Vivendo de mesada


O resultado dos dados de emprego nos EUA não é nada animador para dizer pouco. Nesta sexta-feira serão publicados os dados oficiais. As previsões são para demissões de 21,85 milhões com uma taxa de desemprego pulando para 16%.

A publicação hoje do ADP, uma proxy dos dados oficiais, foi sem precedentes. Os economistas esperavam 20,5 milhões e o resultado veio em 20,36 milhões. Agora, o mais chocante, é o gráfico histórico abaixo.

O detalhamento dos setores não apresenta muita surpresa de quais os principais setores impactados: Hospitalidade e divertimento com 42%, seguido pela construção com 12%. Em termos de grupos a indústria com 21% e os serviços 79%. Mesmo a indústria representando uma parcela menor do PIB, cerca de 10%, sua participação foi maior por conta que, pouquíssimos trabalhos poderem ser feito em casa.

Pior, os números finais podem ser agravados.  O pacote de ajuda que o governo americano disponibilizou poderão contribuir para novos recordes no desemprego, a serem alcançados nas próximas semanas, pois aumentam as suas exigibilidades pelas reinvindicações de desemprego e trabalhadores independentes, oferecendo um adicional de U$600 por semana até 31 de julho.

Um artigo recente do WSJ observou que isso criou incentivos para algumas empresas conceder licença a seus funcionários, sabendo que eles serão cobertos financeiramente enquanto a economia ficar fechada. Enquanto isso, aqueles que ganham menos de US $ 50 mil por ano, serão totalmente integralizados e possivelmente estarão mais bem remunerados com o desemprego.

A combinação de aumentar a oferta de dinheiro para pagar as pessoas para não produzirem bens ou serviços, tem consequências sobre as quais, muitas pessoas não estão falando.

Ultrapassa o conceito do mercado livre e é tão absurdo quanto uma taxa de juros negativa. Um empréstimo que é perdoável não é convencional, para dizer o mínimo, porque um empréstimo é normalmente definido como um montante emprestado que se espera que seja devolvido com juros. Quando um empréstimo é concedido ao primeiro a chegar, com o objetivo de pagar às pessoas para não trabalhar, e é perdoável por ser garantido pelo governo dos Estados Unidos, não devemos chamá-lo de empréstimo.

Pode ser chamado de socialismo, talvez intervencionismo, e alguns ainda podem preferir o termo estatismo; mas uma coisa é certa, quando se trata do programa de proteção de salário: não é capitalismo!

Uma estatística sobre o custo que a Covid-19 tem sobre a economia não é um cálculo fácil. Porém, um mais direto, aponta que para cada morte provocada pela corona vírus, ocasionou o desemprego de 434 americanos.

A qualquer pessoa que se pergunte se é melhor fazer um lock down, ou deixar morrer mais pessoas para não parar a economia, tenho certeza de que 100% respondera a primeira. Mas indo um pouco mais ao futuro, imaginando que a economia se recupere de forma parcial, porém o desemprego ainda permaneça muito elevado, se a mesma pergunta for feita para quem perdeu seu emprego, ou mesmo quem não perdeu, não sei qual seria a resposta. A verdade é que viver de mesada do governo não parece ser algo saudável e muito menos produtivo.

Quando eu vejo um gráfico com o P/L da bolsa americana fico imaginado quem pode acreditar nessa fantasia. A grande maioria das empresas estão se abstendo de informar quais são suas previsões futuras dado a grande incerteza sobre como estarão suas vendas e lucros. Mesmo assim, os analistas fazem suas projeções imaginarias e fazem esse cálculo. Agora, se o dono não sabe, como o analista pode saber?
O gráfico a seguir fornece uma extensão da disparidade entre diversos critérios para estimativa dos lucros futuros. Entre o mais otimista e o mais pessimista, existe uma diferença de 50%. Isso significa que no caso extremo a bolsa deveria estar 50% abaixo do nível atual.


Mas o mercado perdeu a razão? De certa forma entrou naquilo que acredita e colocou a grande parte de suas fichas nas grandes empresas de tecnologia: Amazon, Apple, Google, Microsoft e Facebook, que representam mais de 20% do SP500. Veja a seguir a performance desse grupo contra o restante das ações do índice.


No post saída-pelos-fundos, fiz os seguintes comentários sobre o Ibovespa: ... “ existe uma alternativa dessa correção, que poderia levar a bolsa até ao redor de 90.000” ... ... “ No gráfico acima, apontei esses possíveis intervalos onde poderia ocorrer a reversão que estou esperando - Notem, que o 1º intervalo já poderia ter acontecido” ...
Na semana, mais trapalhadas do nosso Presidente, bem como a piora dos casos de corona vírus, impactaram a bolsa negativamente, sem, contudo, eliminar as opções que tracei acima. O gráfico com janela semanal a seguir, se nota a falta de interesse no Ibovespa.

 
Parece que a bolsa brasileira está mofando com oscilações levemente ascendente, mas nitidamente com o formato de uma correção. Nada de muito motivador para cima nem para baixo, por enquanto.

No curto prazo, não tem faltado más notícias no Brasil, e mesmo assim as quedas têm sido contidas, como aquele doente que está em situação crítica, porem se observa melhoras pequenas diariamente. Vou aguardar para qualquer posicionamento.

Minha esperança tem sido minada diariamente, com uma rotina desmotivadora associada a um elevado grau de incerteza. É natural que isso aconteça. Em dias assim, procuro não tomar muitas decisões, que acabariam tendo um viés mais negativo. Amanhã é outro dia, será diferente de hoje? Let´s see!

O SP500 fechou a 2.848, com queda de 0,70%; o USDBRL a R$ 5,7145, com alta de 2,44%; o EURUSD a 1,0795, com queda de 0,40%; e o ouro a U$ 1.683, com queda de 1,31%.

Fique ligado!

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