A ilusão de um bom negócio #Ibovespa
Esse post é principalmente para os leitores que operam no mercado financeiro em um banco ou outra instituição financeira cuja área de atuação são os mercados de risco. Para quem não atua, permite conhecer as entranhas dos hedge Funds.
Tenho certeza
de que em algum momento da sua carreira passou pela sua cabeça: vou abrir um
hedge Fund afinal estou gerando uma fortuna de lucro para o banco e tudo mérito
meu.
Passei por
esse momento no longínquo 1994, quando um dia andando por Nova York a trabalho
olhei a placa da Fidelity Investments e pensei: No Brasil não existe esse tipo
de empresa, por que não abrir uma? Naquele momento só existiam fundos de renda
fixa e poucos fundos de ações, esse segmento era dominado pelos grandes bancos
em função do seu acesso aos clientes através da sua rede de agências. Internet
ainda era um sonho.
Voltei de viagem e expus minha ideia a 3 profissionais de renome no mercado local: Ibrahim Eris (ex-presidente do banco central); Luis Paulo Rosenberg (ex-assessor do presidente da república e sócio principal de consultoria econômica de mesmo nome) e Emir Capez (ex-diretor da Planibanc Corretora quando trabalhávamos juntos). Fundamos a Linear Investimentos, a primeira gestora independente do Brasil com um capital inicial equivalente a U$ 500 mil. Tivemos que criar muita coisa do zero, principalmente os aspectos legais na criação dos fundos multimercados. Foi um sucesso por alguns anos, fomos a capa da Revista Exame — dizem que quando ocorre é o prenúncio do fim! E chegamos a U$ 1,0 bilhão administrado etc. até que a crise da Ásia nos pegou de jeito e frustrou no meio da negociação a venda para a Merril Lynch.
Considero que foi uma empreitada de sucesso, mas que não conseguiu continuidade mesmo estando em condições vantajosas de mercado, haja visto a baixa concorrência. Depois desse momento me convenci que ter um Hedge Fund, é condição necessária uma estrutura muito grande de colaboradores e mesmo assim com serias dúvida de ser bem-sucedido. Uma estatística aponta nesse sentido: em 5 anos 80% dos gestores fecham o seu fundo.
E como está
esse mercado hoje em dia? Marc Rubinstein que passou por uma experiência
semelhante, publicou em seu site Net Interest sua história e como se encontra
esse segmento.
Desde que
encerrei meu fundo de hedge há vários anos, muitas vezes me perguntam se cogito
retornar ao trabalho de investimento em tempo integral. É uma pergunta natural
e não estou sozinho a pensar nisso. O escritor Russell Clark fechou seu próprio fundo em 2021. Em
uma série de postagens publicadas em fevereiro, ele expressou
pouco apetite para voltar ao jogo.
A visão de
Russell é que o ambiente para o investimento fundamental em fundos de hedge não
é tão propício quanto antes. Ele olha para trás no tempo em que nós dois
começamos em nossas antigas empresas como uma era de ouro, difícil de replicar.
Era meado dos anos 2000 e o mercado em geral estava saindo de um período
prolongado de baixo desempenho após o crash das pontocom. Em contraste, os
fundos de hedge estavam indo bem. Os fundos de hedge de ações subiram cerca de
35% nos primeiros cinco anos da década, ao mesmo tempo em que o índice S&P
500 estava em queda.
Foi neste
contexto que o alocador de capital Ted Seides fez
uma aposta com Warren Buffett de que os fundos de hedge continuariam a superar
o desempenho nos próximos dez anos. Ted escolheu cinco fundos de fundos cujos
resultados deveriam ser calculados em média e comparados com o fundo de índice
Vanguard S&P, apoiado por Buffett. Os fundos de fundosTed possuíam
participações em mais de 200 fundos de hedge individuais, tornando suas
escolhas uma amostra bastante representativa do setor. O perdedor doaria US
$500.000 para uma instituição de caridade de escolha do vencedor. A aposta
começou em janeiro de 2008 e, no final do primeiro ano, Ted estava na
liderança, seus fundos caíram 24% em um ano, o índice caiu 38%.
A era de ouro
gerou muito mais fundos de hedge. Paralelamente ao nosso, foram lançados 696
novos fundos em 2004. No ano em que a aposta de Buffett começou, 933 fundos
foram lançados e, no ano seguinte, um recorde de 1.006 novos foram criados
quando gestores ambiciosos se afastaram dos fundos estabelecidos ou deixaram as
empresas de banco de investimento para tentar sua mão no negócio de fundos de
hedge.
