Final Ilógico



Quando eu era o responsável pela gestão de fundos no Deutsche Bank, essa indústria começava a ficar competitiva. Com taxas de juros elevadas, a gestão de renda fixa não requeria grandes ideias, bastava comprar títulos indexados à taxa SELIC/CDI e não fazer mais nada. Todas as outras formas de investimento não conseguiam obter retornos superiores a essa, no médio prazo.

Mesmo sendo um banco estrangeiro, característica que dava ao investidor maior confiabilidade, não era suficiente para cobrar taxas de administração mais elevadas.

O segmento de fundações sempre foi um mercado extremamente competitivo. Por disponibilizar grandes quantias de recursos, conseguem taxas muito inferiores aos clientes pessoa física.

Certa vez, entramos numa concorrência para administrar um fundo dos funcionários da Petrobras. Como não havia a menor chance de “benefícios” indiretos, esses eram cotados nas condições de mercado.

Meu funcionário responsável pelo relacionamento com os clientes, queria desesperadamente ganhar essa concorrência. Seus argumentos eram que: destacaria o banco nesse segmento; e elevaria os ativos sob administração, conhecido como AUM – Assets Under Management. Minha visão mais pragmática, não considerava tão importante esses quesitos, se a remuneração não fosse minimamente atraente. Mas tanto ele insistiu que resolvi aceitar sua sugestão. Depois de pesquisar o mercado nesse segmento, fizemos uma proposta para administrar um fundo de R$ 100 milhões a uma taxa de 0,05% a.a., em outras palavras, esse fundo geraria uma receita de R$ 50.000/ano.

Acabamos perdendo, pois, um outro banco ofereceu 0,02% a.a. Quando soube fiquei feliz, com aquela receita de R$ 50 mil/ano, qualquer erro no recolhimento de impostos desse fundo, geraria prejuízo, com R$ 20 mil/ano, não pagava nem o cafezinho! Meu comentário a esse colaborador foi “cobrar isso ou não cobrar nada não faz a menor diferença”.

Passados 20 anos, esse momento chegou, ou melhor, um fundo americano está pagando para seus clientes que fizerem aplicações em seu fundo.

A tendência que tem impulsionado as taxas no mundo da gestão de ativos, implacavelmente mais baixa, finalmente chegou à sua conclusão ilógica. A Securities and Exchange Commission acaba de aprovar um fundo negociado em bolsa com taxas negativas. É mais uma prova, se é que é necessário, que é improvável que a corrida para taxas menores seja interrompida tão cedo - e que os administradores de fundos precisam continuar se ajustando às suas circunstâncias difíceis.

A Salt Financial, sediada em Nova York, lançará seu ETF SaltBret, pagando 50 centavos aos investidores por cada U$ 1.000 investidos até que o fundo atinja U$ 100 milhões de dólares - o que a empresa diz ser o tamanho mínimo para ser listado em corretoras e plataformas de consultoria, depois disso, a taxa reverte para um pagamento de US $ 2,90.

É claro que é um truque projetado para atrair publicidade, e a empresa ainda pode ganhar dinheiro emprestando as ações que compra, cobrando uma taxa aos mutuários.

Mas também destaca o aspecto de "o ganhador leva tudo" do mercado de ETFs, onde as três principais empresas - BlackRock., Vanguard Group , e State Street - controlam mais de 80% dos ativos norte-americanos, segundo dados compilados pela Bloomberg. Mesmo na Europa, quase 65% do mercado está nas mãos da BlackRock, DWS, e Societe Generale.


"David precisava de um estilingue para derrubar Golias - precisamos de um modelo de taxas negativas para forçar nossa entrada", disse o presidente da empresa e co-fundador Alfred Eskandar. “Novos emissores de ETF têm duas opções. Eles podem fazer o seu melhor para sobreviver nos seis anos que levam, em média, para chegar a US $ 100 milhões, ou podem fazer algo mais drástico que os leve até lá mais rápido ”.

Como disse a Bloomberg, em março, o mercado de ETFs é um “terrordrome”, onde 97% dos fluxos líquidos de quase US $ 500 bilhões em 2018, foram destinados a produtos cobrando 0,2% ou menos de taxa de administração.

