O Fed afinou



Ontem o Presidente do Fed, Jerome Powell, disse que não sabe quando, nem como, os problemas comerciais americanos serão resolvidos. Como contrapartida a isso, complementou “ Estamos monitorando de perto as implicações desses desenvolvimentos para as perspectivas econômicas dos EUA e, como sempre, agiremos de forma apropriada para sustentar a expansão ”.

Nietzsche, o filosofo alemão, dizia que “é melhor qualquer explicação que nenhuma” e usando esse princípio o Fed se mostrou mais propenso a mudar de opinião, deixando agora a porta aberta para uma queda nos juros.

Reconheço que talvez esteja sendo muito crítico em relação a autoridade monetária, mas é incrível como sua retórica mudou nos últimos 6 meses. Estou até pensando em mudar o Tema do Mosca de 2019 “ Quem dá mais” para “Quem dá menos”. Se vocês se recordam, naquele momento, já existia uma diversidade de opiniões entre o mercado, analistas e o Fed, sobre quantas altas de juros iriam ocorrer este ano.

Pensando melhor, acho que posso manter o mesmo tema fazendo uma pequena mudança no teor, ao invés da palavra mais representar aumentos passa a representar cortes. Sendo assim ficaria “ Quem dá mais (cortes de juros) ”! Hahahaha ...

O pior de tudo é que o Presidente Trump, daqui a pouco, vai dizer que entende de economia mais que o Fed, e que sendo assim, eles devem continuar seguindo seus conselhos imediatamente, senão vai colocar uma tarifa no Fed! Hahaha ...

Vocês já conhecem uma frase minha que diz “ economista muda de opinião mais que eu mudo de camisa “. Pois bem, os economistas no início deste ano, estavam na dúvida se haveria 4 ou 5 altas de juros em 2019. Agora vejam suas últimas previsões:
Barclays – Redução de 0,5% em setembro e 0,25% em dezembro
JP Morgan – Redução de 0,25% em setembro e 0,25% em dezembro.
Morgan Stanley – já projeta que a economia irá culminar numa recessão. Nem projetou os cortes!

Por essas e por outras, prefiro trabalhar com a análise técnica, cuja principal tarefa é interpretar o movimento do mercado. Essa interpretação pode se mostrar errônea, ou o movimento seguir um caminho menos provável, em ambos o caso, o stoploss é a salvaguarda.

O mercado que mais gostou dessa atitude do Fed foi a bolsa americana que só ontem subiu mais de 2% - assunto da análise técnica de hoje. Na segunda feira liquidei a posição vendida do SP500, basicamente por 3 motivos: primeiro atingiu o objetivo do meu cenário básico; a queda se deu de forma não impulsiva; e por último, eu estava operando contra a tendência de prazo mais longo.

Vocês não acham que eu tinha inside information, não é? Esse trade foi no bumbum da mosca, e como sempre digo nessas ocasiões, quando isso acontece é por sorte não por competência.

OK, o Fed disse ao mercado que não precisam ficar preocupado, se depender dele, vai usar suas armas para compensar possíveis descompassos criados pela guerra comercial. Mas e se o que estar por vir for uma recessão, de que adiantaria, ou quanto pode adiantar, colocar os juros a 0%?

O Fed de Nova York, que possui um modelo para avaliar a probabilidade de recessão, está apontando para um nível bastante perigoso de 26%. Analisando os dados históricos anotados no gráfico abaixo, seria natural uma certa apreensão. Uma dúvida, eles (diretores do Fed) não se conversam?




O Bank Of America elabora uma tabela com diversas variáveis, afim de identificar uma possível recessão. A cada variável assinala uma cor, identificando sua real ameaça de recessão, sendo vermelho a indicação de muito provável. Como se pode deparar da tabela, não parece haver risco eminente.




Um indicador de recessão seguido muito de perto é a diferença entre os juros dos títulos 10 anos contra o de 2 anos. No passado, quando essa diferença ficou negativa, na grande maioria dos casos uma recessão ocorreu alguns meses depois. Hoje esse diferencial se encontra em 0,25.

Mas um outro indicador chamou minha atenção, que é a diferença entre os juros de 30 anos contra o de 10 anos e o de 5 anos. Com esse vértice mais longo, desde julho de 2018, o diferencial vem subindo. Naturalmente, esse parâmetro não serve para os fins de apontar uma recessão, mas pode indicar outras situações, como por exemplo, a inflação subindo no futuro. Em todo caso, dado que os vértices mais longos estão em movimento contrário, não me parece saudável essa abertura de taxas na situação abaixo. A conferir no futuro.




Por último, hoje foi publicado o número de vagas criadas computadas pelo ADP. Este número fornece uma indicação para os dados de emprego a serem publicados nesta próxima sexta-feira. O resultado ficou bem aquém das expectativas do mercado em 27 mil. No detalhe o resultado é ainda pior pois houve queda de vagas nas empresas pequenas – até 49 funcionários, de 52 mil.




No post sempre-tem-um-culpado, fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ... “O Mosca trabalha como o cenário descrito como Continuidade ... “Esse é o caso básico do trade proposto, uma queda até o nível de 2.720 para em seguida voltar a subir” ... Ou seja, uma posição com viés de curto prazo” ... Como comentado acima, esse trade foi liquidado.


Não se pode declarar que o movimento de queda iniciado em abril terminou, porém, a intensidade da alta apresentada ontem e continuando hoje, podem ser os primeiros sinais de uma alta mais consistente. Para tanto, o nível de 2.880 passa a ser importante.

Vou relembrar as previsões de longo prazo que o Mosca publicou em passado recente. No caso de a bolsa americana estar entrando num novo ciclo de alta, quais seriam esses níveis? Quero enfatizar que se for esse o caso, a alta será forte sem tempo de entrar numa boa, uma onda 3 para os seguidores de Elliot Wave. O primeiro objetivo seria 3.700 – > 30% de alta, que se ultrapassado poderia chegar a 4.600 – > 60% de alta, tudo isso num horizonte de alguns anos.


- David, então porque você não compra agora?
Porque tudo isso ainda está sujeito a algumas confirmações, a primeira seria ultrapassar o nível de 2.880, e por último 2.950. Entretanto, pode ser que me aventure antes. Aguardem nos próximos dias.

Não é fácil fechar um trade, para em seguida entrar numa posição inversa. Requer muita disciplina e um pouco de tempo. Mas é sem dúvida muito mais fácil para uma analista técnico que para um fundamentalista. Como esse último faria essa mudança, sem que nada de muito concreto tenha ocorrido? Somente um discurso do Powell, que cá entre nós, não disse mais nada que o obvio? O fundamentalista requer muito mais tempo, isso se conseguir zerar a posição antes de virar torcedor. Aí só sai quando o prejuízo atingir níveis insuportáveis.

O SP500 fechou a 2.826, com alta de 0,82%; o USDBRL a R$ 3,8937, com alta de 1,04%; o EURUSD a 1,1221, com queda de 0,25%; e o ouro a U$ 1.329, com alta de 0,35%.

Fique ligado!

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