O diabo está nos detalhes
Talvez todos estejamos perplexos ao ver a bolsa americana
recuperar quase toda a queda que ocorreu em março, enquanto os dados econômicos
publicados e projetados são horríveis. Mas, como diz o proverbio “o diabo está
nos detalhes”.
Um artigo publicado pela Bloomberg explica os motivos de
tamanha resiliência do SP500.
"Existe uma relação simbiótica entre o mercado e o que
as empresas estão fazendo", disse Christian Weller, membro sênior do
Center for American Progress e professor de políticas públicas da Universidade
de Massachusetts, Boston. "Tanto o lucro quanto o comportamento das
empresas são ante trabalhadores e impactam os preços das ações".
Essa conversa parecerá extremada, mas mostra como a questão
pode se dividir. No momento, a lista de vencedores do Russell 1000 é pontilhada
com nomes sistemáticos. A Amazon, cujas ações dispararam, pode ser um grande
empregador, mas deslocou muitas vezes mais trabalhadores do que contratou. A
MarketAxess, uma trader de títulos automatizada, subiu 38% desde o topo de
fevereiro, enquanto a fabricante de mercado eletrônico Virtu Financial Inc.
saltou 41%. Até a Netflix Inc., que venceu o S&P 500 em cerca de 40 % este
ano, pode ser vista como uma espécie de assassina de categoria quando se trata
de estações de TV e cinemas.
Certamente, as empresas dependentes do contato público são
vítimas de inovação tecnológica há décadas, não é novidade. E o mercado não é a
economia - embora seja pelo menos um reflexo disso e uma aposta no que
prosperará no futuro. Não é de surpreender que, em meio a uma crise destinada a
manter todos em casa, as apostas estejam se unindo em torno de empresas que
aliviam o fardo de ficar trancado em ambientes fechados.
"Muitos dos investimentos em produtividade que as
empresas fizeram ao longo do tempo permitiram absorver esse choque, com a
eliminação de uma quantidade enorme de trabalho presencial", disse Joseph
Fuller, professor de administração da Harvard Business School. "Com o
tempo, os Estados Unidos continuaram implantando tecnologia de maneiras que
permitem coisas como distanciamento social".
Veja o Walmart, por exemplo. Em 1980, os armazéns das
grandes lojas estavam lotados com mais pessoas por metro quadrado, com menos
automação executando as operações do que agora. Apenas alguns meses atrás, a
maior mercearia do EUA lançou um armazém administrado por robô para aumentar a
eficiência e competir com a Amazon. As ações de ambas as empresas ganharam em
2020, enquanto o SP 500 caiu 11%.
Além de uma força de trabalho mais automatizada, Fuller
também destaca a penetração da banda larga em todo o país e grandes
atualizações no que é padrão para computadores - câmeras e microfones embutidos
- como melhorias significativas, embora caiam desproporcionalmente sobre os
ricos. Essa inovação permitiu que funcionários de colarinho branco de vários
setores trabalhassem em casa, sem sacrificar muito em termos de produtividade.
Na semana passada, após reportar os ganhos, o CEO do
Twitter, Jack Dorsey, disse que "não havia uma redução significativa"
na produtividade dos funcionários, mesmo que todos estivessem trabalhando em
casa, e que ele podia ver uma versão desse formato de trabalho existente muito
depois do Covid-19. No mês passado, após a divulgação dos resultados, o CEO da
Morgan Stanley, James Gorman, disse à Bloomberg que a empresa provou que
"pode operar sem pôr os pés no escritório".
Não apenas um número menor de empregos exige interação
humana, mas os investidores podem estar agradecidos porque, os benchmarks de
ações com valor de capitalização de mercado, sejam otimizados de maneira a
melhorar a migração para esses campos.
Os dois setores SP 500 com melhor desempenho este ano -
tecnologia da informação e assistência médica - por acaso detêm os maiores
pesos do índice. Ambos caíram de preço menos de 3% e, juntos, os dois setores
representam 41% do SP 500.
Grandes ganhos das indústrias na vanguarda da automação e
inovação aumentaram sua participação no índice. As empresas de software
representam 9% do SP 500, cerca de dois pontos percentuais a mais do que no
início do ano. Um grupo de empresas de varejo na Internet, incluindo Amazon e
eBay, é hoje o sétimo maior peso de 69 setores - subindo três posições em cinco
meses. Enquanto isso, os bancos caíram sete posições para o número nove.
De acordo com os estrategistas da Bloomberg Inteligence, o
setor de saúde do SP 500 está "bem posicionado para um mundo socialmente
distante". Sam Palmisano, ex-CEO da IBM., diz que o uso da tecnologia nas
práticas de assistência médica pode estar aqui para ficar.
