Bitcoin: Gerando demanda artificial #bitcoin #EURUSD

 


O CEO da MicroStrategy, Michael Saylor, estruturou operações de alavancagem em sua empresa que lembram bastante a famosa Operação D0, implementada por Naji Nahas em 1989. Vou relembrar essa operação, pois o desfecho dela pode ser semelhante ao que imagino para o Bitcoin.

Em janeiro de 1989, retornei ao Banco Frances e Brasileiro após passar 1 ano e meio como sócio de Leo Kryss, onde aprendi como funciona a mente de um especulador. Assim que cheguei à Tesouraria do banco, fui informado de uma operação de empréstimo envolvendo Naji Nahas. O funcionamento era o seguinte: as operações de bolsa eram liquidadas em D5, então Naji solicitava um empréstimo ao banco, oferecendo ações da Vale do Rio Doce como garantia. Ele escolheu essas ações porque acreditava no grande potencial de alta delas. O banco adiantava 85% dos recursos imediatamente, e com esse valor em mãos, ele comprava mais ações. Ele replicava essa operação com diversos bancos na praça, criando a chamada Operação D0.

Ao entender o funcionamento, convoquei os responsáveis pela operação e ordenei que ela não fosse mantida nos nossos livros, solicitando a liquidação do empréstimo no vencimento. Isso criou um frisson, pois outras operações importantes do banco poderiam ser afetadas. Decidiram, então, transferir a operação para uma agência.

Ele, porém, não se contentou com essa alavancagem e começou a operar opções da Vale e no mercado futuro do índice, utilizando instrumentos que demandavam pouco capital inicial. Já comentei em outros posts como escapei dessa armadilha, perdendo pouco. Um dia, ao ligar para uma corretora, perguntei como Naji planejava encerrar essas operações, especialmente a compra de Ibovespa. Recebi uma resposta simples: “Ele vai deixar vencer os contratos de junho deste ano.” Desliguei o telefone, atônito: como assim deixar vencer?! Eu estava financiado nesse índice com a compra de ações à vista. Chamei meu chefe de mesa e avisei: isso vai dar uma c@gada monstra, a bolsa vai despencar! Pedi que substituíssem parte da carteira à vista por opções em ações que as possuíssem. Bingo: em junho de 1989, a bolsa caiu mais de 30% quando os contratos futuros do índice venceram.

Michael Saylor, por sua vez, estava com um negócio de software em declínio, como comentei no post o-megaespeculador. Decidiu apostar suas fichas no Bitcoin. Mas por quê? Recordo-me do período em que os juros estavam a 0%, quando ele começou a montar sua posição. O argumento era que o dólar não pagava juros e que o Bitcoin seria a saída, acompanhado de todo o blá-blá-blá da época. Essa narrativa foi se mostrando irreal, e o Bitcoin acabou concentrado nas mãos de poucos investidores, que possuem grandes posições. Como sua emissão é limitada, qualquer demanda adicional eleva os preços.

Não satisfeito com recursos próprios, Saylor optou por alavancar sua aposta utilizando bonds conversíveis em ações. Para quem não conhece, os convertible bonds pagam juros e podem ser convertidos em ações a um preço predeterminado. O investidor que os compra acredita na valorização das ações ou utiliza estratégias de arbitragem para limitar riscos. Yiqin Shen comenta sobre isso em artigo da Bloomberg que se encontra resumido abaixo.

Neste ano, a MicroStrategy arrecadou mais de US$ 6 bilhões com a emissão de convertible bonds, combinando características de dívida e ações. Esses recursos financiaram a aquisição de uma vasta reserva de Bitcoin, atualmente avaliada em cerca de US$ 40 bilhões. Tal estratégia transformou a MicroStrategy em uma proxy para o Bitcoin, refletindo os movimentos da criptomoeda e tornando suas ações umas das mais voláteis de Wall Street.


O papel dos bonds conversíveis e a arbitragem

Os bonds conversíveis da MicroStrategy permitem a conversão em ações caso os preços atinjam certos níveis. Isso os torna atrativos para hedge funds que utilizam estratégias de arbitragem, explorando a volatilidade dos preços subjacentes. Esses bonds são tratados como opções de ações embutidas, cujo valor aumenta conforme a volatilidade cresce. A MicroStrategy, com variações médias diárias de 5,2% (contra 0,6% do S&P 500), oferece oportunidades únicas para esse tipo de operação.

