A Barron's errou?
No mundo dos investimentos não ganhar significa perder. Sou
um grande crítico da frase “lucro nunca deu prejuízo”. Embora pareça uma
atitude lógica, conservadora, prefiro que minha decisão não se baseie somente considerando
o ganho, mas sim, algum outro fator como atingir o objetivo.
Depois de 8 anos junto ao Mosca, vocês já devem ter percebido que não tenho uma regra fixa
para liquidar um trade vitorioso, depende de cada situação. Por outro lado, um
trade perdedor é executado no stoploss, e como se disse em linguagem coloquial
“não tem xixi minha nega! ”.
No último dia 31, fez 20 anos que o índice Nasdaq atingiu
seu ponto máximo, e a partir daí caiu de forma expressiva nos anos seguintes.
Esse momento foi denominado como a crise das ponto.com, em virtude de a queda
desse setor, ter sido muito maior que a do SP500.
Várias empresas de tecnologia sucumbiram, mas algumas com a
Amazon estão vivas, e bem vivas. É sobre essa empresa que irei comentar hoje.
Muitas vezes, é difícil distinguir as coisas que achamos que
sabemos daquelas que não temos ideia. Uma ilustração especialmente vívida disso
é uma coluna publicada há 20 anos na Barron's – revista semanal do Wall Street Journal,
sobre a Amazon.com. “Amazon.bomba” revela não apenas o estado da bolha das
empresas ponto com, e até que ponto os mercados estavam longe de sua lógica em
31 de maio de 1999, exaltando a verdade eterna, de que é impossível enxergar o
futuro.
Na época, a Barron´s, alarmada com o quanto as avaliações
das empresas haviam subido, alertava sobre os riscos de mercado, especialmente
no setor de tecnologia. Neste, os editores estavam adiantados, se provando
corretos.
A coluna sobre a Amazon, em muitos aspectos, um excelente
artigo, comentava:
“Mas desde o início de maio, muitos investidores têm
realizado que uma boa história nem sempre gera uma boa empresa. A partir de uma
alta em abril para U$ 221, as ações da Amazon foram cortadas quase pela metade,
para U$ 118, reduzindo o valor da empresa para cerca de U$ 19 bilhões. A ação
pode cair muito mais. Lembre-se, ajustado pelos desdobramentos destas ações,
deveriam valer apenas U$ 3 cada, quando foram emitidas ao público, há dois
anos. Várias análises, incluindo duas nesta revista, indicaram que as ações
poderiam valer menos de U$ 10 cada”
Vamos destrinchar a história dessas ações. Por um lado, o
artigo contém um aviso prévio de um colapso iminente no preço das ações (e todo
o setor de tecnologia). Se você levasse a discussão da coluna a sério, e
vendesse a Amazon, se sairia muito bem, nos próximos anos, essas ações cairiam
95%, desmoronando para menos de U$ 6 em 2001, quase viraram pó!
Ao mesmo tempo, nos lembra o quão diferente as coisas podem
parecer a curto prazo - quando a venda pode ser a opção correta - do que ao
longo de muitos anos - quando a postura preferida é alta.
Considere a receita anual da Amazon: Em 1998, a empresa
registrou uma perda de U$ 125 milhões com receita de U$ 610 milhões. Da
perspectiva de hoje, esses números parecem quase chocantemente baixos. As receitas
diárias da Amazon agora são maiores do que as receitas anuais da empresa em
1998. No ano passado, a empresa vendeu U$ 241 bilhões em bens e serviços.
Veja também a capitalização de mercado da Amazon antes do
colapso de 95%. Qualquer um gostaria de voltar no tempo para comprar a Amazon
por apenas U$ 19 bilhões e observar isso multiplicar 47 vezes, para U$ 894
bilhões. Os cálculos sugerem que a Amazon subiu 4.606% desde que Barron´s
publicou sua coluna, com um retorno médio anualizado de 21,1% - cerca de o quádruplo
do retorno do SP 500.
Mas há ainda outra lição histórica aqui. Sempre que uma
empresa é considerada a “próxima Amazon” (ou Apple ou Microsoft), tenha em
mente que a maioria das pessoas seria incapaz de resistir ao tipo de dor e
destruição de riqueza que acompanha o investimento inicial, mesmo que os altos
e baixos são temporários. Somente se os investidores puderem suportar as
subsequentes quedas - no caso da Amazon, 83% em 2000; 73% em 2001; 41% em 2004;
46% em 2006; 64% em 2008 - serão amplamente recompensados.
