Procura-se uma porta de entrada
Vou começar com alguns comentários adicionais relativos a
decisão do Fed de ontem. O impacto de uma maneira geral sobre os mercados foi
neutro não ocorrendo nenhum deslocamento mais importante.
Sobre as projeções futuras explicitadas a cada trimestre, o
mercado tem dado mostras que não leva muito em consideração, preferindo ficar
com suas próprias crenças. Nesse ponto, o histórico tende a dar mais razão ao
mercado.
Sendo assim, qual foi a conclusão do mercado: O Fed não tem
a menor ideia do que espera para o futuro, basta ver a indecisão dos votos, mas
sabemos que, se a situação piorar, irão baixar os juros e talvez até injetar
mais recursos. Como nós acreditamos que a economia vai, e já está
desacelerando, os juros vão cair, ponto!
O que pode dar errado na aposta do mercado? No ver do Mosca são 4 os riscos:
1.
Estímulos fiscais principalmente na Europa –
Esse assunto já está sendo ventilado, e nesse caso, seria ruim para os bonds,
mas não tanto para as bolsas, pois garantem um cenário mais positivo.
2.
Aumento de inflação – Existem alguns analistas
de respeito – Gavekal, levantando essa hipótese. Nesse caso ruim para os bonds
e para a bolsa.
3.
Aumento dos riscos Geopolíticos – Fator
imprevisível porem com impacto positivo nos bonds e negativos na bolsa.
4.
Status Quo – Continuidade da situação atual num
cenário denominado de Goldilocks, nem
muito quente, nem muito frio. Levemente negativo para os bonds e positivo para
as bolsas.
O Mosca não
precisa se comprometer com nenhum desses cenários, nem tampouco ficar gastando
a pestana para associar qual o mais provável, vamos aos gráficos, eles nos
dirão o que fazer.
Em fevereiro de 2017, o Mosca
lançou seu primeiro alerta sobre investimentos em renda fixa indexados ao
CDI, No post china-de-volta-ao-radar, fiz os seguintes comentários: ... “Quero alertar meus
leitores do risco de ter seus investimentos indexados ao CDI. Recordo que em
2012, quando o BC entrou no otimismo de baixar os juros porque “achava” muito
alto, fiz o mesmo alerta. Agora existe uma enorme diferença entre aquele
momento e hoje. Antes meu receio era que o governo iria manipular esse índice e
indiquei para se investir em títulos indexados à inflação, as NTNBs. Agora, minha
recomendação e também para esses títulos, mas também para os pré-fixados,
longos de preferência” ...
Depois disso fiz inúmeras inserções sobre esse tema. Assim,
acredito que os leitores não devem estar com os ativos errados.
A decisão do COPOM ontem reduzindo a taxa SELIC para 5,5% trouxe
uma outra novidade aos olhos da imprensa, a de que as taxas continuarão caindo
até 5% e alguns arriscam 4,5%. Isso na minha visão terá um impacto muito
importante nas categorias de fundos e ativos.
Pela manhã, em conversa com profissionais do Credit Suisse,
comentaram que uma parcela significativa de fundos oferecidos na rede bancaria,
cujo indexador é o CDI, cobram taxa de administração de 1% a.a., porém, mais
surpreendente é o caso do fundo Santander Inteligente que cobra 5,5% a.a.
Imediatamente imaginei para quem ele é inteligente! Em breve, esse será o
primeiro fundo no Brasil a propiciar rentabilidade negativa aos seus clientes!
Hahaha ....
Uma pesquisa mais genérica sobre o volume de recursos em
fundos, publicados pela AMBIMA, referentes a julho de 2019, apresenta as
seguintes cifras (em trilhões de reais):
Renda Fixa: R$
2,163 – 42%
Multimercado: R$
1,084 – 21%
Previdência: R$
0,874 – 17%
Ações: R$ 0,387 – 8%
Outros: R$ 0, 578 - 12%
Total: R$ 5,086
Observando somente por categoria é difícil dizer qual seria
o montante de fundos que estão indexados ao CDI, mas poderia estimar com algo
em torno de 50%, pois além da renda fixa alguns fundos multimercados também
estariam nesse conjunto. Isso equivale a bagatela de R$ 2,5 trilhões de reais!
