Um peso duas medidas
O Japão precisa
desesperadamente de um dólar mais forte, a China quer desesperadamente um dólar mais fraco: O FED não pode
agradar a ambos.
O mercado de câmbio é um jogo de soma zero: se uma moeda enfraquece,
outra sobe, uma vez que o valor de uma moeda é relativo a outras moedas, todas
as moedas não podem enfraquecer juntas.
Uma moeda que se fortaleceu
desde meados de 2014 foi o dólar. A mesma subiu 20%, enquanto o iene japonês e o euro enfraqueceram em 20%.
Muitas moedas de economia em desenvolvimento (rand, peso, real, etc.)
despencaram, declinando de 40% a 50% (ou até mais) em relação ao dólar.
Moedas definem a tendência
subjacente, não apenas para títulos e ações, mas para economias inteiras. Uma
moeda enfraquecida torna os produtos exportáveis de um país mais baratos em
outros países. E a teoria é que, a expansão das exportações impulsiona a
economia global - especialmente se essa economia está estagnada ou em recessão.
Uma moeda enfraquecida também
torna as importações mais caras na economia doméstica, ocasionado uma inflação
mais elevada - precisamente o que cada banco central no mundo deseja, na teoria
de que, a inflação fará as pessoas gastarem mais (uma vez que o seu dinheiro
está perdendo valor) e reduzir os custos dos empréstimos em moeda estrangeira
(que se presume, estimula mais empréstimos e gastos).
É por isso que todo mundo parece querer uma moeda mais fraca. Mas como
mencionado acima, todas as moedas não podem ir para baixo; se alguma
enfraquecer, outras têm que se fortalecer.
O que nos leva à crise atual:
por baixo da propaganda que tudo está bem no mundo, o dólar subindo
desestabilizou a economia global de forma sutil: operações de compra de moedas
com juros mais elevados para se beneficiar do que se denomina carry trade foram desfeitas, os fluxos
de capital inverteram, as commodities cotadas em dólares têm despencado, e
assim por diante.
O típico comentarista econômico
elogiou o recente enfraquecimento do USD, uma inversão da tendência do dólar
forte.
O Japão procurou enfraquecer o
iene para impulsionar suas exportações e a inflação. Agora, o enfraquecimento
do dólar está esmagando esses planos, uma vez que, o iene está subindo, com
valorização de 14,5% desde dezembro último.
Com a alta do iene, o Japão está sendo empurrado para uma
recessão. Depois de 20 anos de empréstimos para financiar o estímulo fiscal, a
impressão de moeda, compra de títulos, etc., o Japão ficou sem opções. O
enfraquecimento do iene a partir de 2012, foi a última esperança para
impulsionar as exportações e inflação. Essa alta recente, pode ser o estopim de
uma nova crise naquele país.
Enquanto isso, o fortalecimento
do dólar empurrou a China na sua própria crise. A moeda chinesa, o yuan, é um
caso especial porque o seu valor está atrelado ao dólar pelas autoridades
monetárias chinesas. Isso significa que,
a moeda atrelada sobe e desce com a moeda mestre. Como o dólar subiu, ele
arrastou o yuan para um nível mais elevado, em relação a todas as outras
moedas, e a última coisa que as autoridades chinesas queriam ver, era o setor
de exportação vacilante.
Como o dólar subiu, a pressão
para desvalorizar o yuan também subiu. Se uma pessoa acha que o seu dinheiro
está prestes a perder 20% do seu valor devido à desvalorização, o que ele pode
fazer para proteger a sua riqueza? Manda seu dinheiro para o exterior.
Só a possibilidade de uma
desvalorização do yuan provocou uma fuga de capital sem precedentes. Com
enxurradas de dinheiro para fora da China em moeda e bens, como casas em
British Columbia e palácios na França. A fuga de capitais não é um sinal que
uma economia está florescente, ou evidência de que a classe mais rica confia na
moeda ou a economia.
Recentemente, a China tomou
pequenos passos para desvalorizar o yuan: não o suficiente para desencadear um pânico
global, mas mais do que suficiente para provocar a fuga de capitais e causar um
mal-estar profundo.
Como resultado, a China quer
desesperadamente um dólar mais fraco. Com um dólar mais fraco enfraquece o yuan,
alivia a pressão sobre as exportações chinesas e exigências de desvalorização.
De maneira inversa, desde dezembro último, o yuan se desvalorizou em 1,5% em
relação ao dólar.
Não é a toa que o Fed está balançando:
não pode agradar o Japão e a China ao mesmo tempo. Se o dólar cai, a China fica
mais aliviada, mas o Japão é empurrado para uma crise. Se o dólar sobe, o Japão
está “salvo”, mas a China será forçada a desvalorizar o yuan ou assistir o declínio
de suas exportações.
O FED tem uma escolha difícil,
e o aviso soou. Ele pode quebrar o acordo informal com Shanghai, para
enfraquecer o USD, e salvar Japão, ou deixar o dólar enfraquecer ainda mais
para aplacar a China e as economias dependentes de commodities.
O mercado de câmbio está
prestes a colocar o FED num dilema, e não há nada que se possa fazer sobre
isso. O que os bancos centrais mais temem são mercados que não são rigidamente
controladas. As autoridades monetárias do mundo estão prestes a enfrentar uma
encruzilhada, decorrente de sete longos anos de manipulação implacável.
No post Dilma-vai-ou-fica, fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ...” O primeiro nível seria em R$ 3,45 (1) e o segundo R$ 3,25 (2),
ambos têm méritos técnicos que os justificam. Abaixo disso, algo mais profundo
aconteceu e não pretendo fazer essa análise até que aconteça”...
Com o dólar negociando hoje
abaixo de R$ 3,57, parece que o primeiro teste do nível ao redor de R$ 3,45,
deverá acontecer essa semana. Acho que o dilema permanecerá no final de semana,
onde será votado o processo de impeachment da Dilma.
Mesmo que eu tivesse certeza
que a Presidente seria afastada, não operaria o dólar em cima dessa informação.
Do ponto de vista técnico não existe razão para comprar dólar agora, e assim
seguirei com essa indicação.
-
David, e se a Dilma não for destituída, não vale uma compra na próxima
sexta-feira?
Não, melhor você juntar sua
família e ir à passeata de domingo, ao invés de ficar torcendo para ela não
sair! Hahaha... Não operamos opiniões e
sim destaques técnicos! Mesmo que a sua hipótese se
concretize, somente com a mudança do sinal técnico vou sugerir compra de
dólares.
OSP500 fechou a 2.041, com queda de 0,27%; o USDBRL a R$ 3,4912, com queda de 2,89%; o EURUSD a 1,1406, sem variação; e o ouro a US$ 1.257, com alta de 1,45%.
Fique ligado!
OSP500 fechou a 2.041, com queda de 0,27%; o USDBRL a R$ 3,4912, com queda de 2,89%; o EURUSD a 1,1406, sem variação; e o ouro a US$ 1.257, com alta de 1,45%.
Fique ligado!
Comentários
Postar um comentário