É tudo papo? #usdbrl
A
tecnologia permitiu algo que era quase impossível no passado. Recordo nos anos
80 como um boato sobre bancos se propagava de forma difusa. Grandes bancos como
Safra, Unibanco, Nacional entre outros foram reféns desse risco. Eu imagino o
que teria acontecido nos dias de hoje nessas situações.
Para
levar um banco a pedir água basta uma proliferação de boatos, pois uma
instituição financeira empresta recursos em prazos longos com captações em
prazos mais curtos, o que se chama mismatch, além de serem alavancadas.
Eu
mesmo passei por um momento desses quando de uma curta passagem pelo banco BMC.
Em 1984 os bancos Auxliar, Comind e Masoinnave sofreream intervenção pelo Banco
Central. Quando isso ocorreu o BMC estava com uma situação muito confortável de
caixa. Mas conforme as notícias se espalhavam, um temor começou a tomar conta
dos investidores em relação aos bancos pequenos. Desta forma, começamos a
sofrer resgates. Nos primeiros dias fui recomprando os CDBs que solicitavam
liquidez a taxas de mercado, depois a taxas “salgadas” e mais a frente taxas
muito elevadas.
A
situação interna no banco estava ficando tensa, e o CEO me ligava fazendo
pressão como se eu fosse o culpado pelos saques, isso me aborreceu muito. Para
tentar resolver o problema de liquidez, uma vez que, o banco não tinha nenhum outro
problema, pedi à uma corretora para precificar a venda de um lote expressivo de
contratos de crédito. Recebi uma taxa elevada, porém resolvi vender para
regularizar o caixa, a sangria parou. Depois disso pedi demissão.
Essa
introdução é para colocar o assunto sobre narrativas e como elas podem fazer
com que a realidade seja distanciada. O artigo da Bloomberg por Barry Ritholtz
comenta sobre as principais que ocorrem hoje em dia.
Os
cineastas usam a frase "Narrativa é Tudo" para enfatizar a
importância da narrativa para seu ofício. Eles entendem como um bom enredo se
comunica com o espectador, os atrai e os faz torcer pelo protagonista. Sem uma
boa narrativa, mesmo os melhores elencos que habitam os personagens mais
maravilhosos correm o risco de não entreter. Grandes narrativas podem
aterrorizar você, aquecer seu coração ou compelir sua atenção.
Parece
que as narrativas têm tudo a ver com os mercados
nos dias de hoje, o que também está criando riscos para os investidores. Os
maiores e mais divisivos debates são sobre histórias e não fundamentos, desde a
utilidade das criptomoedas até sobre o atual aumento da inflação ser
transitório, e se as valorizações das ações são justificadas, ou se há muito
estímulo fiscal e monetário.
Isso
contrasta com a forma como as crenças sobre investimentos evoluíram. O
"paradigma narrativo" pode ser traçado a uma teoria da comunicação
conceituada pelo falecido Walter Fisher, professor emérito da Escola
de Comunicação e Jornalismo da USC Annenberg. Fisher observou
que a comunicação significativa ocorre
através da narrativa porque "as histórias são mais persuasivas do que
argumentos lógicos".
Considere
os seguintes exemplos de narrativas como os condutores de quase tudo nos
mercados de hoje:
Bitcoin: A moeda fiduciária foi
degradada por resgates do governo, grandeza do banco central e outras
intervenções mal aconselhadas! É uma casualidade que essa imprudência leve a
uma mudança maciça para a moeda digital. Compre Bitcoin e dirija Lamborghinis
ou fique com moeda fiduciária e tenha um pedação de papel inútil.
Escassez
de trabalhadores:
Generosos benefícios de desemprego estão impedindo que preguiçosos e ingratos
voltem ao trabalho! Contra narrativa: Muitas escolas ainda estão operando
remotamente e as creches estão difíceis de encontrar. Além disso, muitas
formações de negócios novos, e um número recorde de pessoas deixando seus
empregos, mostra que os trabalhadores não são preguiçosos, apenas evitando
empregos inflexíveis e de baixa remuneração.
Indexação
Passiva: É
difícil escolher ações vencedoras! Não só isso, é caro contratar as pessoas que
podem ser capazes de escolher ações vencedoras (e você só vai saber se tem
sucesso no futuro). Por que não comprar um índice barato das maiores ações, ou
de todo o mercado?
Inflação: Combine taxas de juros
ultrabaixas e grandes estímulos com demanda reprimida à medida que as vacinas
levam mais da economia à abertura. Esta história é a fórmula perfeita para o
aumento dos preços e as expectativas de inflação mais altas!
Valuation: Comprar ações abaixo de
seu valor intrínseco é uma boa maneira de ganhar dinheiro no longo prazo. Contra
narrativa: As medidas tradicionais de valor devem ser mais robustas do que
apenas as relações preço-venda ou preço-lucro; deve incluir taxa de crescimento
e intangíveis, como patentes, algoritmos e processos de negócios.
