Binóculo de longo alcance
As economias começam a operar de forma lenta com o
relaxamento que está acontecendo em vários países. Aqui no Brasil, ainda
estamos no contingenciamento, função da desobediência de parte da população e o
fato de estarmos atrasados no ciclo da Covid-19.
Muito se tem especulado de como será essa volta. Provavelmente
os leitores devem ter visto denominações sobre esse formato. As mais conhecidas
são duas: V- shape, U-shape. Para quem não sabe o que isso significa, na
primeira a economia voltaria rapidamente ao estágio que prevalecia, enquanto a
segunda seria mais demorada. As letras associadas induzem as essas formas.
As economias dos diversos países não são iguais, porém,
acompanhar o que acontece por lá pode ser um bom indicador para nossas
perspectivas. Como o processo eclodiu na China, vou relatar algumas
características de como está se dando esse retorno.
Os preços de fábrica da China caíram em abril, numa
magnitude, a mais elevada em quatro anos, enquanto os fabricantes enfrentavam
pressões deflacionárias da pandemia de coronavírus, que reduziu a demanda em
casa e no exterior.
O índice de preços ao produtor caiu 3,1% em relação ao ano
anterior em abril, em comparação com uma queda de 1,5% em março. Os preços do
petróleo e de outras commodities caíram, contribuindo para a queda nos preços
no atacado. Economistas esperavam que o indicador de preço industrial caísse
2,5% ano a ano.
"Não haverá recuperação em forma de V na atividade
econômica", disse Liu Xuezhi, analista do Bank of Communications, após o
lançamento dos dados. "A recuperação do Covid-19 será lenta."
É provável que os preços deflacionários do portão de fábrica
persistam, acrescentou Liu, apontando para a demanda no exterior ainda em
piora, enquanto outras partes do mundo lutam para conter a pandemia e os preços
do petróleo continuam a flutuar.
Muitos economistas acreditam que os preços no atacado
sofrerão um declínio adicional em maio, embora a recuperação da demanda
doméstica, possa amparar uma recuperação gradual até o final do ano.
Por enquanto, a pressão descendente é um presságio
preocupante para as fábricas chinesas, cujos lucros caíram 36 % nos três
primeiros meses do ano em relação ao ano anterior, segundo estatísticas
oficiais. A perspectiva de lucros industriais é igualmente sombria, dada a
demanda ainda fria das exportações chinesas.
Devastada pela pandemia, a economia da China nos primeiros
três meses de 2020 sofreu sua primeira contração em mais de quatro décadas. A
recuperação observada de perto na atividade comercial, após um esforço do
governo para reiniciar negócios e aumentar o consumo, ficou até agora atrás das
expectativas.
A China havia planejado, até o final deste ano, dobrar o
tamanho total da economia em relação a uma década antes - uma meta que, segundo
economistas, exige pelo menos 5,5% de crescimento este ano. Mas essa meta
parece estar fora do alcance de uma economia que encolheu 6,8% no primeiro
trimestre.
No mês passado, o Politburo do Partido Comunista Chinês
deixou de mencionar sua promessa de cumprir as principais metas econômicas para
o ano.
Separadamente, a China registrou um abrandamento maior do
que o esperado na inflação ao consumidor em abril, com os preços da carne suína
moderados e a demanda continuando fraca, apesar das medidas de apoio do
governo.
O índice de preços ao consumidor subiu 3,3% em relação ao
ano anterior, recuando de um aumento de 4,3% em março e abaixo do aumento de
3,6% esperado pelos economistas.
Os preços dos alimentos subiram 14,8% em abril, ante um
aumento de 18,3% em março. A inflação no preço da carne de porco, que elevou a
leitura principal da inflação ao consumidor da China no ano passado, foi a
grande responsável pelos altos índices. Os preços não alimentícios da China
aumentaram 0,4%, em comparação com um aumento de 0,7% em março, uma vez que os
preços de transporte, vestuário e moradia caíram em relação ao ano anterior.
Espera-se que o quadro de inflação moderada dê ao banco
central da China mais espaço para estimular a economia sem se preocupar com o
superaquecimento dos preços.
O fenômeno de inflação mais baixa é sentido em todos os
lugares. Aqui tivemos o anúncio do IPCA na semana passada, em território negativo,
nos EUA a publicação do CPI ontem em 0,3% a.a., beira a deflação. Não fosse a
elevação de preços dos alimentos e principalmente da carne, já estaria no campo
negativo.
Ainda é muito cedo para afirmar em que tipo de recuperação ocorrera
nos diversos países, mas por enquanto, não são nada animadores, pois a deflação
de preços é um indicador que existe excesso de oferta de produtos. O que se no
binoculo, está mais para um U-shape. Continue com o binoculo na mão!
No post pesadelos-do-passado, fiz os seguintes
comentários sobre o SP500: ... “ Se a bolsa
continuar nesse sentido (de alta), sem que ocorra uma queda abaixo de 2.800,
equivale a opção (1). Mas o mais provável é que ocorra uma pequena queda até o
nível ~ 2.730, ou mesmo chegando até 2.690 – opção (2). Agora se a bolsa
continuar caindo, e principalmente abaixo de 2.630 (3), vou ter que reestudar o
cenário” ...
Nos dois últimos dias a bolsa recuou de forma mais forte,
situando-se agora, próximo a 2.800. No gráfico a seguir busco traçar 3 regiões
que podem ter impacto diferentes para o médio prazo.
Se a bolsa está tomando um folego para se preparar para
novas altas, isso deveria acontecer no nível compreendido entre 2.780 a 2.690.
Caso não seja contida e continue caindo até 2.530, vai entrar numa zona
indefinida, onde a priori eu não poderia dizer qual seria a sequência, embora a
chance de novas altas fica diminuída, mas não eliminada. Por último, abaixo
desse último, fica abortada a alta, pelo menos no curto prazo.
O SP500 fechou a 2.820, com queda de 1,75%; o USDBRL a R$
5,9049, com alta de 0,27%; o EURUSD € 1,0814, com queda de 0,30%; e o ouro
a U$ 1.713, com alta de 0,70%.
Fique ligado!
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