Inflação sem emoção



Se não for por um motivo exógeno como a greve dos caminhoneiros no ano passado, a inflação brasileira parece coisa do passado. Já se foram aqueles dias em que, ao publicar esse índice, se levava um choque. Isso nos últimos anos, pois na década de 80 era uma piada.

Naquela época eu dizia que nem era necessário usar a formula matemática correta para seu cálculo mensal, somar 1 na formula não fazia a menor diferença.  Para os que não conhecem veja a formula abaixo de cálculo da taxa mensal, a partir da taxa anual.

Im = ((1+ia) ^ (1/12) -1) *100
onde:
Im = taxa de inflação mensal
Ia  = taxa de inflação anual

Por exemplo: Uma taxa anual de 5.000% equivale a uma taxa mensal de 38,7%, calculada corretamente. Agora, sem somar a unidade da formula acima se chega a uma taxa de 38,5%. Coisas da matemática para números muito fora da realidade. Bons tempos onde quem sabia fazer conta era rei!

Hoje vivemos um mundo sem inflação, ou extremamente baixas para os padrões das últimas décadas. Se isso vai perdurar no futuro não sabemos. Se mudar, tenham no Mosca um especialista no assunto. Hahahaha ...

O IPCA de maio variou 0,13%, abaixo da expectativa do mercado de 0,20%, e menor do que a variação de abril, quando subiu 0,57%. A taxa em 12 meses retrocedeu, depois de vários meses em alta, passando de 4,94% para 4,66%, ainda levemente superior ao centro da meta de 4,25%.

O grupo alimentos, que apresentou deflação no mês, e ode Transportes, foram os responsáveis pela queda do índice, enquanto a energia elétrica agiu no outro sentido, por conta da bandeira tarifaria ter passado de verde para amarela.

Quem segue o Mosca sabe que eu gosto de acompanhar dois indicadores da inflação: os Preços Livres e o Índice de Difusão. Vejam na tabela a seguir, que ambos se encontram estáveis e dentro da normalidade do passado recente.


Com esses dados mais recentes, a Rosenberg refez seus cálculos para a inflação de 2019, passando de 4% para 3,8%, abaixo da meta. E não é só isso, também colocou um viés de baixa para a inflação em 2020.

Não vejo porque, o Banco Central não cortaria os juros, com a atividade econômica muito fraca, desemprego alto, seria extremo conservadorismo não agir neste sentido. Não acredito que se deva esperar a aprovação da Reforma da Previdência, pois caso isso aconteça, poderíamos ir para outro patamar mais baixo ainda. A taxa Selic a 5% seria de bom tamanho.

Os dados de emprego nos EUA ficaram abaixo das expectativas dos analistas, com a criação de 75 mil vagas, quando a projeção apontava para 175 mil. Por outro lado, a taxa de desemprego se manteve estável em 3,6%.


Outro indicador bastante observado é a evolução dos salários, que permaneceu num patamar confortável, porém, desacelerando da máxima atingida no início do ano em 3,4%.




Quem ficou feliz da vida foram os traders de ações. Embora essa desaceleração pode indicar uma queda da atividade mais preocupante, eles acabaram olhando por outro ângulo, a de que o Fed agora não vai ter jeito, terá que baixar os juros. Os dados mostram que isso deveria ocorrer rapidamente, se não em junho no máximo na reunião de julho próxima.

O mercado tem trabalhado melhor que o Fed em suas projeções, pelo menos nas taxas de juros. O gráfico abaixo contém essas evidencias. Para melhor entendimento vou elencar as informações:

Azul claro – nível da taxa de juros no contrato de eurodolar para setembro 2019. Esse contrato reflete a taxa de juros nos depósitos dos bancos fora dos EUA. Esta é a razão de se denominar eurodólar, não tendo nada a ver com a cotação do euro.
Azul escuro – O mesmo acima, porém para vencimento em junho de 2020.
Marrom – Taxa da LIBOR para 3 meses.
Cinza pontilhado – Taxa estabelecida pelo Fed




Atente-se as linhas azuis, que na verdade dão uma boa indicação de como deverá estar a taxa no futuro. No início de 2017, bem antes do Fed começar a elevar os juros, as taxas desses contratos já apontavam para um nível superior a 2%. Rapidamente chegaram ao patamar de 3% em abril do mesmo ano, e permaneceram nesse nível, até o Fed indicar que elevaria as taxas acima desse nível. Mas não convencidos com esse aperto, o mercado começou a apostar já em novembro, que as taxas não chegariam a esse nível, e recuaram para 2,5%. Mais recentemente, a queda se acentuou, projetando para junho do próximo ano juros de aproximadamente de 1,5%.