"Fundamentalmente, no final do dia, é uma maneira
totalmente diferente de praticar medicina", disse ele. "As pessoas se
acostumarão com isso, e se você tiver a opção de não ir ao consultório médico e
ter que esperar na área de recepção, por um tempo muito longo, às vezes porque
as coisas acontecem dessa forma, isso pode ser atraente para você".
Outras indústrias que superam o mercado também estão
voltadas para o consumidor, incluindo empresas de serviços discricionários, de
comunicação e de bens básicos. Por outro lado, se você se concentrar nas
empresas mais afetadas negativamente pelo vírus, incluindo companhias aéreas e
ações de lazer, elas representam apenas 10 a 20% do SP 500.
“O que abre os olhos é quando você olha para aqueles com
quem está preocupado. Não é uma grande parte do SP 500. É o velho ditado em que
o mercado não é a economia ", disse ele. “Isso realmente atinge uma peça
importante aqui. Muitas coisas com as quais estamos preocupados, não são uma
grande parte do SP 500, então talvez tenhamos exagerado ao vender a bolsa que
chegou a cair 35%.”
Esses detalhes explicam boa parte da performance do SP500,
não acumular uma grande queda. A ponderação das empresas que compõe o índice é
mutável periodicamente pelos volumes transacionados e valor de mercado das
empresas. Para entender de forma simples, se 2 ações têm pesos iguais no
índice, e passado um tempo, uma delas tem seu preço duplicado, a proporção
dessa irá aumentar enquanto da outra diminuir.
Neste aspecto, o índice Ibovespa é bem diferente, com um
peso excessivo nos setores de bancos e commodities, a velha economia, sua
performance de recuperação é muito inferior. Como por aqui não tem empresas de
tecnologia com capital aberto, nossa bolsa vai ficar para traz por muito tempo!
No post fed-you-have-problem ... “ as taxas têm oscilado entre 0,75% e 0,55%, prevalecendo o
cenário de novas quedas até os níveis citados acima. No sentido inverso,
somente acima de 1,3% se pode conjecturar uma mudança de rumo” ...
Passados duas semanas desta postagem pouca coisa se alterou,
os juros de 10 anos parecem estar mofando dentro do intervalo mencionado acima,
o que não se pode dizer sobre a expectativa dos juros de curto prazo que já apontam
para níveis abaixo de zero no próximo ano. Interessante, pois, se existe um
certo otimismo nas empresas de tecnologia, no restante da economia não parece
existir o mesmo entusiasmo!
No ano passado houve um grande debate sobre um indicador que
indica recessão, o diferencial de juros entre os títulos de 10 anos e 2 anos.
Muito bem, como se pode verificar no gráfico a seguir, no mês de setembro ficou
negativo por um curto período. Agora, estamos em plena recessão e esse
diferencial foi para casa do 0,50% e com indicações de elevação, o que não é
anormal, pois quando se está numa recessão, a autoridade monetária já deveria
ter agido cortando os juros implicando taxas mais elevadas no futuro. Acredito
que nenhum analista vai dizer que esse leve toque no campo negativo foi
suficiente para comprovar essa tese.
Voltando a análise dos juros de 10 anos, mantenho minhas
previsões anteriores de queda: ... “o primeiro
intervalo é muito próximo a mínima anterior de 0,3%, podendo atingir 0,15%.
Caso não sustente, o próximo nível já seria na casa dos juros negativos em –
0,3%” ...
Como o assunto é juros vou fazer um breve comentário sobre o
IPCA de abril, publicado hoje. O resultado no mês foi de -0,31%, abaixo da
expectativa dos analistas. A taxa em 12 meses desacelerou de 3,3% a.a. para
2,5% a.a., o mais baixo desde 1999. Esse resultado coloca o índice abaixo da
meta do Banco Central. Um dos grandes componentes que influenciaram essa
deflação foi a queda do preço da gasolina, além da demanda fraca causada pela
pandemia.
Para quem tem dúvida quanto será a sua remuneração dos
títulos indexados ao IPCA, pode relaxar, vai entrar com uma percentagem negativa,
reduzindo o valor acumulado. Não fosse o componente mais elevado dos juros, o
resultado final seria um juro total negativo. Hahahaha .... até no Brasil!
O SP500 fechou a 2.929, com alta de 1,69%; o USDBRL a R$
5,7319, com queda de 1,69%; o EURUSD a € 1,0840, sem variação; e o ouro a U$
1.700, com queda de 0,99%.
Fique ligado!
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