O prejuízo bem explicado



Meu antigo chefe no banco Francês e Brasileiro me dizia que, para os franceses do Credit Lyonnais, maior acionista do banco, era melhor um prejuízo bem explicado que um lucro sem explicações. Na primeira vez que ouvi essa frase achei que ele estava brincando, porém, com o passar do tempo, notei que em determinadas situações de prejuízo, quando bem explicados, a diretoria aceitava numa boa.

Certa vez, meu chefe estava de férias e a tesouraria onde eu era responsável obteve um lucro expressivo com uma posição de títulos públicos. Esperei que ele me ligasse para informar sobre esse resultado. Ele repetidamente me orientou para não comentar com ninguém, pois não entenderiam o motivo desse resultado. Na sua volta, ficou quieto, deixando que esse lucro fosse refletido no resultado global. Não recebi nenhum parabéns, fora o do meu chefe, ninguém percebeu!

Parece que essa mania francesa atravessou o oceano e direciona atualmente as empresas de tecnologia. Um artigo publicado por Bill Blain, estrategista da empresa de investimentos Shard Capital, explica seu ceticismo.

Olhe para a loucura de comprar as ações de tecnologia, que não ganham dinheiro. Mas seriamente…. Você compraria uma empresa com faturamento de US $ 1,8 bilhão, substancialmente menor que suas perdas totais de US $ 1,9 bilhão, onde o CEO foi citado na Forbes: “nossa avaliação e tamanho hoje, são muito mais baseados em nossa energia e espiritualidade do que em um múltiplo de receita ”. Nos mercados normais, provavelmente você fugiria dessas empresas.

Mas estes não são mercados normais. Com taxas de juros baixas por muito tempo, retornos difíceis de obter, mercados de ações se movendo mais a cada dia, a força de mercado peculiar conhecida como “FOMO” (medo de perder) leva todos a analisar os riscos de não participar da emissão de ações (IPO).

A empresa em referência acima já entrou com pedido de IPO com uma provável avaliação de US $ 47 bilhões .... Não, não é a Uber, e outra. A empresa é imobiliária, que pensa ser uma mudança de paradigma, veja comentários ao final.

O excesso de IPO recente das empresas Tech, tem um monte de gestores de ações se questionando se estamos nos aproximando do topo da bolha da tecnologia. Eles suspeitam que o Uber e o We-Work serão os últimos suspiros antes do inevitável estouro! Aqueles que lembram do pico da bolha da Dot.Com, vão se lembrar das improváveis ​​empresas de alimentos para animais financiadas em múltiplos de 100, pouco antes do estouro da bolha.

O sucesso da tecnologia disruptiva, novos padrões de consumo e como eles compactaram, mudaram totalmente a curva TAM (Modelo de Aceitação de Tecnologia). Realmente mudaram o mundo e proporcionaram retornos estelares para os investidores. Olhe para o lado positivo de longo prazo de nomes como o Facebook (um monopólio genuíno), o sucesso da Amazon e o que ela gerou para os investidores, ou Alphabet, que domina seu espaço. Veja o que a Apple fez ao dominar o varejo com apenas alguns produtos. Essas empresas, e outras, realmente mudaram o mundo e produzem elevados retornos. Algumas ganham muito dinheiro, outras não.

Grandes ideias que mudam de maneira lucrativa o mundo, são eminentemente inviáveis. Alguns investidores acham que os resultados não importam, já que o lado positivo está no preço das ações. Eles podem estar certos. O preço é sobre percepções do futuro. Quando o custo marginal de adicionar um consumidor é zero, o que se pode não gostar de empresas que se parecem e se comportam como monopólios?

Mas, embora os retornos tenham sido estelares, talvez seja hora de realmente avaliar os riscos. Enquanto algumas empresas são excelentes, é questionável que qualquer coisa seja um monopólio por muito tempo. Eles podem mudar o mundo, mas o mundo também se move rapidamente.

Aqui está apenas um exemplo: o Netflix mudou genuinamente os hábitos de visualização. Não custa nada para a Netflix adicionar clientes. Brilhante! No entanto, o custo marginal para o serviço de streaming da Disney de um cliente que assiste a Frozen é zero. A Netflix tem que pagar uma taxa de licença se o cliente quiser assisti-la. Conteúdo é onde o valor está nesse modelo.

Dê uma olhada no outro lado desse modelo TAM compactado - quanto tempo algo permanece novo e valioso. No caso do Facebook, a maioria das pessoas se preocupa com o risco regulatório, mas o foco é moda. É apenas a cultura jovem de ponta. O que será que o Facebook fará amanhã se os anunciantes perceberem que só os velhos usam?

A Amazon construiu para si uma fortaleza baseada em seu tamanho e gastos - mas basicamente não há nada que impeça mais ninguém de criar uma super loja baseada em nuvem. (Exceto muito dinheiro ... uma compreensão de logística, drones e qualquer outra coisa. É por isso que eu gostaria que a Amazon fosse mais barata!)

