O desmanche do RH #IBOVESPA
O mercado de trabalho americano deixou de ser um indicador confiável de direção econômica e passou a ser um retrato de desconforto estrutural. Não há colapso explícito, mas tampouco existe dinamismo real. O que se vê é uma economia funcionando em marcha reduzida, com dados cada vez menos esclarecedores e decisões cada vez mais difíceis. Quando o principal termômetro perde precisão, o risco deixa de ser conjuntural e passa a ser de diagnóstico.
A taxa de desemprego
nos Estados Unidos atingiu 4,6%, o maior nível em mais de quatro anos, mesmo
com criação líquida de vagas. Essa contradição não é estatística: é
sintomática. O mercado de trabalho não está apenas esfriando; ele está se
desorganizando. As contratações acontecem de forma fragmentada, concentradas em
nichos específicos, enquanto setores inteiros entram em estado de espera.
Essa concentração não
é aleatória. Saúde, educação e serviços sociais seguem contratando porque
dependem essencialmente de presença humana. Fora desse perímetro, o quadro é de
estagnação. Indústria, tecnologia, serviços profissionais e áreas administrativas
operam sob contenção de custos, com pouca disposição para ampliar quadros. Não
se trata de uma onda de demissões, mas de algo talvez mais corrosivo: a
interrupção silenciosa da porta de entrada.
É nesse ponto que a
discussão deixa de ser cíclica e passa a ser estrutural. Eu sou da época em que
nenhuma contratação relevante acontecia sem o aval do RH. Não era um ritual
burocrático, mas um mecanismo de gestão de risco humano. Hoje, esse papel vem sendo
desmontado. O RH está sendo substituído por sistemas, métricas automatizadas e
decisões mediadas por tecnologia da informação. Não é um fenômeno abrupto, mas
é contínuo — e irreversível.
A inteligência
artificial não elimina empregos apenas pelo corte direto. Ela age antes, na não
reposição, na filtragem automática, na redução da necessidade de estruturas
intermediárias. O resultado é um contingente crescente de trabalhadores cuja
qualificação não encontra mais demanda clara. E isso cria um tipo de desemprego
contra o qual política monetária tem alcance limitado.
O Federal Reserve se
vê, assim, preso a um dilema desconfortável. Cortar juros não recria funções
extintas nem acelera processos de requalificação. Manter juros elevados
tampouco resolve um mercado que não reage por falta de demanda, mas por mudança
de natureza. Os dados sugerem enfraquecimento suficiente para justificar
flexibilização, mas não oferecem convicção. O resultado é hesitação — e
hesitação, em política monetária, costuma custar caro.
Para piorar, os
próprios números perderam nitidez. O fechamento temporário do governo americano
comprometeu a coleta de dados, distorceu séries históricas e aumentou a margem
de erro. Revisões futuras devem subtrair dezenas de milhares de vagas das estatísticas
atuais. O mercado sabe disso, mas não sabe quanto. Opera-se, portanto, com
informação incompleta, exatamente no momento em que a precisão é mais
necessária.
Enquanto isso, cresce
o número de trabalhadores em regime parcial que gostariam de trabalhar em tempo
integral. Esse dado raramente erra o sinal. Não é desemprego aberto, mas é
frustração de renda, insegurança e queda de confiança. Soma-se a isso a desaceleração
do crescimento salarial, no ritmo mais fraco desde a pandemia, e a pressão
sobre o consumo se torna inevitável.
O consumo americano
resiste enquanto o mercado de trabalho sustenta previsibilidade. Quando essa
previsibilidade desaparece, a reação vem com atraso, mas vem. Pequenas empresas
já ajustam contratações de forma defensiva. Grandes companhias revisam orçamentos.
O investimento em inteligência artificial, embora volumoso, gera eficiência,
não massa salarial. Data centers não substituem milhões de folhas de pagamento.
O Mosca não vê uma
recessão iminente nos números, mas vê algo potencialmente mais problemático: um
mercado de trabalho que perdeu sua função de bússola. Quando isso acontece, o
risco não é apenas errar a leitura do ciclo. É aplicar o remédio errado para
uma doença diferente.
Análise Técnica
No post “deu-ruim” fiz
os seguintes comentários sobre o Ibovespa: “Segundo minha contagem a onda
5 verde e a onda 3 azul devem ter concluído embora
não possa afirmar com certeza (precisaria cair abaixo de 147,5 mil). A onda
4 azul deveria perdurar por um tempo e só depois caminharia para
terminar a onda 5 azul. Vamos aos níveis potenciais de queda dessa
onda: 154, 4 mil (mais provável) / 148,4 mil / 143,4 mil.”
Ontem o mercado reverteu a alta que acontecia nos últimos dias o que deixa as seguintes opções conforme destacado no gráfico abaixo
Opção curta: Nesse caso podemos esperar uma queda (ou a
formação de um triângulo) ao redor de 152 mil com pequena duração que seria
revertida seguindo novas máximas na sequência.
Opção longa: Neste caso um período mais longo estaria se
formando onde a bolsa poderia atingir os níveis de 148,3 mil / 143,4 mil e só
depois de terminado se poderia esperar novas altas.
- David, qual você
acha mais provável?
Seguindo minha
contagem e observando os últimos acontecimentos políticos dou uma chance maior
para a “opção longa”. A pesquisa de intenção de votos publicada ontem fornece
um quadro incerto para Flavio Bolsonaro. Por um lado, e segundo a pesquisa
teria ao redor de 25% dos votos no primeiro turno, por seu nível de rejeição é
ainda maior que o de Lula em 53%, o que resultaria numa vitória fácil desse
último no segundo turno.
Uma coisa que ficou
claro quando Flavio Bolsonaro anunciou sua candidatura: O mercado não quer ver
o Lula num segundo mandato e como tal estava operando antes com uma vitória de
Tarcísio ou outro candidato de direita. Essa conclusão pode ser feita pelas sucessivas
alta da bolsa.
Sempre tive dúvidas
sobre essa ser a razão da alta pois acreditava que era muito cedo para qualquer
aposta num sentido, e nesse ponto estava certo haja vista a queda que ocorreu
no dia 05 último.
Não vou dar nenhum
call de eleições para eventual posicionamento meu guia é o mercado e como não
poderia deixar de ser “Let The Market Speak”
O S&P 500 fechou a
6.721, com queda de 1,16%; o USDBRL a R$ 5,5155, com alta de 0,11%; o EURUSD a €
1,1738, sem variação; e o ouro a U$ 4.341, com alta de 0,91%.
Fique ligado!
Flavio Bolsonaro abrir mão da candidatura será o fim do Bolsonarismo. Do ponto de vista deles manterem a hegemonia da direita, penso que é a estratégia correta, mesmo que percam a eleição, semelhante ao que Lula fez em 2018. Poderão voltar em 2030 com um segundo mandato Lula 2 que pode enfrentar uma grave crise fiscal. Agora se essa disputa Lula x Bolsonaro será boa ao pais, é outra história. Eu acho que o mercado precisa reconsiderar essa aposta otimista, até para subir o dólar, depreciar ativos e deixar a vida do Lula mais difícil na eleição. É melhor o clima azedar logo, pois assim a chance do Lula apresentar um plano fiscal factível antes de estar com a taça na mão (vitória nas urnas). Se ele ganhar sem a discussão do fiscal, terá carta branca para continuar com essa agenda (aumento de gastos, impostos e divida) onerosa ao pais.
ResponderExcluiracho bem plausível seus raciocínio. A dúvida vai perdurar até abril quando se encerra a lista de candidatos.
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