Meme
stocks:
O poder coletivo da internet pode viralizar! r/Wall Street Bets pode identificar
ações fortemente vendidas, e com a força de um grupo, comprar opções de exercício
fora do dinheiro, forçando um maciço short-squeeze. Poder para o povo!
A
ideia de memes como narrativa me levou a falar com o professor da Universidade
de Yale e ganhador do Nobel Robert Shiller para perguntar se "tudo é
narrativa" é um exagero. Ele também é autor de "Narrative
Economics: How Stories Go Viral and Drive Major Economic Events" Em uma troca de
e-mails, ele apontou que a narrativa é apenas metade dela:
"Uma
história se torna recente nos lábios de todos não porque é verdade, mas porque
sua taxa de contágio aumentou ou a taxa de recuperação diminuiu, assim como os
vírus podem causar uma nova propagação surpreendente por causa de uma mutação
sutil. As taxas de contágio de histórias são afetadas por coisas como
semelhança superficial com eventos recentes, conexões com celebridades e até
mesmo às vezes, por suas ultrajantes falsidades."
Portanto,
o poder inerente da narrativa é apenas parte do quadro. Grande parte da
influência da narrativa vem da virilidade de uma trama. Uma boa história pode
persuadi-lo, mas uma grande pode se tornar viral. O Bitcoin tornou-se um ativo
de trilhões de dólares não apenas devido à força da história por trás dela – o
mito da gênese de Satoshi, as aplicações tecnológicas do blockchain, a escassez
inerente de criptomoedas e as intervenções pós-crise financeira dos governos em
todo o mundo – mas também como essa narrativa ressoa com tantas facções
diferentes de investidores.
Mas
essas "falácias
narrativas"
representam um risco óbvio para os investidores. Quando acreditamos em uma
história convincente que temina por não ser verdade, podemos acabar detendo
ativos que valem muito menos do que a história sugeriu. Isso é especialmente
verdade na ação diária de preços do mercado, que pode ser "barulhento e irracional".
Shiller
acrescenta que os preços das ações são substancialmente impulsionados por
narrativas, mas com o tempo eles voltarão à realidade: "Tenho dito que a
teoria dos mercados eficientes é [pelo menos] meia verdade". Assim, as
narrativas virais podem ser os motores iniciais de maiores avaliações, mas
essas empresas devem, eventualmente, proporcionar crescimento de receita e
lucros.
Para
atualizar o que Benjamin Graham, o pai do investimento de valor, disse uma vez:
"No curto prazo, o mercado é uma máquina narrativa, mas a longo prazo, é
uma máquina narrativa desmascarada".
Então
é tudo papo? Esses ativos estão subindo por conta das narrativas? Não
necessariamente, nem todos, alguns podem se distanciar dos fundamentos outros
tem altas por conta de “histórias” bem difundidas.
Hoje
participei de um call do Banco Goldman Sachs que elaborou uma profunda pesquisa
sobre as criptomoedas. Como conclusão, não recomendam a alocação de qualquer
uma delas como uma classe de ativo a ser considerada, nem 1%!
Também,
veja a seguir uma comparação entre as maiores quedas segundo sua magnitude:
Bitcoin, ouro e o SP500.
No post semana-da-dupla, fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ...” Quanto menos avançar no níveis entre R$ 5,15/R$ 5,19 mais “forte” é o movimento de queda, apontando para quedas maiores a frente. Por outro lado, caso a correção se mostre mais persistente, eu defino o nível de R$ 5,25 para fecharmos a posição. Não quero dizer que, mesmo que o dólar suba até esse nível, ou mesmo acima dele, o movimento de queda foi abortado, apenas mais alongado” ...
O nível de R$ 5,00 é psicológico, é deve atrair muitos investidores a comprar, e mesmo outros que estavam vendidos, a zerar suas posições. A alta do dólar provocada na última sexta-feira e, função da queda das bolsas internacionais. Todavia, não foram suficientes para levar ao nível observado no post citado acima. A máxima ficou em R$ 5,1089. A queda de hoje, anuncia uma nova tentativa de romper o nível de R$ 5,00.
Nada se altera em relação as premissas
colocadas anteriormente. No gráfico com janela semanal acima, o nível inicial
de R$ 4,90 parece ser menos provável que o de R$ 4,60.
Acredito que, se e quando o nível de R$ 5,00
for rompido o dólar poderá experienciar quedas mais fortes. Agora só falta
combinar com ... Hummm com quem poderíamos combinar? Os corintianos atualmente
não querem saber de nada. Aliás, que horrível o jogo no domingo contra o Bahia.
Foi tão ruim, que nenhum dos dois merecia 0 X 0 – deveria ter um placar
especial para esse jogo perder 1 ponto cada um! Hahaha ...
O SP500 fechou a 4.224, com alta de 1,40%; o
USDBRL a R$ 5,0130, com queda de 1,5%; o EURUSD a € 1,1914,
com alta de 0,46%; e o ouro a U$ 1.783, com alta de 1,13%.
Fique ligado!
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