Esqueceram de Mim
Acredito que todos assistiram ao filme produzido na década de
90, Esquecerem de Mim, aonde uma família planeja viagem para a Europa e se dão
conta que um de seus filhos, Kevin McCallister de 8 anos, tinha ficado em casa.
O mesmo, parece ter acontecido com a moeda chinesa yuan. Enquanto todas as
moedas de países emergentes sofreram grande perda em relação ao dólar, muito
pouco ocorreu com a mesma.
É verdade que os ativos chineses de uma maneira geral: bolsa;
juros e câmbio; tiveram um comportamento atípico, mesmo durante a eclosão do
Covid-19. No caso do câmbio, as autoridades acompanharam seu movimento para
manter sob controle.
Porém, recentemente, a deterioração das relações EUA-China é
rápida e furiosa, com Washington lançando acusações de práticas comerciais
desleais, transferência ilegal de tecnologia e um acobertamento precoce do
surto de coronavírus, que já matou mais de 100.000 vidas americanas. O yuan
chinês, o farol de estabilidade deste ano, agora corre o risco de cair como
outras moedas de mercados emergentes.
Na quarta-feira, o yuan offshore, que negocia livremente,
flertou com o nível mais fraco já registrado, caindo até 0,7%, para 7,1965.
É tentador teorizar que um yuan mais fraco pode se tornar
uma arma poderosa na nova Guerra Fria, mas há poucas evidências de “jogo sujo”
do Banco Popular da China. Desde meados de 2017, o banco central baseou sua
fixação no fechamento do dia anterior, movimento do dólar durante a noite em
uma cesta de moedas e o que chama de “fator anticíclico”, uma métrica
abrangente que concede espaço de manobra para desviar-se dos fundamentos do
mercado O yuan pode movimentar-se em uma faixa de negociação de 2% em torno da
meta diária do PBOC.
Observando a estimativa do Goldman Sachs, do fator
anticíclico, durante o ano passado, o PBOC tem guiado consistentemente seu yuan
mais forte, e não mais fraco, para acompanhar artificialmente o dólar. Apesar
de toda a teatralidade de ser rotulado como manipulador de moeda, Pequim não
estava tornando suas exportações mais baratas.
O que há de novo neste ano é a atitude Zen do PBOC. Em vez
de bancar o heroico bombeiro, lidando com uma crise após a outra, o banco
central tem sido amplamente isolado. Ele usou o fator anticíclico de maneira
significativa apenas duas vezes desde janeiro, em 4 de fevereiro, quando a
China emergiu do feriado do Ano Novo Lunar para enfrentar um bloqueio nacional
e, no final de março, quando o surto estava abalando os mercados globais.
E por que o PBOC deveria aderir ao dólar de qualquer
maneira? A crise do coronavírus mostrou apenas o excepcionalismo da América -
imprime a moeda de reserva do mundo. A demanda de refúgio pelo dólar se elevou,
evidenciada pelas crescentes taxas de troca de moeda da zona do euro até a
Coréia do Sul, e a luta do Federal Reserve para restabelecer as linhas de troca
com outros bancos centrais. Em 2008, o dólar só começou a enfraquecer dois
meses após o pico da demanda por "dólares de emergência", segundo
dados do Deutsche Bank.
Portanto, faz sentido que a China adote uma abordagem mais
esclarecida, permitindo que o yuan enfraqueça durante os períodos de força do
dólar e recupere quando as tensões globais diminuírem. Do ponto de vista do
PBOC, o yuan ponderado pelo comércio é certamente mais forte agora do que no
outono passado, quando o banco central estava no modo de combate a incêndios. A
China não quer gastar mais US $ 1 trilhão em reservas estrangeiras defendendo
sua moeda. O rápido rebaixamento em 2015 e 2016 traumatizou os chineses para
sempre.
Certamente, a pressão das saídas de capital ainda está lá.
Veja o valor negativo consistente dos números de "erros e omissões
líquidos" nos dados da balança de pagamentos da China. No entanto, aqui
está a consequência do vírus: os chineses não podem ir a lugar algum. Eles não
podem vir a Hong Kong para comprar produtos financeiros e, a menos que ele seja
ultra rico, o mercado imobiliário de Manhattan está fora dos limites. O PBOC
tem menos com que se preocupar do que antes.
Então agora o mercado pode testar o verdadeiro valor do yuan. Poderia facilmente cair abaixo das 7,20 se o acordo comercial da primeira fase quebrar e o governo Trump impuser algumas das tarifas que havia ameaçado anteriormente. Outro fator que atropela consiste na decisão da China em relação ao projeto de segurança para aumentar o controle sobre Hong Kong, violando acordo assinado em 1999.
Do ponto de vista técnico, o yuan se encontra próximo do nível
de 7,20 que caso seja rompido, qualquer patamar poderia ser atingindo. Essa é
uma arma que a China tem a seu favor caso os EUA imponham sanções que a prejudiquem.
Um câmbio mais desvalorizado incentiva as exportações chinesas e ao contrário
inibe as americanas. Nesse momento, e ainda mais para o Trump que está à beira
das eleições, qualquer marola pode representar uma tempestade.
Uma última observação sobre os dados publicados recentemente,
aonde os efeitos dos vários contingenciamentos impactaram. Qualquer um deles
pode ser classificado em horrível ou pavoroso, comprometendo o histórico de
forma substancial. Nenhum modelo econométrico sabe como tratar, e qualquer projeção
é sem valor.
Eu já tinha comentado em março que os dados não têm valor nenhum,
apenas estatístico, só para mostrar aos netos quando crescerem. E como
proceder? Fiquei pensando que seria mais útil imaginar como estaria um dado específico
quando as economias estivessem no novo normal, plagiando o termo da moda. Mesmo
assim, está sujeito a grandes erros, para cima ou para baixo. Desta forma, o
melhor a se acompanhar é a evolução de informações de movimento: estradas,
gastos com cartão de crédito, energia etc.
Vou pular a abordagem dos juros de 10 anos que faço frequentemente
as sexta-feira, por não ter absolutamente nada a acrescentar, ao que foi relatado
no último post cuidado-com-juros-sedutores,, seria um past copy, nem o
gráfico seria perceptível qualquer diferença.
Sendo assim, vou analisar o euro que nos últimos dias, que
mostrou algum sinal de vida. No post __ mercado imobiliário alguma mercado-imobiliário-uma-oportunidade: ... “Prefiro não fazer nenhum
prognostico nesse momento, apenas apontar níveis de importância tanto num
sentido quanto no outro” ...
Na alta: € 1,115 e € 1,13
Na baixa: € 1,075 e € 1,063
A moeda única se aproximou do primeiro limite de alta
apontado acima de € 1,115, além de encostar na linha paralela superior, de um
canal de baixa que vigora desde 2018, com algumas alternativas de ruptura.
O euro já deu muitas mostras de indefinição, são inúmeras as
vezes que indicou um possível sentido, numa direção ou noutra, porém, frustrou
em todas elas. Pode ser que agora seja o momento, e até acredito que
interessante um trade de compra caso rompa o nível de € 1,115, com stoploss curto €
1,105. Fica a sugestão, mas a moeda única vai ter que mostrar muito mais para
que a confiança numa alta se eleve.
O SP500 fechou 3.044, com alta de 0,48%; o USDBRL a R$
5,3300, com queda de 1,40%; o EURUSD a € 1,098, com queda de 0,85%; o ouro a
U$ 1.726, com alta de 0,47%.
Fique ligado!
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