O diabo está nos detalhes

 

Eu acredito estarmos entrando numa fase histórica no Brasil. Depois de passar décadas com juros estratosféricos, entramos num ciclo onde vislumbro juros baixos. Essa situação é bastante nova e tem gerado desconfianças por parte do mercado, cada vez que, alguma ameaça hipotética coloca em risco essa situação. É preponderante que as condições que levaram a essa conjuntura sejam mantidas, ou seja, um controle sobre o déficit público.

Esse ano foi muito atípico, com o advento da Covid-19, o governo se viu obrigado a elevar significativamente o déficit. Passado o período mais crítico da pandemia, embora ainda mantenha resquícios importantes, está na hora de colocar a casa em dia.

Assistimos nos últimos dias, uma batalha dentro do governo, de como seguir daqui em diante, e é natural que um afrouxamento indesejável pode colocar tudo a perder. Porém, ainda mantenho um viés otimista. Vamos assumir sem custo, que iremos entrar nos trilhos.

Tenho insistido há um bom tempo, que os investidores precisam alterar seu portfolio de investimentos, saindo do conforto passado do CDI para ativos mais arrojados. Isso requer tempo e aprendizado, haja visto que, implica num aumento da incerteza de retorno.

Um lugar imediato para essa migração é a bolsa de valores, que hoje, diferente do passado, permite a compra de ações brasileiras ou internacionais, veja com seu assessor. Sendo assim, é valido observar o que ocorreu nesses mercados, que embora não se aplique de forma past copy, serve como ensinamento.

O estudo trazido hoje observa o retorno do SP500 nos últimos 30 anos, cujo rendimento foi de 10% a.a. Com esse ritmo, US $ 50 mil investidos no início de 1987 teriam crescido para quase US $ 875.000 até o final do ano passado.

Nada mau.

Além das ressalvas usuais — impostos, taxas, comportamento, diversificação etc. — o problema com esses tipos de simulações é que elas não são realistas. No mundo real, a maioria dos investidores não estão começando com uma soma de dinheiro que permanece por décadas. A maioria das pessoas economiza periodicamente ao longo do tempo e eventualmente tem que gastar seus dólares de investimento.

Outra variável que torna as coisas complicadas é o fato de que os mercados não são tão limpos e arrumados como uma planilha ou calculadora de aposentadoria.

Por exemplo, vamos supor que um investidor hipotético teria economizado US$ 5.000 por ano todos os anos de 1987 a 2016. Assumir um retorno consistente de 10% a cada ano nos daria um saldo final no final de 2016 de um pouco mais de US $ 830.000.

Mas os mercados não dão retornos consistentes ano após ano. Aqui estão os retornos anuais reais a cada ano para o S&P 500 neste tempo:

Usar os retornos reais, assumindo que os mesmos US $ 5.000 são investidos anualmente, renderia um saldo final de cerca de US $ 693.000.

Já que já estamos lidando com hipóteses aqui, vamos dar um passo adiante nesse exercício.

Se você invertesse a ordem desses retornos, tendo-o começando com os números de 2016 e terminando com os números de 1987 em ordem cronológica reversa, as coisas ficariam muito diferentes. Neste caso, usando as mesmas suposições de poupança, o saldo final aumentaria para quase US $ 980.000.

Por que as diferenças?

A sequência dos retornos importa. Os retornos reais do S&P 500 apresentaram forte desempenho nos primeiros 10 anos, retornando mais de 310% no total entre 1987 e 1996. Os últimos 10 anos foram decentes, mas não tão fortes, retornando cerca de 95% no total.

Então, nós olhamos para três cenários aqui que todos têm os mesmos retornos exatos, mas levam a resultados diferentes. Aqui está o resumo:

É por isso que o uso da sequência real dos retornos do S&P 500 levou ao menor saldo final. Ele teve retornos mais fortes no início, quando a quantidade economizada era relativamente pequena e retornos mais fracos no final, quando a quantidade economizada era muito maior.

(Nota: Um segredinho sobre juros compostos é que, a maioria dos resultados, vem depois de construir uma base de capital maior.)

O inverso disso é o motivo pelo qual o fluxo de retornos atrasados levou a um saldo muito maior — retornos iniciais fracos, uma vez que a poupança foi menor, seguida por fortes retornos no final da cauda, quando havia mais dinheiro para investir.

A sequência de retornos nos mercados é algo sobre o qual não temos controle. Alguns investidores são abençoados com retornos fracos na fase de acumulação e fortes retornos quando têm mais dinheiro, enquanto outros são amaldiçoados com mercados de baixa brutal no início da aposentadoria ou mercados que não vão a lugar nenhum quando se têm um saldo maior.

