O diabo está nos detalhes
Esse ano foi muito atípico, com o advento da Covid-19, o
governo se viu obrigado a elevar significativamente o déficit. Passado o período
mais crítico da pandemia, embora ainda mantenha resquícios importantes, está na
hora de colocar a casa em dia.
Assistimos nos últimos dias, uma batalha dentro do governo,
de como seguir daqui em diante, e é natural que um afrouxamento indesejável pode
colocar tudo a perder. Porém, ainda mantenho um viés otimista. Vamos assumir
sem custo, que iremos entrar nos trilhos.
Tenho insistido há um bom tempo, que os investidores precisam
alterar seu portfolio de investimentos, saindo do conforto passado do CDI para
ativos mais arrojados. Isso requer tempo e aprendizado, haja visto que, implica
num aumento da incerteza de retorno.
Um lugar imediato para essa migração é a bolsa de valores,
que hoje, diferente do passado, permite a compra de ações brasileiras ou
internacionais, veja com seu assessor. Sendo assim, é valido observar o que
ocorreu nesses mercados, que embora não se aplique de forma past copy,
serve como ensinamento.
O estudo trazido hoje observa o retorno do SP500 nos últimos
30 anos, cujo rendimento foi de 10% a.a. Com esse ritmo, US $ 50 mil investidos
no início de 1987 teriam crescido para quase US $ 875.000 até o final do ano
passado.
Nada mau.
Além das ressalvas usuais — impostos, taxas, comportamento, diversificação
etc. — o problema com esses tipos de simulações é que elas não são realistas.
No mundo real, a maioria dos investidores não estão começando com uma soma de
dinheiro que permanece por décadas. A maioria das pessoas economiza
periodicamente ao longo do tempo e eventualmente tem que gastar seus dólares de
investimento.
Outra variável que torna as coisas complicadas é o fato de
que os mercados não são tão limpos e arrumados como uma planilha ou calculadora
de aposentadoria.
Por exemplo, vamos supor que um investidor hipotético teria
economizado US$ 5.000 por ano todos os anos de 1987 a 2016. Assumir um retorno
consistente de 10% a cada ano nos daria um saldo final no final de 2016 de um
pouco mais de US $ 830.000.
Mas os mercados não dão retornos consistentes ano após ano. Aqui estão os retornos anuais reais a cada ano para o S&P 500 neste tempo:
Já que já estamos lidando com hipóteses aqui, vamos dar um
passo adiante nesse exercício.
Se você invertesse a ordem desses retornos, tendo-o
começando com os números de 2016 e terminando com os números de 1987 em ordem
cronológica reversa, as coisas ficariam muito diferentes. Neste caso, usando as
mesmas suposições de poupança, o saldo final aumentaria para quase US $
980.000.
Por que as diferenças?
A sequência dos retornos importa. Os retornos reais do
S&P 500 apresentaram forte desempenho nos primeiros 10 anos, retornando
mais de 310% no total entre 1987 e 1996. Os últimos 10 anos foram decentes, mas
não tão fortes, retornando cerca de 95% no total.
Então, nós olhamos para três cenários aqui que todos têm os mesmos retornos exatos, mas levam a resultados diferentes. Aqui está o resumo:
(Nota: Um segredinho sobre juros compostos é que, a maioria
dos resultados, vem depois de construir uma base de capital maior.)
O inverso disso é o motivo pelo qual o fluxo de retornos
atrasados levou a um saldo muito maior — retornos iniciais fracos, uma vez que
a poupança foi menor, seguida por fortes retornos no final da cauda, quando
havia mais dinheiro para investir.
A sequência de retornos nos mercados é algo sobre o qual não
temos controle. Alguns investidores são abençoados com retornos fracos na fase
de acumulação e fortes retornos quando têm mais dinheiro, enquanto outros são
amaldiçoados com mercados de baixa brutal no início da aposentadoria ou
mercados que não vão a lugar nenhum quando se têm um saldo maior.
A sorte desempenha um papel maior no sucesso de investimento
do que a maioria imagina, uma vez que, cada um de nós tem apenas um ciclo de
vida em que as coisas acontecem. Não temos controle sobre a sequência de
retornos nos mercados, mas aqui estão algumas maneiras de gerenciar esse risco:
Seja flexível. A melhor parte das simulações é
que elas forçam você a ser disciplinado (é também por isso que eles são tão
difíceis de seguir em tempo real). A pior parte é que eles oferecem pouca
flexibilidade. Ser flexível em termos de gastos, poupança, no período de fluxos
de caixa e como você trata da euforia dos mercados de alta e a dor dos mercados
de baixa, pode fazer uma enorme diferença. Você sempre pode ajustar essas
alavancas dependendo de como o mundo real difere de suas projeções originais.
