Estatização da moeda


A credibilidade da moeda de um país é essencial para que as empresas, indivíduos e órgãos funcionem com presteza. Numa sociedade livre é importante separar o governo de seu banco central, pois caso contrário, os políticos podem se dar o direto de efetuar gastos sem limites. É assim que funcionam nos países democráticos, mas não mais. Os bancos centrais assumiram uma posição que coloca em risco todo esse arcabouço, com injeções de recursos para a compra de diversos ativos contendo risco.

Esse resultado começou com a primeira incursão do Fed em nacionalizar (ou privatizar, dependendo de como se vê a estrutura acionária do Fed) mercados com QE1 e que agora está culminando em um frenesi sem precedentes de dinheiro de helicóptero, no qual todo banco central está monetizando o que todo tesouro está emitindo. Isso pode ser visto no gráfico a seguir, que mostra que, após adicionar os dados mais recentes do balanço do BCE, os Bancos Centrais do G3 (Fed, BCE, BoJ) injetaram um total de US $ 2,76 trilhões em liquidez nos mercados globais desde que começou a crise do COVID-19, que é "quase o dobro do impulso inicial de liquidez durante a Grande Crise Financeira".


Embora esta crise seja única e claramente não seja culpa de ninguém nos mercados financeiros, ela está claramente expondo duas das maiores falhas nas últimas duas décadas. A última edição de um super ciclo de 20 a 25 anos, em que as autoridades relutam em ver a destruição criativa que é tão importante para o capitalismo de sucesso, e onde tiveram que fazer outra grande intervenção impressionante.

Desde que o Fed, no final dos anos 90, decidiu resgatar o sistema financeiro após o colapso do LTCM, tivemos capitalismo patrocinado pelo Estado e grande risco moral. Isso significou que cada ciclo padrão subsequente (ou mini ciclo de mercado) foi menos severo do que a versão do universo paralelo do mercado livre teria sido, e deixou cada vez mais dívida no sistema como resultado, significando que, a intervenção necessária para proteger o sistema tem que ser cada vez maior.

Acredita-se que o sistema de livre mercado é o melhor alocador de recursos. Agora parece que o governo está feliz em intervir e tomar o lugar de atores privados. Temos um comprador e credor de última instância, amortecendo a dor, mas assumindo o papel do mercado livre. Quando as pessoas sentem que o governo as protegerá das consequências financeiras desagradáveis ​​de suas ações, isso é chamado de "risco moral".

Quem fará a compra para o governo e garantirá que os preços de compra não sejam muito altos e que os emissores com risco de falência sejam evitados (ou ninguém se importa)? E por que a SEC (regulador americano equivalente a CVM) deve oferecer alívio aos veículos de investimento alavancados? "

Coisas improváveis ​​ (e até imprevisíveis) acontecem de tempos em tempos, e investidores e empresários precisam permitir essa possibilidade e esperar arcar com as consequências. Não existe razão para que os financiadores sejam socorridos simplesmente porque o evento pelo qual estão sendo prejudicados era imprevisível.

A matéria pode parecer um pouco complexa aos leitores por se tratar de assuntos de teoria econômica. Vou procurar explicar com exemplos simples. Começamos pela Itália que foi fortemente prejudicada por essa crise. Era de se esperar que os títulos do governo italiano se desvalorizassem em comparação aos seus pares europeus. Mas isso seria injusto com o povo italiano, afinal, a reconstrução teria que enfrentar juros muito elevados. Foi quando o ECB anunciou que iria comprar esses títulos, naturalmente a taxa caiu.

Mas o problema da Itália já vinha de longa data, e na implantação da moeda única foi evidente o que antes era escondido atrás da desvalorização da lira italiana. Com uma economia em estagnação por diversos anos, sua competitividade ficava a dever, o que levou a renda per capta nesse país a seguir ladeira abaixo enquanto a alemã foi em sentido contrário.

As companhias aéreas estão no mesmo caso. Já de longa data a saúde financeira desse segmento é bastante ruim, com elevadas dívidas procuravam se manter vivas. Se não fosse o auxílio de U$ 25 bilhões anunciados essa noite diversas seriam levadas a falência.

Eu tenho poucas dúvidas que se o valor alocado pelos governos não for suficiente para garantir uma recuperação mínima da economia, farão novas alocações no futuro. E tudo levado ao limite, o governo seria o proprietário de todas as empresas que considera importantes para a economia, ficando de fora aqueles que, ou não empregam tanto, ou com um faturamento não expressivo, de fora da ajuda. Um critério completamente discutível numa economia livre.

E como será mais para frente, vocês não acham que haverá ingerência nessas empresas? Por exemplo, as farmacêuticas poderão aumentar seus preços de forma livre, ou o governo vai interferir? Parece que o livre mercado corre o risco de estar com os dias contados!

No post sexta-feira-x, fiz os seguintes comentários sobre o euro: ... “ Um nível crucial será entre € 1,05 e €1,0339, principalmente este último que se ultrapassado coloca o euro rumo a mais quedas” ...

Naquele momento, eu tinha acabado de fechar um trade de compra do euro, pois o mercado tinha reagido de forma adversa a minhas expectativas. Isso aconteceu há 30 dias, e desde então a moeda única subiu e desceu sem uma tendência clara, voltando a permanecer dentro das retas paralelas destacadas abaixo.
Não é atoa que faz tempo não atualizo os dados técnicos do euro. Notem que a partir da conscientização do mercado dos efeitos do Convid-19, o que alterou na moeda única é a sua volatilidade. Notem como os níveis ficaram contidos nessas semanas sem que houvesse uma definição.

Num gráfico com janela diária fica patente essa indecisão, com alguns dias em queda sucedido por outros em alta. Prefiro não fazer nenhum prognostico nesse momento, apenas apontar níveis de importância tanto num sentido quanto no outro.

Na alta: 1,115 e 1,13
Na baixa: 1,075 e 1,063

O SP500 fechou a 2.783, com queda de 2,20%; o USDBRL a R$ 5,2389, com alta de 1,53%; o EURUSD a 1,0913, com queda de 0,61%; e o ouro a U$ 1.720, com queda de 0,44%.

Fique ligado!

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