E os dados demográficos sugerem que há mais por vir. A Charles Schwab acaba de divulgar uma pesquisa com usuários de ETF que mostra uma divisão geracional entre os jovens poupadores, que abraçaram a simplicidade de baixo custo dos produtos, e os investidores mais antigos, que permanecem um pouco mais céticos quanto à sua utilidade.


Cerca de 68% de todos os entrevistados disseram que planejam aumentar seus investimentos em ETF no próximo ano, em comparação aos 54% da pesquisa de 2018. Quando dividido por idade, no entanto, a porcentagem de investidores mais jovens que esperam aumentar sua dependência dos ETFs é marcadamente maior.


À medida que a geração mais jovem toma o espaço da geração mais velha, os mais jovens, que foram bombardeados nos últimos anos, por artigos e relatórios argumentando que os retornos disponíveis de produtos de investimento ativos não são satisfatórios. E que o motivo que justifica essa baixa performance, são taxas mais altas. As leis imutáveis da demografia significam que a mudança para estratégias passivas se acelerará.

Não acredito que Salbret pretende captar recursos para seu fundo somente porque paga a seus clientes. Para que isso aconteça terá que performar. Mas é indiscutível que essa oferta é uma boa estratégia de marketing que poderá ter um custo máximo anual de U$ 50 mil/ano, na verdade, bem menos que esse montante. Como recuperar será a questão, cobrando 0,29% a.a., o fundo terá que ser muito bem-sucedido em termo de volume de ativos.

Essa indústria considerada no passado como a “vaca leiteira”, ao proporcionar uma receita estável ao seu administrador, mudou. Agora, para poder ter sucesso, é necessário ter muito bilhões de AUM, não basta meia dúzia de caras inteligentes!

No post o-prejuízo-bem-explicado, fiz os seguintes comentários sobre o Ibovespa: ... “Vou apresentar a seguir um gráfico com uma visão de mais longo prazo” ... ... “a linha verde seria o cenário que poderia se esperar, uma queda até 88 mil e depois início de alta, devendo ultrapassar a máxima de 100 mil. Uma possibilidade alternativa seria uma queda até 80 mil para em seguida a alta. Abaixo de 80 mil vou ficar desconfiado que essa correção é da forma que imaginei” ...

Ao fazer a análise pela manhã, e considerando que o mercado negocia nas mínimas do ano, já estava pronto para sugerir um trade de compra. Quando fui calcular o nível de stoploss e algumas características técnicas, fiquei na dúvida, e na dúvida não se deve fazer nada.


Essa correção está contida entre as duas linhas paralelas em cinza, com viés de baixa. Nos gráficos apontei dois níveis para que pode haver uma reversão, pelo menos de curto prazo. O primeiro objetivo seria em 88 mil, e caso não se sustente, o próximo e por volta de 82,5 mil.

Até aí, não existe nada de errado com as premissas estabelecidas, porém, se compramos nos 88 mil e a bolsa continua caindo, deveria colocar o stoploss em 85 mil, uma perda de aproximadamente de 3,5%.

Se por outro lado, temos um call de venda do SP500, parece não fazer muito sentido comprar a bolsa brasileira antes que essa situação proposta se concretize. Por outro lado, também não tenho nada que não me indicasse que deveria comprar nos 88 mil, apenas esse raciocínio acima. Desta forma, decidi acompanhar mais de perto, do que colocar o call de compra na lista de espera.

Os dados econômicos brasileiros estão muito ruins, a tal ponto do Ministro da Fazenda, Paulo Guedes, ter dito que estamos no fundo do poço. O que ele não disse e se acredita que tem uma corda para sair. Seguramente esse fato deve estar incomodando, pois sabe que até a aprovação da Reforma da Previdência, não deve haver muita melhoria. O tempo agora conta negativamente.

Sobre esse último, se o Presidente Bolsonaro não encontrar uma forma de negociar com o Centrão, a aprovação será difícil de acontecer, ou não será higienizada, mas sim, esquartejada!

O SP500 fechou a 2.850, com alta de 0,58%; o USDBRL a R$ 3,9938, com alta de 0,49%; o EURUSD a 1,1200, sem variação; e o ouro a U$ 1.296, sem variação.

Fique ligado!

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