Uma taxa de poupança estável, taxa de saque ou alocação de ativos podem parecer
bons em uma planilha, mas provavelmente terão que ser ajustados com base na
forma como as coisas funcionam.
Seja conservador. A melhor maneira de dar a si
mesmo uma margem de segurança é definir expectativas realistas de retorno,
projeções de inflação e como você gasta e economiza seu dinheiro. Uma alta taxa
de poupança significa menos dólares para substituir quando você eventualmente
gastar em sua carteira. Altas expectativas de inflação lhe dão espaço para
erros em sua taxa de inflação pessoal. Não exagerar seus gastos quando os
retornos do mercado são altos pode ajudar a evitar ter que cortar quando eles
estão baixos.
Não se torne um vendedor forçado. Sequência de
risco de retorno pode ser dolorosa se você estiver no lado errado, mas torna-se
um duplo golpe se você acabar sendo um vendedor forçado de ações quando as
ações estão em baixa. Isso pode ser evitado através do projeto de portfólio,
diversificação e implantação inteligente de fluxos de caixa. Construir reservas
quando as coisas estão indo bem para sobreviver quando as coisas estão indo mal,
pode ajudar.
Gerencie a volatilidade. A volatilidade não é
igual ao risco ao investir, mas pode ser um imposto sobre seus resultados, se
você não lidar com isso corretamente. Reduzir a volatilidade do portfólio, em
pelo menos uma parte dele, é um movimento sábio para poder sobreviver a
quaisquer grandes interrupções nos mercados, na economia ou na sua vida
pessoal. Isso também inclui como você gerencia a volatilidade de suas emoções
quando os mercados estão indo excepcionais ou sendo massacrado.
Conheça seu lugar. Gerenciar riscos difere
dependendo de onde você está em seu ciclo de vida de investimento. Aqueles que
estão começando com pouco em poupança terão um perfil de risco e horizonte de
tempo completamente diferente daqueles na aposentadoria que precisam viver de
suas economias. Os saques da sua carteira são um animal totalmente diferente do
que construir um através de poupança periódica. O risco importa até certo ponto
quando se é jovem, mas não muito. O risco realmente importa quando
você não tem mais capital humano e está planejando viver de seus ganhos de
investimento para o resto de seus dias.
Acredito que as colocações são totalmente válidas para nós,
pois evidenciam os principais pontos na elaboração de um portfólio, do que, as especificidades
de um país. Achei também interessante as diversas simulações elaboradas com os
dados e como isso impacta o valor futuro acumulado. Nesse ponto, sugiro que
tenham muito cuidado ao observar os gráficos que os gestores de fundos
apresentam. Pensem que se fossem ruins, não te apresentariam. Da mesma forma
que o retorno exposto acima, é muito diferente dependendo de quando, ou como,
você acumulou seus recursos, o retorno que você obtém num fundo também depende
da data de entrada. Sugiro que peça o retorno em datas distintas (várias), e se
a rentabilidade for consistente (média anual descontada a inflação), passa pelo
teste. Na gestão de patrimônio, o diabo está nos detalhes.
No post cada-macaco-no-seu-galho, fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ... “A única observação que teria seria o fato de a volatilidade estar retornando a níveis mais normais. Desta forma, o objetivo a R$ 4,96 ou R$ 4,57 continua vigorando” ...
Pode ser que o movimento de queda se encerrou prematuramente, o forte movimento de alta observado na última sexta-feira, indica essa possibilidade.
- David, como assim! Você colocou um objetivo mínimo de
R$ 4,96. Acontece que nesse movimento de queda a mínima foi de R$ 5,2095. Não é
melhor você assumir que errou?
Antes de continuar com minhas observações vou responder a sua inquietude. Como sempre friso, a análise técnica trabalha com probabilidades, que por princípio nem sempre ocorre dentro do esperado. Nesse caso, pode ser que a queda ficou mais “curta”. Em todo caso, ainda não abandonei minhas projeções, apenas alertei para um movimento que ocorreu de forma diferente da esperada.
Como o gráfico acima aponta, o dólar pode seguir dois caminhos: em laranja indica que ainda é possível atingir os níveis indicados anteriormente, desde que, o dólar não ultrapasse R$ 5,6784 antes disso; ou já estamos no movimento de alta que levará o dólar rumo a novas máximas. Uma dica de curto prazo, passa a ser os seguintes níveis:
> R$ 5,50 – aumentam as chances de alta já.
< R$ 5,30 – aumentam as chances do movimento de queda em
curso.
Neste momento, negociando a R$ 5,40, está exatamente no meio
desse intervalo.
O resto, Let´s
the Market Speak!
O SP500 fechou a 3.281, com queda de 1,16%; o USDBRL a R$
5,3952, com alta de 0,16%; o EURUSD a € 1,1764, com queda de 0,60%; e o ouro
a U$ 1.912, com queda de 1,93%.
Fique ligado!
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