Do mesmo jeito que demorou muitos anos para os investidores
direcionarem seus recursos para ativos indexados ao CDI, deve demorar muito
tempo para eles mudem agora, mas mesmo assim é uma montanha de dinheiro, U$ 625
bilhões!
Para onde poderia ir esses recursos? A lógica diz que
acompanharia a “escada de risco” uma forma que denomino o espectro de
investimentos, indo do menor para o maior risco. Sendo assim, os primeiros
candidatos são os fundos de renda fixa de longo prazo, seguido dos
multimercados e por último as ações. Além dessas categorias, uma que acabei não
anotando pelo seu baixo volume atual, são os Fundos Imobiliários, também irão
ganhar o gosto dos brasileiros.
Essa projeção me leva a possibilidade de uma “bolha”, pois
não existe ativos suficientes para acomodar essa migração. Talvez o tesouro
percebendo esse movimento possa recomprar as LFT e colocar títulos pré-fixados
e NTNBs. Mas, e os títulos privados que se encontram no mercado indexados ao
CDI? Podem anotar, daqui algum tempo, vai ter oferta de papeis de ótima
qualidade rendendo 120% ou 130% do CDI.
Em suma, estruturalmente estamos iniciando uma mudança nas
classes de investimentos cujo o ativo a ser abandonado é a maior categoria,
ocasionado um impacto importante nas outras classes. Até que se adquira um
equilíbrio serão necessários alguns anos, até lá, os investidores estarão a
procurar uma porta de entrada!
No post ninguém-se-entende, fiz os seguintes comentários
sobre o ouro: ...
“ainda não é suficiente para descartar nem que continue subindo, nem que uma
reversão aconteceu. Se até amanhã, fechamento da semana, o metal ficar nos
preços atuais, um indicador baixista será observado com implicações
importantes. Essa observação denominada de Key reversal week” ... No
momento que eu escrevi esse post não era claro que uma correção estava se
iniciando, embora alguns indicadores apontavam para essa possibilidade, como o Key reversal week, que acabou
acontecendo. Me antecipando a essa possibilidade tracei alguns objetivos para o
ouro nesse sentido.
Essa correção se encontra em curso, sendo assim, os
parâmetros apontados no gráfico acima passam a ter validade. O gráfico a seguir,
com janela diária, me indica que o objetivo mais provável deva ocorrer ao redor
de U$ 1.410, onde vou sugerir um trade de compra.
No gráfico acima se encontra minha ideia para o trade:
compra de ouro a U$ 1.410, com stoploss a U$ 1.350.
Desde o início desta última alta, venho alertando para 2
possibilidades no longo prazo: A primeira, e em curso atualmente, é que o ouro
vai romper sua cotação histórica de U$ 1.920; a segunda, que a atual alta é o
último lance, para que em seguida, se inicie um novo ciclo de queda. O gráfico
a seguir contempla essas duas possibilidades.
Fica difícil imaginar visto de hoje, com os ativos que pagam
(ou retiram) juros, sendo algo fora de moda, como o ouro poderia voltar aos U$
1.000, ou abaixo? Eu poderia elencar algumas hipóteses para que isso acontecesse,
mas seria literalmente wishfull tinking. Uma
boa análise técnica deve contemplar alguns cenários, pois caso o seu não se
concretize, não ficará a ver navios.
Alan Greespan, ex-presidente do Fed, tinha pavor do ouro,
dito por ele mesmo depois que saiu do banco central. Não porque tivesse algo
contra metal, mas uma evolução impulsiva de preços era um indicador que o dólar
estava com problemas, e nesse mercado ele não tem muito o que fazer para conter
os preços. Se fosse o comandante do Fed hoje em dia, suponho que teria a mesma
sensação em relação as moedas digitas, embora nesse caso, até poderia emitir a
sua.
Por enquanto, não vejo a alta do ouro como um problema de
credibilidade do dólar, ao contrário, a moeda americana se encontra bem
valorizada que as outras moedas. Mas nunca se sabe, imagina se um sósia do
Trump assumisse o Fed!
O SP500 fechou a 3.006, sem variação; o USDBRL a R$ 4,1677,
com alta de 1,62%; o EURUSD a 1,1044, com alta de 0,12%; e o ouro a U$ 1.497,
com alta de 0,27%.
Fique ligado!
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