Então os
fundos de hedge começaram a lutar contra o mercado. As escolhas de Ted não
conseguiram superar o fundo de índice de Buffett em nenhum dos nove anos
restantes da aposta. No final de 2017, seus fundos subiram apenas 38%, enquanto
o índice subiu 126%. Buffett atribuiu a divergência às taxas cobradas. Além das
taxas de incentivo — performance fee, os fundos de hedge extraíram uma taxa
fixa anual com uma média de 2,5% sobre os ativos. “O desempenho vem, o
desempenho vai. As taxas nunca vacilam”, concluiu.
Ted teve uma
visão diferente, culpando outros fatores, incluindo a diversificação global. Seus fundos
investiram globalmente e, ao longo do período, as ações internacionais tiveram
um desempenho massivamente inferior ao índice S&P 500 dos EUA. A “excelente
escolha de Buffett do S&P 500 para a aposta foi a principal razão pela qual
ele ganhou”, escreveu ele.
De qualquer
forma, os fundos de hedge começaram a parecer menos atraentes e o ritmo de
lançamentos de novos fundos diminuiu. No ano passado, houve apenas 166 novos
lançamentos, o menor número desde 1998. No entanto, refletindo uma ciclicidade
que muitas vezes é evidente nos mercados, 2022 acabou por ser um dos melhores
anos para os fundos de hedge em muito tempo. Os fundos de hedge de ações caíram
apenas 10% em um ano em que o índice S&P 500 caiu 20%.
Então, agora é
a hora de lançar um novo fundo?
O negócio dos fundos de hedge
A primeira
coisa que você precisa fazer como um novo fundo é levantar algum capital
inicial. Ter um benfeitor rico ajuda; na falta disso, pode ser um trabalho
árduo. Dan Loeb, da Third Point, um fundo de hedge com sede em Nova York focado
em investimentos orientados a eventos e a valor, com US $16 bilhões em ativos
sob gestão, descreve como ele passou seis meses no início da década
de 1990 dirigindo pelo país abrindo contas de poupança em empresas de poupança
e empréstimos que mais tarde se descontextualizaram, fornecendo o capital
inicial para seu fundo. Ele financiou os negócios com bônus que acumulou em seu
trabalho anterior de banco de investimento, complementado com empréstimos. 1
Loeb foi
lançado em 1995 com US$ 3,3 milhões. Hoje em dia, você precisa de mais.
De acordo com
um conjunto de estimativas que vi, um gerente de portfólio que queira se
estabelecer em Nova York hoje, com quatro analistas e dois funcionários em
operações e suporte, precisaria encontrar cerca de US $500.000 em custos
iniciais de configuração, bem como cerca de US $2,3 milhões por ano em encargos
recorrentes. Mesmo que algumas dessas despesas possam ser repassadas aos
investidores finais, ainda há uma grande base de custos para financiar. Supondo
uma taxa de administração tradicional de fundos de hedge de 2%, o ponto de
equilíbrio seria de cerca de US $100 milhões em ativos.
Em todo o
universo dos fundos de hedge, as taxas de administração agora são em média de
1,35%, de acordo com dados da Hedge Fund Research (HFR). Com uma taxa de
administração de 1,5%, o ponto de equilíbrio estaria mais próximo de US $125
milhões e em 1,0%, cerca de US $190 milhões. As taxas de incentivo também
caíram, de 20% para 16% até o final de 2022. Devido à deflação, "2-e-20” é
agora “1,35-e-16”.
Mas digamos que você consiga levantar os fundos e absorver a compressão da taxa. E agora? Bem, permanecer no jogo pode ser tão difícil quanto configurar. "A maioria das carreiras de gestão de fundos termina em fracasso", diz Paul Marshall.
O desafio é
que lidar com clientes pode prejudicar o negócio de investir. Muitas empresas
de sucesso empregam um parceiro para gerenciar o negócio e outro para gerenciar
o fundo, mas a demarcação nunca é tão clara, pois os clientes geralmente querem
falar com quem gerencia o dinheiro. Isso pode colocar uma pressão significativa
sobre o gestor do fundo.
Comentário meu:
Sobre esse ponto acredito ser muito relevante, várias vezes na Linear, em que a
performance não estava boa, ouvia frases do tipo:” logico que não era para
fazer essa posição, estava na cara que ia dar errado, darei uma dica porque não
compra X, vou resgatar todo meu dinheiro se a performance não subir no próximo
mês”, etc.
