Cuidado com juros sedutores



Nesse momento dramático que vive a humanidade muitas empresas estão sofrendo elevadas quedas em suas receitas. Se houvesse garantia que daqui a pouco tudo voltará ao normal, a opção de investir nas emissões de bonds seria mais fácil, bastaria optar pelas melhores empresas até então. Acontece que esse vírus pode mudar drasticamente os setores da economia, e mesmo empresas boas podem sucumbir.

Alguns exemplos do que ocorreu no passado podem dar ideia que, alguns bonds emitidos com taxas elevadas, não chegaram a pagar nem o primeiro coupon.

Quem viaja sabe que existe um símbolo no mercado de aluguéis de veículos. A Hertz é a companhia onde os preços eram mais caros que suas concorrentes, mas em compensação seus carros eram novos e o serviço excepcional.

Apelidado de 'sem cupom', está reservado para descrever os valores mobiliários que entram em default antes de fazer um único pagamento. A distinção é tão rara que gerou seguidores de culto entre os traders, que se lembram de algumas transações nas últimas décadas que se encaixavam nessa categoria.

Mas agora, eles estão alertas para outra entrada em potencial no infame clube. A Hertz Global Holdings Inc. divulgou na semana passada o chamado aviso de continuidade, dizendo aos credores que podem ser forçados a pedir falência em meio a perspectivas sombrias de uma rápida recuperação em seu negócio de aluguel de carros dependente de viagens. Isso deixaria seus U$ 900 milhões de dólares em notas de 6% vendidos em novembro, em atraso, antes de pagar aos investidores um centavo.

Não é como se esses títulos fossem destinados à pilha de lixo desde o dia em que o preço foi fixado. A empresa pretendia arrecadar US $ 750 milhões antes de atrair investidores suficientes para aumentar o tamanho da emissão. As notas não garantidas foram classificadas como B3 pelo Moody´s e B- pela S&P Global Ratings, bem no território denominado de “junk”, mas dificilmente único.

Um pouco mais raros, eles obtiveram uma classificação de recuperação de 6 da S&P, a classificação mais baixa, o que significa que os credores podem esperar de 0% a 10% do seu principal de volta no caso de inadimplência no pagamento.

Isso certamente pesará sobre os títulos, que são negociados a apenas 11 centavos de dólar por dólar.

Com a empresa vencendo o prazo nesta sexta-feira, para pagar a outros credores cerca de US $ 400 milhões, os observadores do mercado poderão descobrir, mais cedo ou mais tarde, se as posições desprezíveis do clube sem cupons devem aumentar.

No final desta noite circulou no Wall Street Journal que a Hertz está preparando sua falência tão logo como esse final de semana.

O mais impressionante neste caso é que a queda do preço desses bonds, que ocorreu num prazo de 2 meses, fato bastante raro nestas situações. O que ocorre corriqueiramente, para empresas que passam por essa situação, é uma deterioração das suas condições espaçadas no tempo.

Pesquisando um pouco sobre a Hertz se chega a conclusão que, a mesma já tinha problemas anteriores, razão da sua rápida deterioração. A Covid-19 foi o empurrão para colocá-la agora a beira da falência. Com toda sua frota parada durante esse período, e por conta do ceticismo sobre como esse setor se comportara no futuro, fez os investidores venderem seus bonds a qualquer preço.

Para quem acompanha o mercado internacional soube de diversas emissões de empresas com juros elevados, por exemplo, ontem foi a vez da American Steel emitir um bond pagando juros de 13% a.a.

Neste momento não é recomendado a compra de títulos de empresas que se encontram em situação financeira delicada por conta do corona vírus. Nunca se pode esquecer que, antes de tudo, o importante é o retorno do capital e não a somente a rentabilidade.

No intuito de acompanhar o retorno das atividades na China, no gráfico a seguir se pode notar que boa parte dos setores estão próximos do nível anterior a crise, com exceção dos Hotéis e Entretenimento.
Os investidores ainda não estão otimistas com as bolsas classificando a como bear market (mercado de baixa), o que é um pouco estranho ao se analisar o comportamento dos índices próximo das máximas. É verdade que existe uma enorme concentração no setor de tecnologia.
No post o-diabo-esta-nos-detalhes, fiz os seguintes comentários sobre o s juros de 10 anos: ... “mantenho minhas previsões anteriores de queda: ... “o primeiro intervalo é muito próximo a mínima anterior de 0,3%, podendo atingir 0,15%. Caso não sustente, o próximo nível já seria na casa dos juros negativos em – 0,3%” ...

Desde março os juros estão contidos dentro de um intervalo entre 0,75% e 0,60%, com pequenas oscilações em ambos os sentidos.

Minha perspectiva não mudou, embora esta demora, foge aos padrões esperados. No gráfico acima estabeleci alguns patamares que deveriam ser observados, caso o movimento de baixa ainda ocorrerá. O primeiro definido como alerta amarelo, entre 0,80% e 0,90%, seria o “máximo” aceito, embora não é suficiente para abortar o prognostico; e a linha vermelha em 1,3%, se rompida, termina o ciclo de baixa que ocorre desde o início de 2019.

Embora a maior parte dos analistas trabalhe com um cenário deflacionário, o que deveria acarretar taxas mais baixas, sendo um fator para que os juros permaneçam baixos (além das compras feitas pelo Fed). Entretanto, se a recuperação da economia for mais forte, os juros tenderiam a pressionar.

Como os juros medidos são de 10 anos, somente uma situação econômica ruim poderia induzir a quedas superiores as atuais. O Fed nesta gestão, através de seu presidente, Jerome Powell, disse que não pretende praticar juros negativos, tornando o nível de 0% como um mínimo. Mas as coisas podem mudar no futuro.

O SP500 fechou a 2.955, com alta de 0,24%; o USDBRL a R$ 5,5338, com queda de 0,30%; o EURUSD a 1,0900, com queda de 0,45%; e o ouro a U$ 1.734, com alta de 0,54%.

Fique ligado!

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