E enquanto as reversões estão acontecendo, os investidores
não têm ideia se serão temporárias. Em tempo real, parece nada menos do que um
desastre absoluto. Ah, e se a ação for a Enron ou a Lehman Brothers ou qualquer
uma das milhares de empresas que faliram, o medo é justificado.
Bem considerada como era, a coluna de Barron´s errou muitas
coisas fundamentais: os autores não acabariam vendendo seus próprios livros,
pelos seus próprios sites, precisavam de alguém para distribuir. Editoras de
alto perfil não tirariam o mercado da Amazon. Porém, a melhor citação veio do
consultor de varejo, Kurt Barnard, que disse: “Uma vez que o Wal-Mart decidir
seguir a Amazon, não haverá nenhuma concorrência. O Wal-Mart tem recursos que a
Amazon nem consegue sonhar”.
Mas em 1999, ninguém poderia prever que a Amazon iria se
expandir muito além de vender livros; criar o Kindle, o Echo e outros
dispositivos; construir um negócio de nuvem de vários bilhões de dólares; criar
programas originais de televisão e filmes; desenvolver o Amazon Prime, que
penetra em 60% dos domicílios dos EUA (com maior concentração entre os ricos);
tornar-se a terceira empresa mais valiosa do mundo, e capturar quase metade de
todos os dólares gastos online.
Como William Goldman disse sobre Hollywood: "Ninguém
sabe de nada". Algo para manter em mente quando se considera o futuro de
qualquer empresa, principalmente quando uma ideia é colocada em prática por um
startup.
Hoje participei de uma apresentação no Banco Credit Suisse
sobre Venture Capital. Para quem não conhece esse segmento, seria o estágio
inicial de um startup. Na primeira parte, estavam os fundos especializados em
investir nesse segmento, em seguida 3 casos de sucesso contados por seus
fundadores.
Na primeira apresentação, um dos palestrantes, ao ser
perguntado quais os critérios que usava na sua seleção das empresas a investir,
disse que o mais importante era conhecer os empreendedores, seguido da
avaliação do negócio poder se tornar algo grande e por último, disse que não
tem a menor preocupação sobre gerar lucro.
Para dizer a verdade, de início, levei um choque, como não
se preocupar com o lucro? Mas pela minha inexperiência no assunto, resolvi
ficar quieto e pensar melhor. Depois de refletir um tempo, entendi sua
afirmação, como poderia ter um lucro, uma empresa que pretende crescer muitas
vezes do zero? Impossível! Assim, é melhor focar no que pode criar valor para
essa empresa. Esse problema (lucro) será de quem comprar essa empresa desse
fundo.
Mas voltando ao caso da Amazon, a Barron’s errou? Não acho.
Ao contrário, livrou os acionistas de uma grande perda que perdurou por 3 anos.
Agora, querer dizer que sua recomendação foi errada porque 20 anos depois a
Amazon subiu 4.600% não é justa. Seria necessário pesquisar depois de 2002 quais
foram suas recomendações. Nenhuma opinião vale por 20 anos, nem para comprar
nem para vender!
No post custos-da-corrupcao, fiz os seguintes
comentários sobre o Ibovespa: ... “Antes que o pessoal que está comprado, comemore essa
nova visão de curto prazo do Mosca, a bolsa brasileira vai precisar romper o
nível de 97/98 mil “ ... ... “David, você disse que quer entrar na bolsa
brasileira, porém não deu nenhuma dica em qual nível, e quando! ” ... ... “
Pois é, levantou uma boa questão. Não sei ainda quando será, preciso maiores
confirmações sobre os pontos que elenquei hoje. Acompanhe o Mosca, e quando eu
estiver mais seguro, vou propor” ...
O mercado resolveu “provocar” o Mosca. Desde a última publicação, a bolsa brasileira se encontra
estagnada num intervalo próximo ao estabelecido acima, entre 96.000/98.000, sem
que haja ainda uma definição.
- David, a bolsa
americana apresentou sinais de reversão nesta semana, não seria o caso de
entrar na bolsa brasileira?
É verdade, no post de ontem, expressei essa possibilidade,
mas em ambos os casos essas bolsas tem uma lição de casa a fazer, cada uma
ultrapassando os níveis que indiquei.
Se der tudo certo, e as bolsas começarem a subir, não vai
ser 1% a 2% que vai fazer diferença. Disciplina é feita sem emoção, com
pragmatismo!
O SP500 fechou a 2.843, com alta de 0,61%; o USDBRL a R$
3,8828, sem alteração; o EURUSD a € 1,1274, com alta de 0,48%; e o ouro a
U$ 1.334, com alta de 0,36%.
Fique ligado!
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