Nesta tática, os investidores tratam o recurso de conversão do bond como uma opção de ações, cujo valor aumenta à medida que a volatilidade do ativo subjacente cresce. A MicroStrategy, com variações médias diárias de preço de 5,2% (em comparação com 0,6% do S&P 500), oferece uma oportunidade única para este tipo de abordagem.



O Atrativo de Volatilidade e o Plano de Saylor

Michael Saylor enfatizou, durante uma teleconferência com investidores em outubro, que a volatilidade de sua ação é uma vantagem estratégica. O preço das ações da empresa reflete não apenas as flutuações do Bitcoin — que mais do que dobrou em valor neste ano —, mas também um prêmio considerável, atualmente mais de 200% sobre o valor de mercado das reservas de criptomoedas da companhia.

Essa volatilidade torna os bonds conversíveis da MicroStrategy relativamente baratos para hedge funds, que buscam lucrar com as discrepâncias entre a volatilidade implícita e a volatilidade realizada. A empresa, inclusive, é a maior emissora de bonds conversíveis do mundo em 2024, consolidando-se como um caso singular nesse mercado.

Comentário meu: a possibilidade e exercer os bonds em ações por um determinado preço equivale a uma call embutida no papel, sendo assim, quem compra esse título pode vender no mercado de opções da bolsa opções de mesmo preço de exercício om uma volatilidade implícita muito superior realizando um lucro, ou seja, Michael Saylor está vendendo muito barato esse bonds para chamar parceiros na sua empreitada, assim como Nagi pagava juros altos para uma operação a princípio “sem risco”.

 


Riscos e Oportunidades

No entanto, nem tudo são flores na estratégia de Saylor. Embora os hedge funds utilizem hedges para mitigar os riscos das flutuações de preço, o sucesso das operações depende do perfil de crédito da MicroStrategy. Esse perfil, por sua vez, está intrinsecamente ligado ao preço do Bitcoin, uma das classes de ativos mais arriscadas do mercado. Especialistas alertam que, caso o rali do Bitcoin sofra uma reversão significativa, a estratégia alavancada da empresa pode resultar em graves perdas para investidores.

David Trainer, CEO da empresa de pesquisa New Constructs LLC, descreveu a situação como um "castelo de cartas", onde investidores correm o risco de serem pegos em um colapso inevitável. Essa dinâmica tem gerado comparações com um "jogo de cadeiras musicais", onde a última pessoa a sair pode enfrentar o pior impacto.



Conclusão

Ainda assim, enquanto a volatilidade continuar alta e o Bitcoin mantiver níveis razoáveis de preço, a arbitragem de bonds conversíveis deve permanecer como uma das estratégias mais sedutoras de Wall Street. A MicroStrategy, ao conectar mercados de capitais tradicionais ao universo das criptomoedas, ilustra como inovação e risco caminham lado a lado no mercado financeiro contemporâneo.

Mas não é só isso, A MicroStrategy está utilizando a estratégia de "at-the-market offering" (ATM) para emitir ações diretamente no mercado a preços correntes. Essa abordagem permite que a empresa capte recursos de forma contínua e flexível, ajustando-se às condições do mercado sem precisar de grandes anúncios ou processos burocráticos. Os bancos ou corretoras atuam como intermediários, criando e vendendo as ações em nome da empresa, com os recursos indo diretamente para financiar a compra de Bitcoin, alinhando-se à estratégia de Michael Saylor de transformar a MicroStrategy em uma proxy para a criptomoeda.

Essa abordagem é vantajosa porque reduz custos operacionais, oferece flexibilidade para aproveitar momentos de valorização das ações e evita compromissos fixos de dívida. No entanto, a emissão constante de ações pode diluir a participação dos acionistas existentes, aumentar a volatilidade dos papéis e expor a empresa a riscos se o preço das ações cair significativamente. Apesar disso, o modelo ATM é central na estratégia de Saylor, que busca capitalizar a volatilidade do mercado e fortalecer o vínculo da empresa com o crescimento do Bitcoin.

Conclusão: ele está usando um cardápio de opções cujo único objetivo é usar esses recursos para comprar mais bitcoins. Não vou ficar surpreso se ele também atua no mercado de opções de bitcoin ou mesmo de futuros para sustentar as altas.

