É mais fácil ser pessimista

 


Hoje precisei ir à agência do meu banco pela primeira vez esse ano. A caminhada teve dois efeitos imediatos: primeiro notei como faz falta a rotina de percorrer as ruas da forma com fazia antigamente, sem me preocupar com nada, e principalmente sem que meu óculos ficasse embasado com o uso da máscara; segundo que a agencia parecia um velório, poucos funcionários e clientes. Parece que seu final - agência, está perto. O que eu fui fazer lá poderia muito bem ser feito a distância.

Uma leitura das diversas fontes que faço diariamente chamou minha atenção, por um fato que nunca havia pensando, a de que é mais fácil ser pessimista.

Eu descreveria minha perspectiva no mercado como otimista de longo prazo, ansioso a curto prazo.

Pode parecer contraditório, mas não é. Aposto que há muitos investidores por aí que acreditam fortemente que as ações estarão mais altas daqui a 20 anos, e ainda assim você não saberia disso olhando para sua carteira, ou por sua atividade de negociação.

Se os retornos a longo prazo são tudo o que importa, então por que nos concentramos tanto no curto prazo? Porque a longo prazo é uma série de curto prazo. Porque o risco de algo dar errado supera os benefícios de tudo dar certo. É por isso que existem gestores de risco e nenhum gestor de lucros. O lado bom cuida de si mesmo, se você deixar. Uma queda forte pode colocá-lo fora do negócio em uma tarde.

A coisa mais fácil de ser em investimento, é ser pessimista. É fácil dizer que essa ideia nunca vai funcionar. É fácil dizer que esta empresa não tem fosso. É fácil dizer que o mercado de ações está supervalorizado.

Pessimistas sempre soam mais espertos que otimistas. Os primeiros têm uma compreensão mais profunda e, portanto, estão mais conscientes dos riscos envolvidos. Enquanto os últimos gostam da sua ideia, mas são ingênuos para os pessimistas.

No tribunal, a acusação carrega o ônus da prova e deve remover qualquer dúvida razoável. É inocente até prova em contrário.

No tribunal de investimento, os otimistas carregam o ônus da prova, e como a prova não existe até se provar, tem poucos argumentos de persuasão.

Percebam duas situações distintas: quando encontra um amigo que tinha uma visão pessimista em relação a algum mercado, ele se comporta de forma diferente dependendo do que aconteceu:  diz “eu falei”, com aquele sorriso sarcástico, quando estava certo; e no caso inverso, quando você acerta, se esquiva do assunto, ou atribui a outro fator o sucesso (sorte!)

Há quanto tempo os investidores duvidam da Amazon? Há quanto tempo os investidores duvidam desse mercado de alta? Há sempre o risco de algo dar errado, e é por isso que é impossível ser otimista além de uma dúvida razoável.

Você não deve investir como se algo fosse garantido, incluindo preços mais altos das ações. Mas se você é consumido pela negatividade e sempre preocupado com o que pode dar errado, você vai ter muita dificuldade em crescer seu portfólio.

Não pense nisso como pessimismo versus otimismo. Ninguém é todo de um e nenhum do outro. Pense nisso como um equilíbrio certo entre essas mentalidades concorrentes.

A coisa mais fácil em investir é estar cheio de dúvidas, mas ninguém nunca ganhou dinheiro fazendo o que era fácil.

Ao terminar o artigo fiquei pensando em como eu me classifico. Ao efetuar uma varrida na minha história notei que tenho ambos os sentimentos, consegui ser otimista e pessimista, porém com uma diferença, sentia muito mais ameaçado nos momentos ruins, o que me levaram a decisões precipitadas, com consequentes perdas.

Mas, acredito que esse viés se alterou nos últimos anos, em função de duas mudanças: depois de centenas de horas em terapia percebi que eu tenho uma tendência estrutural de imaginar desastres maiores do que se poderia esperar. Agora ao perceber esses momentos busco não me deixar levar por pensamentos fantasiosos; e a análise técnica que limita as perdas de forma pragmática, sem considerações emotivas. Acredito que minha vivência com a pandemia confirma essa mudança.

