De mal a pior



A Europa tem um problema crônico cuja sua solução é difícil para não dizer impossível. Quando da implantação da moeda única. Foi cometido um erro clássico ao tentar manter um câmbio fixo para países tão diferentes. Os políticos tinham o desejo de equalizar essas economias. Para um observador de fora parecia algo inviável, como fazer para um italiano ser tão competitivo como um alemão, ou o trabalhador francês aceitar as regras de mercado em seu contrato de trabalho.

Para não implodir o sistema, e depois da grande recessão de 2008, o BCE tomou medidas no sentido de desvalorizar o euro. Essa ação beneficiou pouco os países do Club Med (lembram da nomenclatura?), em detrimento de subsidiar a indústria Alemã. Como o consumo dentro do bloco cresce de forma anêmica, esse último país resolveu descarregar sua produção através das exportações.

Esse é nitidamente um equilíbrio instável, pois qualquer problema externo afeta a maior economia do bloco que por sua vez transborda seus efeitos para seus vizinhos. E foi o que aconteceu, principalmente na indústria automobilística, que sofreu dois duros golpes: primeiro a guerra comercial dentre China e EUA acabou afetando a economia alemã; segundo a queda estrutural de vendas de veículos em função da diminuição de seu uso pela geração mais jovem. Além desses, existe um outro com consequências mais profundas que seria uma saída da Inglaterra da União Europeia sem um acordo.

Os dados vêm se deteriorando de forma constante, principalmente na indústria Alemã, sem que se possa enxergar o fim do poço.  Ontem de manhã, a publicação do PMI de manufatura em 41.4 foi a pior notícia que Angela Merkel poderia ter imaginado.

No geral, a economia da Alemanha observada pelo nível do gerente de compras está se contraindo. E com Merkel mascarando um aumento maciço de impostos, o futuro do crescimento econômico da Alemanha parece tão ruim quanto o gráfico a seguir.


Segundo os comentários da agencia que elabora esses dados, Markit, a Alemanha apresentou seu resultado mais baixo desde 2012 e firmemente em território contracionista. Com a criação de empregos estagnada, o setor de serviços com orientação doméstica perdeu um e seus principais pilares de crescimento.

O impacto acontece sobre a Europa como um todo. As várias tentativas do BCE promovendo juros negativos não está surtindo mais efeito. É imperativo que os governos adotem políticas fiscais par impulsionar a demanda, pois caso contrário, a economia entrará em recessão. Com suas contas aparentemente em ordem, mas com perspectivas de piora pelo mal motivo, a queda na receita do governo.


A Europa é parte importante da economia ocidental, representando aproximadamente 20% do PIB mundial, sua fraqueza tem implicações no restante dos países. Tenho convicção que, se cada país tivesse sua moeda, a situação poderia estar mais equilibrada, pois um câmbio mais desvalorizado auxiliaria os países menos eficientes. Mas uma solução definitiva depende de economias mais eficiente e isso parece chocar com características culturais de alguns países membros. Como fazer para o Francês não agir como um funcionário público, ou o italiano e espanhol abrir mão de sua siesta?

No post ataque-pela-retaguarda, fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ... “a bolsa ultrapassou a penúltima barreira para que possa atingir novas máximas. Na verdade, ainda falta a última etapa que seria o nível de 3.027, e aguentar a realização natural que acontece nesses momentos, para não se tornar um false break” ... nestes últimos dias, a bolsa está contida num intervalo bastante restrito entre 2.980 – 3.020, próximo de 1%, não sabendo que caminho tomar. Como a figura abaixo mostra, talvez esteja se formando um triângulo.

Nessa hipótese, e caso o rompimento seja no sentido mais provável, o SP500 deveria atingir um nível aproximado de 3.080. Mas como os leitores podem observar, estamos dentro de uma correção e as possibilidades nesses casos se multiplicam, razão pela qual, não se pode fixar somente numa hipótese, é importante se manter aberto para evitar ficar refém de uma ideia.

Um volume sem precedentes foi retirado da bolsa americana nos últimos 12 meses. Num total de U$ 1,3 trilhão, os americanos resgataram de seus investimentos acionários para colocar esses recursos em fundos de bonds e de curto prazo. Isso seria suficiente para ter causado um estrago razoável nas cotações das ações. Acontece que, as empresas usando um dispositivo existente, fizeram recompras de suas ações em volume recorde também, ao redor de U$ 900 bilhões no mesmo período.

O leitor poderia se questionar se isso é saudável. Não existe uma reposta única, pois depende dos motivos que a levaram a isso. Se por exemplo, a empresa gerou caixa e não tem nada para fazer com esses recursos, é melhor devolver o capital ao acionista. Se por outro lado, contraiu dívida porque seu custo é inferior ao retorno de seus negócios é um mais discutível, pois por um lado elevou seu endividamento e por outro um melhor lucro/ação. Equivale a uma pessoa comprar ações com empréstimo acreditando que seu retorno será superior ao custo da dívida. Por enquanto deu certo, pois com a valorização das bolsas foi mais vantajoso.

Independente do motivo, esse movimento está acontecendo de forma sistemática, e se as bolsas continuarem a subir, os investidores que saíram das bolas para buscar um retorno mais seguro poderão voltar. A conferir!

O SP500 fechou a 2.966, com queda de 0,84%; o USDBRL a R$ 4,1635, com queda de 0,18%; o EURUSD a 1,1017, com alta de 0,23%; e o ouro a U$ 1.531, com alta de 0,53%.

Fique ligado!

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