O gerente de
portfólio Dan McMurtrie, que lançou um fundo em 2015, explica (ênfase minha):
“Eu vi
70, 80, 90% dos [gerentes emergentes] falharem. Talvez dois, eu sei, tenham
falhado com a escolha de ações. Nunca é a escolha de ações. Eu ainda não vi uma situação em que eu
realmente acho que o cara acabou de escolher ações de merda.
“E você vê essas pessoas que são gênios se
tornarem neuróticas, pessoas sem função. E então, algo acontece e eles não
podem reagir a isso. Eles dobram a aposta e não deveriam, cometem erros
básicos. É como se alguém entrasse em uma luta de prêmios quando não dormiu por
seis semanas, não consegue segurar as mãos … Eles não são funcionais e
implodem. A maioria dos gestores
implode em vez de explodir. "
A questão é
que administrar um negócio é difícil, gerenciar o dinheiro de outras pessoas é
difícil, fazer as duas coisas é quadraticamente difícil.
Concordo com
todos os pontos colocados com Mark, são características dessa área que só quem
viveu conhece. Um segmento atrativo, certamente, mas muito difícil de
sobreviver.
Os leitores
podem estar intrigados de qual seria a real intenção do Mosca em
apresentar esse assunto. Aparentemente pode dar a impressão de que estou
me lamentando, porém, o intuito é outro, o de alertar que como investidor sua chance
de ser bem-sucedido também é baixa por princípio. Sob outro angulo essa classe
de ativo é muito interessante, pois na grande maioria não tem correlação com
nenhum mercado, o que do ponto de vista de diversificação é ideal. Como fazer?
Minha
recomendação é que se use o que se denomina de fundo de fundo, onde um gestor
escolhe alguns fundos de Hedge que compõem a carteira e faz mudanças conforme a
evolução deles. No mercado internacional existe a gestora Milenium que tem um
modelo nesse sentido com um bom track record. O que achei interessante neles é
que em períodos de 6 meses, caso um fundo não performe, iniciam um processo de
redução, ao mesmo tempo realocam em novos entrantes. Essa sistemática está de
acordo com um estudo acadêmico que elaborei onde durante um período de 10 anos
de história, uma carteira com 7 fundos somente ultrapassava o CDI se houvesse troca
de fundos num período máximo de 6 meses. Embora seja aqui no Brasil, acredito
que vale também para qualquer mercado, pois a ideia é que a performance de
hedge Funds não é perene, é boa por um período e normalmente piora depois.
No post http://acertarnamosé-util-previsao-de-longo-prazo fiz os seguintes comentários sobre o Ibovespa: ... “ Por enquanto estou traçando o objetivo de curto prazo que se encontra expresso acima através da sequência 1,2,3,4,5 que levaria a bolsa brasileira de volta aos 119 mil” ... ...” Mas por enquanto estou subindo o stop loss para o nível de entrada” ...
A queda que ocorre desde a semana passada colocou em risco a posição comprada, tudo indica que seremos estopados. Se isso ocorrer e a bolsa cair abaixo de 100,5 mil, retorno ao cenário anterior de queda que eu vinha seguindo. Isso ocorrendo levará o Mosca para sugerir venda, sem ficar vermelho e ter que dar muitas explicações, apenas que a alta não se confirmou.
Essa bolsa parece não ter jeito mesmo! Mesmo
assim o trabalho não será fácil, pois consigo observar diversos objetivos de
queda, razão pela qual tenho evitado sugerir trades.
Gostei da observação. Os motivos são
dois que de certa forma estão relacionados, vivemos um momento cujos gráficos
estão “indecisos” sem oferecer grande convicção. Esses são momentos de
correções. Mas você sabe que correções terminam dando origem a movimentos
direcionais.
Com essa premissa, estou buscando
identificar a mudança de tendência sugerindo trades cuja origem se dá em
janelas menores sem esperar completar as 5 ondas na janela diária, o que por
sua vez pode acarretar falsos sinais de alta. Essa é a tática usada, entradas
oportunísticas com stop loss curtos.
Para terminar, caso a bolsa brasileira
aponte para baixo, o trabalho de identificar o nível de queda será desafiador,
tenho mapeado pelo menos 3 com objetivos suficientemente distantes. Sem sofrer
por antecipação. Let the market speak!
O SP500 fechou a 4.154, sem alteração; o USDBRL a R$ 5,0820, com alta de 1,96% (uallll....); o EURUSD a € 1,0951, com queda de 0,16%; e o ouro a U$ 1.994, com queda de 0,51%.
Fique ligado!
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