Vai piorar antes de melhorar
Se tem alguma coisa que o mercado de ações odeia é
incerteza. É melhor uma decisão cujo impacto é negativo que ficar na dúvida, e
parece que o acordo de comercio entre EUA e China se encontra, pelo menos até o
momento, sem solução.
Na sexta-feira, os investidores acreditavam que alguma
solução aconteceria no final de semana, porém, os tweets de ambos os lados não
sugerem isso. Ambos os lados, porque os chineses aderiram ao aplicativo Twitter
para mandar seus recados.
Após algumas palavras reconfortantes do lado norte-americano
e chinês, sobre as negociações para evitar aumentos de tarifas, foram
"construtivas" e havia motivos para "otimismo cauteloso"
para o futuro. O impasse entre EUA e China abruptamente azedou durante o fim de
semana, quando o vice-primeiro-ministro da China, Liu He, disse que a China
está planejando retaliar e listar três principais preocupações que devem ser
enfrentadas, e sobre as quais não faria concessões antes de qualquer acordo,
incluindo:
i) a remoção completa de todas as tarifas relacionadas à
guerra comercial,
ii) estabelecer metas para compras chinesas de bens em linha
com a demanda real e
iii) assegurar que o texto do acordo seja “equilibrado” para
garantir a “dignidade” de ambas as nações.
Comentando sobre esta lista, o editor-chefe do Global Times,
Hu Xijin, que se tornou um tradutor em tempo real para intenções não declaradas
chinesas no Twitter, explicou que "da perspectiva política da China, há
pouco espaço para compromissos. Eles irão insistir. Esta lógica política não
será alterada, não importa quantas tarifas adicionais os EUA irão impor ".
Trump respondeu imediatamente ao Twitter quando deixou claro
no sábado que os Estados Unidos não cederiam, afirmando que os chineses podem
ter sentido que estavam "sendo espancados tão duramente" nas recentes
negociações que, era melhor aguardar, na esperança de que ele fosse perder a
eleição de 2020, e assim conseguir um acordo melhor com os democratas. Trump
então disse que "o único problema é que eles sabem que eu vou ganhar (os
melhores números de emprego e economia na história dos EUA, e muito mais), e o
acordo se tornará muito pior para eles se tiver que ser negociado no meu
segundo mandato. Seria sensato que eles agissem agora, mas adoro cobrar ALTAS
TARIFAS! "
O que, em retrospecto, significa que qualquer um que tenha
desejado uma solução rápida e fácil, conforme a ação do mercado na sexta-feira,
ficou desapontado com as cotações de madrugada dos futuros, e durante o pregão
de Nova York.
Como resultado, em meio à retaliação imediata de Pequim à
decisão dos EUA, de impor altas tarifas sobre US $ 200 bilhões das importações
chinesas, os traders esperam um aumento na volatilidade, com os investidores
saindo de ativos de risco em favor dos títulos do Tesouro dos EUA, ouro, dólar
iene e franco suíço.
O efeito já pode ser visto nos preços de produtos que
sofreram algum tipo de taxação. O gráfico abaixo aponta a evolução de nove
itens dentro dessa categoria comparados com todos os outros. Esse efeito
ocorreu com uma tarifa de 10% e uma lista limitada, agora imaginem 25% com uma
lista ampla.
Embora tenha havido várias estimativas sobre o que a
escalada mais recente significa para ativos de risco, com muitos sugerindo que
um resultado "sem acordo" potencialmente provocaria uma queda no SP
500 abaixo de 2.600, forçando o Fed a cortar taxas. Uma boa avaliação do futuro
estado dos mercados de capitais, em função da guerra comercial em curso, vem do
economista-chefe do Bank of América, Ethan Harris. Na sua opinião, Trump quer
acordos e se compromete, mas só depois de extrair o máximo de concessões
". Para Harris, esse é um padrão de grandes demandas e concessões
moderadas que vimos repetidamente. E este caso não é diferente: tanto os EUA quanto
a China querem um acordo, "mas motivar o compromisso inevitável requer
alguma combinação de dor no mercado, na economia e na política".
O quadro a seguir resume seus cenários com os respectivos
impactos nos mercados.
Na opinião do Mosca, quanto
mais demorar o acordo, maior será o impacto na economia e como consequência nas
bolsas, com um risco se mal calculado, levar a quedas muito maiores. O que me
preocupou nas trocas de tweets deste final de semana, é o fato de Trump elencar
essa situação as próximas eleições, onde quer colocar que somente ele tem
condições de enfrentar os chineses. Essa indicação aponta para um cenário que
poderá durar meses!
No post trump-de-novo, fiz os seguintes comentários
sobre o dólar: ...
“Quando o preço de um ativo sobe de forma tímida e retrai a um nível sempre
superior a mínima anterior, é possível que haja um rompimento do triangulo
formado no sentido do movimento” ... ... “Somente acima de R$ 4,22 se pode
afirmar que, a perspectiva do Mosca de mais longo prazo, pode estar começando,
o que levaria o dólar a novas máximas” ...
O dólar continuou com o mesmo tipo de comportamento esta
semana, anotado acima, e embora, somente acima de R$ 4,22 altero minha
perspectiva, e natural que, caso nosso stoploss seja acionado, as chances
pendem em favor de novas altas do dólar.
Meu amigo poderia perguntar, qual seria o nível que o dólar
poderia atingir. Acho a pergunta relevante dado o desenrolar do que vem
acontecendo. No gráfico a seguir, aponto para esses níveis, caso o dólar
ultrapasse a máxima anterior de R$ 4,22. O primeiro seria ao redor de R$ 4,40,
enquanto o próximo entre R$ 4,70/4,80, uma alta nada desprezível de
aproximadamente 20%.
Mas não joguei a toalha, enquanto nosso stoploss não for
acionado, ainda é possível que o dólar recue dos níveis atuais até R$ 3,60.
Para que isso possa se concretizar é fundamental que caia no curto prazo abaixo
de R$ 3,90.
É evidente que gostaria de ver o dólar cair, além de ser o
que eu acredito, mas não posso deixar de analisar cenários alternativos, pois
sempre posso estar errado. Neste ponto, o mercado é cruel, não adianta pedir
desculpas, ele vai direto no seu bolso.
O SP500 fechou a 2.811, com queda de 2,41%; o USDBRL a R$
3,9804, com alta de 0,60%; o EURUSD a € 1,1229, sem variação; e o ouro a U$
1.299, com alta de 1,10%.
Fique ligado!
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