Qual a diferença em relação a operação orquestrada por Naji Nahas? Nenhuma! Os instrumentos são diferentes e mais sofisticados pois Saylor usa sua empresa para tanto enquanto Naji operava na pessoa física, porém, o objetivo é o mesmo: criar uma demanda artificial de bitcoin, que ganhou novos adeptos com a eleição de Trump que promete regras mais flexíveis e talvez incentivos ao criar fundos do governo que poderiam comprar criptomoedas. Agora, esse passou a ser o argumento para comprar um ativo que não tem utilidade nenhuma?

O principal argumento usado pelo aficionados pela criptomoeda é sua escassez, pois sua emissão vai terminar algum dia. Escassez? Como pode ser esse argumento se existem 10.294 criptomoedas, é isso mesmo, mais de 10.000! O valor de mercado de todas elas incluindo o bitcoin é de U$ 3,49 trilhões, sendo o bitcoin a maior delas com valor de U$ 2,0 trilhões.

Mas como toda bolha você nunca sabe quando termina, e com uma negociação mundial 24 horas por dia, 7 dias por semana, coloca a bolha das Tulipas no bolso. Por enquanto a riqueza gerada por outros ativos durante a últimas décadas permite exageros desse tipo, mas em algum momento essa liquidez vai mudar, uma desaceleração econômica irá tornar os recursos mais escassos, e do mesmo jeito que as ações da MicroStrategy tem ágio sobre o bitcoin terá deságio, e todos esses intermediários ficarão com os prejuízos, pois Saylor não tem dívidas na pessoa física, pode ficar mais pobre, bem mais pobre, mas não vai quebrar.



Análise Técnica

No post bitcoin-reserva-de-valor-especulação fiz os seguintes comentários:“Nessa nova configuração, o Bitcoin ainda teria espaço para subir até U$ 99,2 mil (~10%) / U$ 104,8 mil (~13%), terminando a onda III azul. Em seguida, uma queda prolongada que duraria entre 1 e 2 anos, levando o Bitcoin de volta ao nível de U$ 45 mil na onda IV azul.”

 



A criptomoeda atingiu o objetivo traçado acima, cuja máxima de hoje, em U$ 103,6 mil, pode qualificar como tal. Mas, observando o movimento em uma janela menor, é possível que se estenda até U$ 107 mil ou ainda U$ 119 mil. Não sei onde pode terminar esse movimento, mas, quando terminar, a onda IV azul teria um objetivo mínimo de U$ 44,6 mil! Seria aí que a operação de Saylor será desmontada?

 



No post o-impensável-pode-acontecer fiz os seguintes comentários sobre o euro:“A onda 4 azul está em andamento e pode ou não ter terminado — não parece. Vou ficar de olho nessa oportunidade. O stop loss para essa hipótese é € 1.0681. Depois de terminada, uma longa onda 2 vermelha deve suceder, levando o euro até os níveis apontados no círculo. Mas sugiro focar no curto prazo.”

 



Eu observei que existe outra possibilidade para essa recuperação, cujo objetivo difere do que é esperado na hipótese que eu trabalho. Inicialmente, o cenário atual indica que a onda 4 azul estaria em andamento, cujo objetivo seria € 1.0638. Se o euro continuar subindo acima desse nível e ultrapassar € 1.07124, vou desconfiar que a opção mais adiante está em curso.

 



Nessa outra opção, a onda 1 azul teria terminado e o euro estaria no início da onda 2 azul, cuja duração deveria cruzar o ano. Nesse caso, pode-se esperar uma recuperação em algum nível apontado no retangulo. Mas o que pode estar errado nessa opção? Como demarquei com o símbolo em laranja, a onda ii laranja violou uma das três regras de Elliot Wave, onde a retração da onda 2 não pode ultrapassar o começo da onda 1. Porém, considerando que essa ultrapassagem foi mínima e que estamos em um mercado de balcão, pode ser que essa violação nem tenha ocorrido.

 



o S&P500 fechou a 6.075, com queda de 0,19%; o USDBRL a R$ 6,0079, com queda de 0,55%; o EURUSD a € 1,0582, com alta de 0,69%; e o ouro a U$ 2.631, com queda de 0,68%.

Fique ligado!

Comentários