.
Pesquisadoras como Carole Comerton-Forde, da Universidade de Melbourne, e
Barbara Rindi, da Universidade Bocconi, concluíram que os ruídos percebidos no
mercado europeu podem ser atribuídos a eventos do início do pregão, e não a
distorções criadas pelos leilões.
Nos EUA, o aumento da participação de investidores de varejo
levou corretoras como Robinhood a oferecer negociação 24 horas de alguns
ativos, ampliando as oportunidades para compra e venda. No entanto, para
investidores institucionais, o foco está cada vez mais nos últimos minutos da
sessão.
Como destacou Mark Montgomery, da big xyt, "à medida
que a liquidez diminui ao longo do dia, a chance de vazamento de informações
sobre as intenções de negociação aumenta significativamente. Por isso, muitos
esperam até o final para realizar suas operações."
Tenho a impressão de que não há argumentação suficiente que
justifique uma distorção significativa. Aliado ao fato de o retorno noturno ser
superior ao do pregão, talvez as observações feitas no artigo sobre os preços
retornarem após o fechamento cubram um período menor, o que não invalidaria a
constatação.
Para tirar a prova, pedi ao ChatGPT calcular a diferença
entre o retorno do dia e dos últimos 10 minutos desde janeiro de 2020, período
que engloba as grandes flutuações da pandemia. A média apontou uma diferença
desprezível de 0,06%.
Muito se discute sobre a concentração dos fundos passivos,
que não para de crescer. O Mosca não enxerga problema e destaca vantagens:
menor custo; maior retorno no longo prazo em comparação aos fundos ativos; e
resiliência mesmo durante oscilações significativas, como as da pandemia. Os
críticos parecem ser os maiores prejudicados por essa tendência.
Conclusão: Para os participantes do mercado, os
únicos que podem trabalhar 10 minutos por dia são os traders responsáveis pelas
execuções. Que tal um rodízio? Assim, boa parte poderia assistir séries durante
o pregão e só aparecer nos últimos 10 minutos!
Análise Técnica
No post "mudança-de-gosto-ou-do-bolso, fiz os seguintes
comentários sobre o IBOVESPA: “No retângulo destacado em azul, se nota as 5
ondas. Não sei se a onda v azul já terminou. Na sequência, deve ocorrer uma
correção onde os níveis para entrada estão no retângulo salmão 128.9 mil /
128.4 mil / 128.0 mil. O stop loss estaria em 126.6 mil”.
Esse movimento serve como exemplo do perigo de confiar em
movimentos de janelas menores. Tanto é verdade que complementei: “Essas 5
ondas podem ser uma correção em zig-zag, que, depois de terminada, volta a
cair; ou ainda outra configuração, pois não é muito ‘by the books’.” E foi
o que acabou acontecendo com a bolsa.
O gráfico semanal abaixo mostra onde a bolsa pode chegar segundo essa contagem. Sempre ressalto que existem outras contagens possíveis, mas o mercado não tem dado sinais de que o cenário será alterado. Notem como o canal traçado está sendo respeitado. O primeiro objetivo seria em 121.4 mil (-3,5%). Se não contido, poderia alcançar 118.6 mil (-6%). Após isso, espero uma alta que ultrapasse a máxima histórica. Será que o governo vai cortar R$ 100 bilhões de despesas, incluindo as da Janja? (Viram o janjometro.com?) Hahaha!
- David,
com essa projeção de queda, não acha que vale a pena uma aposta?
Como você mesmo disse, isso seria uma aposta. A resposta é
não! Não estamos aqui para apostar, mas sim para identificar entradas com bom
risco x retorno.
O SP500 fechou a 6.086, com alta de 0,61%; o USDBRL a R$ 6,0409, sem variação; o EURUSD a € 1,0509, sem variação; e o ouro a U$ 2.649, com alta de 0,24%.
Fique ligado!
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