O Uber e o Lyft mudaram completamente a maneira como pensamos sobre os serviços de transporte pessoal. Houve críticas por chamá-los de aplicativos de táxi, pois eles não possuem um único táxi ou empregam um único motorista (uma questão que os sindicatos estão levando aos tribunais e ameaçando com uma greve antes do IPO da Uber), e eles são investindo bilhões em veículos autônomos e sem motorista que os tornarão mais ricos. Mas ambos usam o preço predatório para eliminar a concorrência e se tornarem os aplicativos mais usados. No entanto, hoje qualquer adolescente sabe como organizar os vários aplicativos de transporte aos quais eles têm acesso. Alguns anos atrás, um aplicativo de táxi era uma coisa maravilhosa e mágica. Hoje, custa surpreendentemente pouco montar um aplicativo de táxi - e é por isso que toda empresa de mini táxi agora tem um. Claro, Lyft é sobre o futuro, mas qual futuro é esse?

Apesar de assegurar aos investidores que suas perdas vão diminuir, o Lyft - o último grande IPO, está sendo negociado 26% abaixo de onde foi lançado no mês passado. As receitas do segundo trimestre serão de US $ 800 milhões, de acordo com a empresa, mas perderam US $ 1,14 bilhão - principalmente em despesas de IPO e “remuneração baseada em ações”.

A outra coisa que sai do Lyft é a intensa competição com o Uber - não é surpresa. Admite que a competição está "ampliando suas perdas". A Uber diz a mesma coisa. O IPO da Uber esta semana pode ser o maior em anos, e é esperado que o preço seja agressivo. Mas quem se importa, tanto a Lyft quanto a Uber estão adicionando “usuários ativos”, que não lhes custam nada, mas aumenta a lucratividade (qual lucratividade?)

Caso você ainda esteja se perguntando sobre o outro IPO mencionado no início deste artigo, é o We-Work. Agora, se uma empresa cuja inteligência tech é alugar/comprar prédios antigos, oferecendo alugueis baratos, e distribuindo pizza e cerveja grátis para os inquilinos na sexta-feira, vale US $ 47 bilhões, então Ualll! Eu espero que isso quebre o mercado para que se possa comprar as coisas boas baratas!

Esse assunto é sempre intrigante, com frequência alguns leitores perguntam qual a minha opinião sobre essas empresas. De forma racional a resposta tende a ser de acordo com a opinião acima. Quase sempre qualificam o negócio como disruptivo, palavra da moda, e os prejuízos com uma chance baixa de reverter daqui a muitos anos, talvez décadas! Por outro lado, existem casos como da Amazon que também passou por esse processo no passado. Agora todos eles têm algo em comum, são prejuízos bem explicados, atendendo os requisitos da matriz francesa do BFB!

No post nenhum-pais-quebra, fiz os seguintes comentários sobe o Ibovespa: ... “Esse cenário é típico de triângulos, pois a configuração é de indecisão, ora mais animado, ora mais desanimado. Como comentei no post acima, a correção parece ter o formato de um triângulo, e se for esse o caso, ainda resta algumas semanas para completar, conforme figura abaixo” ... .... “Mas não estamos casados com o triângulo, como comentei acima, nosso objetivo é sugerir uma compra em níveis ao redor de 88.000, ou acima de 101.000, o que acontecer primeiro. A tendência do mosca é de alta no médio prazo” ...


Mais uma semana se passou, e a bolsa brasileira continua contida dentro do triângulo apontado no gráfico acima. Porém, agora mais perto de uma provável queda, um pouco mais expressiva, onde levaria o Ibovespa na zona de 88 mil, onde considero interessante uma compra.

Vou apresentar a seguir um gráfico com uma visão de mais longo prazo. Em sendo o triângulo que está em formação, a linha verde seria o cenário que poderia se esperar, uma queda até 88 mil e depois início de alta, devendo ultrapassar a máxima de 100 mil. Uma possibilidade alternativa seria uma queda até 80 mil para em seguida a alta. Abaixo de 80 mil vou ficar desconfiado que essa correção é da forma que imaginei.


Mas nada pode ser descartado no momento. Com Presidentes como Trump que precisa chamar a atenção de tempos em tempos, e uma negociação com a China sob judice, além do nosso Presidente Bolsonaro, que acaba ficando sempre de salto alto, por não ter um pulso firme, qualquer prognostico é incerto. Melhor ficar com as chances apontadas pela análise técnica.   

O SP500 fechou a 2.879, com queda de 0,16%; o USDBRL a R$ 3,9271, com queda de 1,08%; o EURUSD a 1,1193, sem variação; e o ouro a U$ 1.280, com queda de 0,31%.

Fique ligado!

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