A sorte desempenha um papel maior no sucesso de investimento do que a maioria imagina, uma vez que, cada um de nós tem apenas um ciclo de vida em que as coisas acontecem. Não temos controle sobre a sequência de retornos nos mercados, mas aqui estão algumas maneiras de gerenciar esse risco:

Seja flexível. A melhor parte das simulações é que elas forçam você a ser disciplinado (é também por isso que eles são tão difíceis de seguir em tempo real). A pior parte é que eles oferecem pouca flexibilidade. Ser flexível em termos de gastos, poupança, no período de fluxos de caixa e como você trata da euforia dos mercados de alta e a dor dos mercados de baixa, pode fazer uma enorme diferença. Você sempre pode ajustar essas alavancas dependendo de como o mundo real difere de suas projeções originais. Uma taxa de poupança estável, taxa de saque ou alocação de ativos podem parecer bons em uma planilha, mas provavelmente terão que ser ajustados com base na forma como as coisas funcionam.

Seja conservador. A melhor maneira de dar a si mesmo uma margem de segurança é definir expectativas realistas de retorno, projeções de inflação e como você gasta e economiza seu dinheiro. Uma alta taxa de poupança significa menos dólares para substituir quando você eventualmente gastar em sua carteira. Altas expectativas de inflação lhe dão espaço para erros em sua taxa de inflação pessoal. Não exagerar seus gastos quando os retornos do mercado são altos pode ajudar a evitar ter que cortar quando eles estão baixos.

Não se torne um vendedor forçado. Sequência de risco de retorno pode ser dolorosa se você estiver no lado errado, mas torna-se um duplo golpe se você acabar sendo um vendedor forçado de ações quando as ações estão em baixa. Isso pode ser evitado através do projeto de portfólio, diversificação e implantação inteligente de fluxos de caixa. Construir reservas quando as coisas estão indo bem para sobreviver quando as coisas estão indo mal, pode ajudar.

Gerencie a volatilidade. A volatilidade não é igual ao risco ao investir, mas pode ser um imposto sobre seus resultados, se você não lidar com isso corretamente. Reduzir a volatilidade do portfólio, em pelo menos uma parte dele, é um movimento sábio para poder sobreviver a quaisquer grandes interrupções nos mercados, na economia ou na sua vida pessoal. Isso também inclui como você gerencia a volatilidade de suas emoções quando os mercados estão indo excepcionais ou sendo massacrado.

Conheça seu lugar. Gerenciar riscos difere dependendo de onde você está em seu ciclo de vida de investimento. Aqueles que estão começando com pouco em poupança terão um perfil de risco e horizonte de tempo completamente diferente daqueles na aposentadoria que precisam viver de suas economias. Os saques da sua carteira são um animal totalmente diferente do que construir um através de poupança periódica. O risco importa até certo ponto quando se é jovem, mas não muito. O risco realmente importa quando você não tem mais capital humano e está planejando viver de seus ganhos de investimento para o resto de seus dias.

Acredito que as colocações são totalmente válidas para nós, pois evidenciam os principais pontos na elaboração de um portfólio, do que, as especificidades de um país. Achei também interessante as diversas simulações elaboradas com os dados e como isso impacta o valor futuro acumulado. Nesse ponto, sugiro que tenham muito cuidado ao observar os gráficos que os gestores de fundos apresentam. Pensem que se fossem ruins, não te apresentariam. Da mesma forma que o retorno exposto acima, é muito diferente dependendo de quando, ou como, você acumulou seus recursos, o retorno que você obtém num fundo também depende da data de entrada. Sugiro que peça o retorno em datas distintas (várias), e se a rentabilidade for consistente (média anual descontada a inflação), passa pelo teste. Na gestão de patrimônio, o diabo está nos detalhes.

No post cada-macaco-no-seu-galho, fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ... “A única observação que teria seria o fato de a volatilidade estar retornando a níveis mais normais. Desta forma, o objetivo a R$ 4,96 ou R$ 4,57 continua vigorando” ...

Pode ser que o movimento de queda se encerrou prematuramente, o forte movimento de alta observado na última sexta-feira, indica essa possibilidade.

- David, como assim! Você colocou um objetivo mínimo de R$ 4,96. Acontece que nesse movimento de queda a mínima foi de R$ 5,2095. Não é melhor você assumir que errou?

Antes de continuar com minhas observações vou responder a sua inquietude. Como sempre friso, a análise técnica trabalha com probabilidades, que por princípio nem sempre ocorre dentro do esperado. Nesse caso, pode ser que a queda ficou mais “curta”. Em todo caso, ainda não abandonei minhas projeções, apenas alertei para um movimento que ocorreu de forma diferente da esperada.


Como o gráfico acima aponta, o dólar pode seguir dois caminhos: em laranja indica que ainda é possível atingir os níveis indicados anteriormente, desde que, o dólar não ultrapasse R$ 5,6784 antes disso; ou já estamos no movimento de alta que levará o dólar rumo a novas máximas. Uma dica de curto prazo, passa a ser os seguintes níveis:

> R$ 5,50 – aumentam as chances de alta já.

< R$ 5,30 – aumentam as chances do movimento de queda em curso.

Neste momento, negociando a R$ 5,40, está exatamente no meio desse intervalo.

O resto, Let´s the Market Speak!

O SP500 fechou a 3.281, com queda de 1,16%; o USDBRL a R$ 5,3952, com alta de 0,16%; o EURUSD a 1,1764, com queda de 0,60%; e o ouro a U$ 1.912, com queda de 1,93%.

Fique ligado!

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