Espero que o post de hoje motive os leitores a uma reflexão sobre esse assunto, permitindo aprimorar seu conhecimento da sua tolerância de risco, bem como a melhoria do seu processo decisório.

O assunto de dívida pública sempre foi polêmico. No passado um nível de 100% de dívida/PIB era um sinal de alerta forte, normalmente gerava a desvalorização da moeda em conjunto com o aumento dos juros. Nos últimos anos, como a maioria dos países entrou, ou está prestes a entrar, nesse patamar, resolveram dar um descanso, ou aceitar.

Talvez o exemplo do Japão, onde a dívida publica é de 250% do PIB a décadas, e nenhuma explosão ocorreu, pode ter intrigado os economistas. Embora a ameaça da Japonificação paire sobre alguns dos maiores mercados do mundo, há pouca chance de isso acontecer nos EUA, de acordo com análise do JPMorgan.

Ao contrário do Reino Unido e da zona do euro, a América ainda está longe das forças crônicas que caracterizaram os mercados japoneses nas últimas décadas. Os catalisadores são as políticas monetárias ultra frouxas, mas que estão afetando alguns mercados menos do que outros.

A capacidade do Federal Reserve de completar um ciclo de caminhada após a grande crise financeira construiu a convicção de que os EUA ainda estão longe das taxas que permanecem baixas indefinidamente, de acordo com a análise.


Uma das características da Japonificação é que os bancos centrais se tornam um player cada vez mais dominante. No Japão, houve dias em que nenhum título do governo foi negociado, além de instituições monetárias em outros lugares também estão comprando participações maiores do mercado. O programa de estímulo da pandemia do Banco Central Europeu, por exemplo, suprimiu um limite de 33% nas compras do programa antecessor.

A projeção da dívida americana em função da taxa de juros no futuro mostra a sensibilidade de elevações e queda dos juros, mesmo com premissas modicas. O gráfico a seguir, elaborado pelo Deutsche Bank, calcula o nível do endividamento simulando uma elevação e queda de juros de 1% a.a.

No cenário básico a dívida atingiria 195% do PIB em 2050. Com a alta dos juros de 1% esse nível passaria a 264%, enquanto a queda levaria a 149%. Como o Mosca não circulará nessa data, lembro a quem estiver por aí, para ficar realmente preocupado se ao invés do juro subir 1% subir 3%!

No post potencia-maxima, eu fiz os seguintes comentários sobre o euro: ...” Como vocês sabem, na maioria dos ativos que acompanho, existem dois cenários. As vezes indicam na mesma direção e em outras em direção oposta, porém, sempre existe um de preferência. Essa última situação acontece no caso do euro. Decidi que somente vou publicar o que acredito mais provável, sem deixar de mencionar o que invalida” ...

E foi o que acabou acontecendo no caso da moeda única, por uma violação do cenário que imaginava mais provável, desta forma, estou alterando o trade proposto.


Conforme anotei no gráfico acima vou propor o trade a € 1,1600 com stoploss a € 1,1500, o objetivo passa a ser € 1,2430. 

O número de casos de Covid-19 aumentou muito nesse último verão no Hemisfério Norte, diversos países europeus estão sendo obrigados a tomar medidas restritivas a fim de evitar o caos de março passado. O gráfico dá uma dimensão da quantidade de infectados que é superior ao anterior, com uma diferença marcante, a queda do número de mortes, consequência de 3 fatores segundo os especialistas: melhoria no tratamento, maior contagem de casos e a população que está sendo infectada, ser predominantemente jovem.

Essa situação fez com que a recuperação que estava em andamento na Europa sofresse um revés, afetando a moeda única.

O SP500 fechou a 3.315, com alta de 1,05%; o USDBRL a R$ 5,4810, com alta de 1,25%; o EURUSD a 1,1710, com queda de 0,50%; o ouro a U$ 1.900, com queda de 0,63%.

Fique ligado!

Comentários

  1. Excelente texto introdutório, impossivel ser mais verdadeiro esse conflito interno de pessimismo x otimismo. As vezes penso o quanto finanças comportamental é mais importante que a parte técnica em si...
    Otimo blog. Parabéns.

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    1. Obrigado! Eu já algum tempo me identifico mais com finanças comportamentais, a análise técnica é uma aplicação pratica.

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