Sempre me referi aos operadores de bonds como os mais preparados tecnicamente, muito melhores que os da bolsa de valores. Por enquanto estão se saindo melhor que o Fed.

No post o-bitcoin-serve-para-que?, fiz os seguintes comentários sobre os juros de 10 anos: ... “ Caso se forme uma base, um movimento de alta deverá se suceder, que poderia levar o juro até 2,65%/2.80%, para em seguida voltar a cair. Até aí, tudo bem, faz parte do jogo. O problema é se continuar caindo abaixo de 2,05%, aí o negócio fica feio! “ ...


A conjectura nesse ativo está extremamente delicada. Como notei acima, abaixo se 2,05%, o negócio fica feio. Nesse momento o nível se encontra em 2,06%, muito próximo de quebrar a “muralha do Fed”, conforme denominei essa região no gráfico acima.

O leitor poderá se perguntar onde podem ir os juros. Para responder essa pergunta especulativa, vejam o gráfico de longo prazo abaixo.


Antes de começar com o raciocínio, tenho que frisar algo que aconteceu no final de 2018, onde originou a mudança da minha previsão de alta de longuíssimo prazo. O movimento estancado em dezembro de 2018, eliminou essa hipótese. Sendo assim, conclui que a alta grifada em vermelho era uma correção, e como tanto tem perspectiva não impulsiva.

Essa hipótese fez com que eu trabalhasse com o movimento em curso como sendo uma correção. Sendo assim, a queda que se iniciou desde aquela data “teria” que parar no máximo onde está agora, para que uma nova alta daqui em diante, levasse os juros até 2,5%/2,6%. Depois, abre se a opção para os dois sentidos, ou rompe a reta em cinza, ou volta a cair.

O perigo no curto prazo aconteceria caso os juros continuem a cair abaixo de 2,0%. Nessa situação, o movimento sugere que, a queda que se iniciou em dezembro último, é impulsiva. Sendo assim, pode levar os juros ao campo negativo, isso aí, NEGATIVO! Tendendo a reta inferior em cinza.

Anos atrás, não me atreveria sugerir um objetivo como esse. Como poderia um título de renda fixa ter juros negativos? Mas agora, com 20% de todos os bonds soberanos em circulação, de países desenvolvidos neste território, porque os americanos não poderiam se juntar?

Não quero nem pensar, o que estará acontecendo com a economia numa situação dessas, pois o dinheiro dos helicópteros voltaria com força. Até o Trump estaria nesta empreitada para não perder as eleições, única coisa de positivo que consigo enxergar nesse cenário – Trump perder as eleições.

Agora quero deixar claro que não é este meu cenário básico, apenas exponho as possibilidades técnicas. Para chegar nessa situação, muita evidencia será necessária, além de não acontecer no curto prazo.

Ao escrever essas previsões percebi como é melhor usar a análise técnica que a fundamentalista. Já imaginaram o meu carão se, daqui há um ano, tivesse que encarar essa situação. Como costumo dizer sobre os economistas quando mudam de opinião, neste caso, teria que mudar de camisa para camiseta, de calça para bermuda, e sapato para havaianas, e mesmo assim não seria nada fácil explicar por fundamentos. Uma mudança de tantas peças do vestuário, é necessária numa situação totalmente inesperada.

Estou sugerindo uma dobradinha de compra nas bolsas: No SP500 a 2.890, caso feche acima desse nível; e no Ibovespa a 98.500 também fechando acima desse nível. O Stoploss no primeiro caso a 2.810 e no segundo a 95.500. Não precisa dizer que fiquei otimista com as bolsas! Hahaha ...



O SP500 fechou a 2.873, com alta de 1,04%; o USDBRL a R$ 3,8778, sem variação; o EURUSD a 1,1332, com alta de 0,51%; e o ouro a U$ 1.341, com alta de 0,48%.

Fique ligado!

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