Como encarar a resiliência do SP500
A bolsa americana teria tudo para estar caindo, uma serie de
evidencias dão conta que, a economia americana poderia estar próxima de uma
recessão. Porém não é esse o sinal capturado até o momento, com uma pequena distância
de 3% da máxima histórica, qual seria a razão?
Na reunião de ontem na Rosenberg, ao comentar o SP500 com a
visão da análise técnica, tenho certeza que choquei aos presentes, ao dizer eu
seria comprador, caso o índice ultrapasse um determinado nível (veja abaixo na
secção de análise técnica qual é esse nível).
O objetivo hoje é apresentar alguns dados que sugeririam a
queda da bolsa com uma visão sobre os fundamentos. Comecemos pelas projeções
que apontariam uma recessão no horizonte. Embora eu tenha publicado um post
questionando o critério de inversão da curva de juros, para essa sinalização sob-suspeita, o mercado não encara desta forma.
O mercado de bonds está dando indicações que essa
possibilidade existe e de forma mais razoável. A razão da inversão da curva se
dá majoritariamente pela queda abrupta dos juros mais longos, uma vez que, os juros
de curto prazo ainda projetam quedas mais espaçadas no tempo. Em outras
palavras, o mercado “comunica” ao Fed que por bem ou por mal, a autoridade
monetária terá que baixar os juros quando a recessão chegar. Mas existe uma
elevada incerteza econômica conforme aponta pelo gráfico a seguir.
Outro indicador da incerteza diz respeito a oscilação diária
do SP500. Conforme se pode notar na ilustração a seguir, o índice da bolsa
tende a ficar contido na maioria do tempo entre oscilações darias de + 1% e
-1%. No mês de agosto último essas oscilações ficaram em maior magnitude.
Até aí, isso poderia ser esperado, pois se existe um risco
de recessão no horizonte os investidores estariam mais propensos a vender suas
ações criando uma pressão de queda. Mas não foi o que aconteceu, ao contrário,
o número de vezes que o SP500 apresentou alta maior que 1% num dia foi superior
ao número de dias que apresentou queda. Só enfatizo que, isso não significa que
foi positivo no mês, pois esse gráfico não mede a magnitude dos movimentos
diários.
A carteira dos investidores foi ajustada para conter ações
consideradas seguras, mais conservadoras. Através de uma análise da sua composição
se verifica uma alocação superior nos setores: serviços públicos (Utlilities), imobiliário, produtos
domésticos, alimentos e etc ...
O juro tem impacto nos preços das ações, pois os modelos
usados, calcula o preço correto de uma ação através do desconto do cash flow
futuro. Como as taxas caíram, o juro tem um efeito positivo. Além do mais, com
juros mais baixos os investidores ficam mais propensos a comprar ações. Segundo
o modelo da Gavekal, as ações não estão caras.
Usando o modelo Stifel SP500 Fair Value chega-se à uma
conclusão semelhante. O gráfico a seguir, considerando um e dois desvios
padrão, indicam que a bolsa americana fica contida nesse intervalo a maior
parte do tempo. O limite de 2 sigma é próximo de 2.700 (veja na próxima secção a
coincidência deste nível através de critérios técnicos).
Wall Street acredita piamente em seus cálculos, afinal por
mais de 100 anos usando esse modelo, ninguém perdeu dinheiro comprando ações
quando essas se mostravam baratas. O que é esquecido são os momentos de pânico,
normalmente oriundos de queda do PIB. Nestas situações podem ficar muito
baratas! Sendo assim, acredito que o motivo da bolsa não ter tido nenhum ajuste
mais forte é que, o grande momento de indecisão, não foi seguido de venda maciça
por parte dos investidores, porque os fundamentos ainda não indicam esse
movimento.
No post por-dentro-da-floresta, fiz os seguintes
comentários sobre o SP500: ... “Eu ainda continuo com a ideia que o SP500 deverá
retroceder até o nível de 2.730. A partir daí abrem-se duas hipóteses
fundamentais: a bolsa reverte e começa a subir, ou continua caindo. Estou
trabalhando com a primeira hipótese até segunda ordem ... “ ... “Enquanto o
SP500 estiver dentro do “caixote” nada se pode dizer sobre seu sentido, ou
rompendo para cima, o que eliminaria minha hipótese, ou inversamente, ficamos
dentro do jogo” ...
Na última sexta-feira, o SP500 beliscou a parte superior do
retângulo. Tendo em vista o feriado de ontem, hoje retornou, deixando ainda
incerto qual o seu futuro rumo.
Um gráfico de mais longo prazo mostra a indecisão da bolsa
americana nos últimos 12 meses. A maior parte do tempo, o SP500 ficou contido
entre 2.700 e 2.930. Houveram 2 ameaças para baixo: a primeira que durou 2
meses, de fevereiro a abril de 2018; e a segunda, e mais perigosa pela sua extensão,
de outubro de 2018 a janeiro último. No sentido superior, a alta foi menor e
mais curta, durante o mês de julho de 2019.
No momento não me parece recomendável qualquer
posicionamento enquanto o SP500 estiver dentro do “caixote”, porém se houver um
rompimento do nível de 2.940, uma onda de compras poderá fazer o índice
americano desafiar a máxima e romper definitivamente esse patamar, que foi
tentado durante 4 vezes no passado recente.
Como costume frisar “
Let’s the market speak” e nos agiremos de acordo com sua indicação, sem nos
deixar influenciar pelas notícias de recessão, ou seja, lá o que for, ou mesmo
no sentido inverso, apontando pelos analistas como uma oportunidade de compra,
quando na verdade o movimento indica queda.
Como apontei acima, do ponto de vista gráfico, o mercado não
está em modo direcional e sim numa correção, e não é por menos, não faltam
motivos para tanto. Através da análise técnica, se busca identificar quando um
movimento direcional se inicia. Ninguém sabe quando nem como, mas em algum
momento vai ocorrer, e é nossa obrigação identificar independente do sentido
que consideramos mais provável, através de outros critérios.
O SP500 fechou a 2.906, com queda de 0,69%; o USDBRL a R$
4,1756, com queda de 0,22%; o EURUSD a € 1,0968, sem alteração; e o ouro a U$
1.546, com alta de 1,09%.
Fique ligado!
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