Saída pelos fundos



Ontem comentei sobre a inversão do fluxo de recursos para os mercados da America Latina. Esse movimento não acontece somente em nossa região, ela é mais abrangente, inclui também os mercados emergentes conforme reportagem do Wall Street Journal.

Os países de mercados emergentes reduziram no mês passado suas reservas cambiais no ritmo mais rápido desde a crise financeira global, para conter uma queda em suas moedas, deixando alguns países vulneráveis a choques adicionais.

Doze dos maiores países em desenvolvimento, incluindo Brasil e Rússia, reduziram suas reservas combinadas em pelo menos US $ 143,5 bilhões em março, na maior queda desde outubro de 2008, segundo dados da empresa de pesquisas Arkera. Isso deixou a Turquia com o menor saldo cambial desde novembro de 2006. Para o Egito, março marcou o maior dreno mensal em suas reservas já registrado.

Esses países mergulharam em seus cofres para combater uma queda vertiginosa em suas moedas depois que a pandemia de coronavírus levou a economia global a uma parada quase estagnada em março. Os mercados financeiros ficaram turbulentos, com os investidores retirando fundos de ativos de risco, como ações e títulos de mercados emergentes, enquanto lutavam por dólares.

O esgotamento das reservas provavelmente deixará países como Turquia, Egito e África do Sul expostos a mais choques no mercado, disseram investidores. Alguns países podem ter dificuldades com dívidas de investidores estrangeiros ou pagar por importações de petróleo, alimentos e medicamentos com preços em dólares americanos. A força contínua da moeda americana, amplamente mantida pelos governos, também tornará o reabastecimento dessas reservas nos próximos meses um desafio.

"A experiência de 2008 foi que os vencedores são aqueles que deixam suas moedas irem", disse Timothy Ash, estrategista dos mercados emergentes da BlueBay Asset Management. "Ao invés de desperdiçaram reservas, deveriam ter deixado a moeda ir a qualquer nível".
Na Turquia, que sofreu uma crise cambial em 2018, as autoridades retiraram quase US $ 19,2 bilhões das reservas em divisas em março, à medida que o declínio da lira turca em relação ao dólar se acelerava. Suas reservas já diminuídas caíram para cerca de US $ 56 bilhões, segundo o Refinitiv. Isso ajudou a limitar o declínio da lira para 15% este ano.

As reservas líquidas do banco central, um número que deduz os fundos emprestados dos bancos domésticos, estão abaixo de zero, estima Brad Setser, membro sênior do Conselho de Relações Exteriores de Nova York.

A Turquia tem US $ 12,5 bilhões em dívida denominada em dólares americanos que vencem até o final de 2021. O setor bancário do país, que tinha quase US $ 79 bilhões em dívidas de curto prazo com vencimento em fevereiro de 2021, pode não ser capaz de efetuar pagamentos se a lira cair ainda mais, disse Per Hammarlund, estrategista-chefe de mercados emergentes da SEB Markets.

O banco central da Turquia se recusou a comentar sobre a queda nas reservas, mas disse que trabalhou para fornecer aos bancos maior liquidez e crédito.
Os movimentos amenos das moedas turca e egípcia sugerem uma intervenção em larga escala dos bancos centrais para conter seu declínio, de acordo com analistas do Instituto de Finanças Internacionais que avaliaram a queda nas moedas locais contra as mudanças nas reservas cambiais.

O peso do México, por outro lado, caiu 22% este ano, com o país impedindo a intervenção de seu banco central nos mercados de moedas.

A Arábia Saudita gastou US $ 27 bilhões em suas reservas em março - a maior queda desde duas décadas - para manter o valor do rial em relação ao dólar, à medida que os preços do petróleo caíam. Isso deixou cerca de US $ 479 bilhões.

Enquanto isso, o Brasil e a Rússia, que também têm reservas consideráveis ​​mesmo após o recente esgotamento de seus cofres, deixaram suas moedas absorverem mais os impactos do colapso econômico. Isso deixou o rublo russo em queda de 16% este ano, e o real brasileiro em queda de 27%.

Se vocês se atentarem bem, o gráfico acima que aponta o fluxo das reservas dos diversos países, se nota uma deterioração desde final de 2014. Até alguns anos antes, os bancos centrais acumularam reservas em função de um fluxo de recursos provenientes de investidores, que enxergavam vantagens nesses mercados. Parece que o Covid-19 foi a gota d’agua para uma retirada mais expressiva.

Participei de um call promovido pelo Banco Goldman Sachs, onde alguns pontos chamaram minha atenção: Embora as ações brasileiras estejam agora em múltiplos baixos, esse estudo mostrou que, o mais importante são os preços das commodities para uma eventual elevação dos P/L; outro ponto é a concentração de empresas do setor financeiro e comodities, que estão “fora de moda”, são pouco atraentes. Desta forma, os investidores têm preferência pelos países desenvolvidos e principalmente os EUA.

Tudo isso me faz refletir se podemos esperar uma volta dos estrangeiros, ou pior, os que aqui estão, é por oportunismo e a qualquer alta sairão. Quanto as comodities subirem de preço, observem, por exemplo, como tem se comportado o índice agrícola desde 2015. A queda de preços não por conta do vírus, parece mais estrutural. Tudo isso não parece nada animador. Posso garantir que, se as condições apontadas estivessem positivas, tanto faz as besteiras de nosso Presidente, e olha que não foram poucas nos últimos dias.


No post ações-tech-no-céu, fiz as seguintes comentários sobre o Ibovespa: ... “ enquanto o Ibovespa não ultrapassar 97.000, sua posição é delicada, e é provável que ocorra novas quedas. Mantenho a intenção de venda ao redor do nível indicado entre 83.000 e 85.000” ...

Ontem a bolsa brasileira chegou a 83.500, o que poderia ativar o call de venda. Do ponto de vista técnico, o nível estaria dentro do aceitável para essa hipótese. Porém existe uma alternativa dessa correção, que poderia levar a bolsa até ao redor de 90.000.

No gráfico acima, apontei esses possíveis intervalos onde poderia ocorrer a reversão que estou esperando - Notem, que o 1º intervalo já poderia ter acontecido.

- David, que confusão é essa? Parece que você está com receio de vender!
Imagino que para uma pessoa que não conhece análise técnica, o gráfico acima mais parece uma arvore de Natal. Para explicar de forma simplificada, os vários níveis em cores diferentes, são medidas feitas a partir de pontos distintos. Quando ocorre uma congruência, aumentam as chances desse nível ser importante. Como se trata de uma correção, conforme o gráfico evolui, as hipóteses são colocadas a prova.

No caso específico, pode estar faltando ainda um recuo pequeno seguido de uma alta que levaria o Ibovespa aos 90 mil. Caso não aconteça, vou analisar uma outra entrada que não será nos 83 mil.
Em todo caso, por enquanto estou trabalhando com mais uma queda do Ibovespa abaixo dos 60 mil. Essa hipótese só será questionada, caso o índice ultrapasse 96 mil antes disso.

O SP500 fechou a 2.912, com queda de 0,92%; o USDBRL a R$ 5,4415, com alta de 1,99%; o EURUSD a 1,0952, com alta de 0,73%; e o ouro a U$ 1.686, com queda de 1,52%.

Fique ligado!

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