Fed compra Coca-Cola e Grapete



Quem é da velha guarda deve lembrar quando os distribuidores de bebidas só vendiam aos bares Coca-Cola se viesse junto um pedido de Grapete. Essa última era um refrigerante de uva com um gosto horrível.

 Estamos assistindo a maior injeção de recursos da história. Os governos ao redor do mundo buscam evitar uma crise deflacionaria em suas economias em virtude do Covid-19. Naturalmente os EUA ficam com a maior parcela, haja visto que, é a maior economia do mundo. Os estímulos vêm pela parte monetária e fiscal, ficando cada órgão equivalente responsável pela sua implantação.

O Fed, além dos U$ 2,0 trilhões já anunciados em diversos programas, decidiu entra num novo negócio, a compra de papeis emitidos pelas empresas com classificação de risco BBB, conhecido no jargão de mercado com Junk Bonds, o próprio nome já diz tudo “títulos lixo”! E não é pouca coisa, são U$ 2,3 trilhões onde pretende fazer um bom negócio.

Desta forma, o Fed vai muito além das funções de emprestador de último estancia que desempenhou em 2008 para impedir que o pânico financeiro aprofundasse a crise econômica, e dependem de centenas de bilhões de dólares em dinheiro do Tesouro, que o Congresso disponibilizou.

Mas o que levou a autoridade americana a tomar atitude tão audaciosa. A resposta é simples, pode ser vista no gráfico abaixo. Nos últimos anos as emissões de títulos nesta categoria : A e BBB, explodiu, na busca de algum retorno por parte dos investidores. Com o advindo do Covid-19 as taxas de risco desses títulos foram as alturas – parte esquerda do gráfico. Sendo assim, se ninguém fosse socorrer, essas empresas nesse momento teriam custos elevados de financiamento nos bancos.

O próximo ativo que o Fed por lei ainda não pode comprar são as ações listadas em bolsa. Para o leitor isso pode parecer estranho, mas por exemplo, o BOJ - banco central japonês já é o maior detentor de ETF de ações. Supondo que isso aconteça, e num raciocínio simplista, se no mundo os bancos centrais detêm os títulos emitidos pelos seus governos, títulos emitidos pelas empresas até um grau de risco razoavelmente elevado e ações, como majoritários em todas elas, será que isso não seria uma estatização indireta? As empresas teriam as mesmas liberdades que tem hoje? O objetivo seria a maximização do lucro ou outro critério político?

Essas perguntas valem uma reflexão. Por enquanto o Fed resolveu hoje comprar Grapete, sem que o vendedor de Coca-Cola assim o exigisse!

Outro assunto que vai merecer uma reflexão mais profunda a frente, e principalmente se a economia se recuperar mais rápido que se tem discutido, é o que os investidores farão com os recursos que receberam pela venda de seus ativos? Tudo vai depender de como os bancos centrais reagiram a esse novo cenário, e caso sejam lentos, ou até queiram ter certeza de que não haveria uma recaída, em vender os títulos ao mercado, existe o risco de se criar bolhas, além de efeitos inflacionários danosos.

Entramos em tempos bem desafiantes!

No post quem-vai-vencer-guerra-contra-o-covid-19, fiz os seguintes comentário sobre o ouro: ... “ O que posso adiantar é que: se o ouro adentrar no intervalo entre U$ 1.650 a U$ 1.700 aumentam as chances de novas altas para o ouro, e caso contrário, no intervalo entre U$ 1.515 e U$ 1.450 as chances de baixa. De forma mais afirmativa, abaixo de U$ 1.515 a vulnerabilidade se eleva bastante” ...

O metal está se aproximando do nível superior definido acima. As medidas tomadas hoje alimentam mais o cenário de alta do ouro. Do ponto de vista estrutural, o ouro tem um dilema a ser vencido, caso seu caminho seja de novas altas. Por um lado, a injeção de recursos pelos bancos centrais como se fosse capim, desafinado o lema do Mosca – dinheiro não é capim, o coloca como atrativo; por outro lado, se a crença é que estaríamos entrando num ambiente deflacionário, nenhum ativo performa melhor que o caixa.

Os leitores do Mosca sabem a importância que dou para o intervalo anotado acima como Pivô, nessa região será definido se o metal tem mais espaço para novas altas ou se provará ser o nível de reversão, que levaria a novas quedas. Sendo assim, não vou fazer qualquer incursão nesse mercado, enquanto não ficar mais claro (provável) qual caminho pretende seguir.

O SP500 fechou a 2.789, com alta de 1,45%; o USDBRL a R$ 5,1070, com queda de 0,55%; o EURUSD a 1,0928, com alta 0,69%; e o ouro a U$ 1.683, com alta de 2,31%.

Fique ligado!

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